Felipe Maruf Quintas
Felipe Maruf Quintas
Felipe Maruf Quintas é Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
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Pedro Augusto Pinho
Administrador aposentado, foi membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG) e Consultor das Nações Unidas (UN/DTCD).

Construção do Estado Nacional: da existência à consciência

no conjunto das “Monografias sobre a Educação de Base”, editou em Paris, em 1957, a pesquisa “O analfabetismo no mundo em meados do sécu

Publicado em 04/08/2021
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no conjunto das “Monografias sobre a Educação de Base”, editou em Paris, em 1957, a pesquisa “O analfabetismo no mundo em meados do século XX” (“L’analphabétisme dans le monde au milieu du XXe. siècle”). Neste trabalho nos informava que os adultos analfabetos correspondiam a 44% da população adulta existente à época.

Também ficava nítida a expressiva correlação entre a alfabetização, a urbanização e a industrialização. A industrialização enfatizava a “utilização crescente dos meios mecânicos e de energia não animal para (…) aumentar a eficácia na extração e transformação das riquezas naturais e (promover) a distribuição dos produtos assim obtidos”.

Recordemos o avanço científico e tecnológico da humanidade, que permitiria, quatro anos após esta publicação da Unesco, a viagem de Yuri Gagarin (1934–1968) ao espaço, em 12 de abril de 1961. De vivermos na era termonuclear, expressão de Darcy Ribeiro, e no mundo da informação, da cibernética.

A compreensão sistêmica é evidente. Nos conceitos que utilizamos nesta série, significa afirmar que a consciência, que passaremos a discorrer nos próximos artigos, está intimamente imbricada com a existência, ou melhor descrevendo, com as condições da existência.

No ambiente de enorme desigualdade, como se observa e vem sendo estudado, da sociedade brasileira, agir conjuntamente nos fatores determinantes da existência é condição para o sucesso da consciência. Especialmente no mais difícil entendimento: a consciência política que corre junto à consciência história.

O grande mestre, intérprete do Brasil, Milton Santos alertou: “Não importa que, diante da aceleração contemporânea, e graças ao tropel dos acontecimentos, o exercício de repensar tenha de ser heroico. Essa proibição do repouso, essa urgência, esse estado de alerta exigem da consciência um ânimo, uma disposição, uma força renovadora” (Milton Santos, A Natureza do Espaço, Hucitec, SP, 1996).

O doutor em planejamento urbano e diretor da ONG Fase, Orlando Alves dos Santos Junior (Práxis Educativa e Democracia Participativa: a experiência da Rede Observatório das Metrópoles, in Orlando A. dos Santos Junior, Tatiana Dahmer Pereira, Gert Peuckert e Lutz Brangsch, Cidade, Cultura e Democracia Participativa, Fase, Fundação Rosa Luxemburg, RJ, 2005) escreveu: “É cada vez mais generalizada a valorização do conhecimento no mundo contemporâneo, sobretudo num contexto globalizado em que a educação se torna imprescindível para integração social, política e econômica dos indivíduos na sociedade”. E: “Assumindo a impossibilidade da neutralidade científica, o que não implica negar a ciência ou o método científico, a produção de conhecimento a que nos referimos é aquela comprometida com os valores da democracia, da solidariedade e da justiça social.”

No nosso entendimento, reside nesta ótica apresentada por Santos Junior, ideológica globalizante, a falha em conseguir, no processo da construção da cidadania, o indivíduo politicamente formado, apto à participação eficaz e amadurecida, com a “disposição”, “ânimo” e “força” como nos “exige” Milton Santos.

Não se trata de maior ou menor conteúdo e compromisso “científico”, mas da plataforma de onde vemos o mundo. Na compreensão do pensador Milton Santos, as pessoas veem o mundo a partir de onde nasceram. “Nossa insistência sobre o papel da ideologia deriva da nossa convicção de que, diante dos mesmos materiais atualmente existentes, tanto é possível continuar a fazer do planeta um inferno, conforme no Brasil estamos assistindo, como também é viável realizar seu contrário” (Milton Santos, Por uma outra globalização, do pensamento único à consciência universal, Editora Record, RJ/SP, 2017, 27ª edição).

Democracia seria o comparecimento periódico às urnas para votar em candidatos pré-escolhidos por uma burocracia partidária ou pela corrupção das finanças? Solidariedade seriam as doações beneficentes episódicas, nas ocasiões de catástrofes ou preventivas para impedir agitação popular? E o que pode ser justiça, quando seus processos de obtenção não estão efetivamente à disposição de todos?

Existência e consciência nos levam à prioridade e à indispensabilidade da Questão Nacional, que também orientará a conquista e a manutenção da soberania.

Voltemos a Milton Santos, na última obra citada: “A globalização atual é perversa, fundada na tirania da informação e do dinheiro, na competitividade, na confusão dos espíritos e na violência estrutural, acarretando o desfalecimento da política feita pelo Estado e a imposição de uma política comandada pelas empresas.”

Ainda: “Crescentemente reunidas em cidades, cada vez mais numerosas e maiores, e experimentando a situação de vizinhança, essas pessoas não se subordinam de forma permanente à racionalidade hegemônica e, por isso, com frequência podem se entregar a manifestações que são a contraface do pragmatismo. Assim, junto à busca da sobrevivência, vemos produzir-se, na base da sociedade, um pragmatismo mesclado com a emoção, a partir dos lugares e das pessoas juntos. Esse é, também, um modo de insurreição em relação à globalização, com a descoberta de que, a despeito de sermos o que somos, podemos também desejar ser outra coisa”. “O papel do lugar é determinante. Ele não é apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, isto é, de experiência sempre renovada, o que permite, ao mesmo tempo, a reavaliação das heranças e a indagação sobre o presente e o futuro. A existência naquele espaço exerce um papel revelador sobre o mundo”.

Qual melhor reflexão que a do mestre Milton Santos sobre o que se apresenta aos nossos olhos com a rejeição da vacina contra o Covid-19, ou da falta de máscara protetora em ambientes fechados ou de aglomerações, como os exemplos do estrangeiro nos chegam como modelos ou imposições da verdade? Como também assistir indiferentes ou sem oposição a substituição da polícia do Estado pelas milícias particulares, o controle dos bens nacionais por capitais estrangeiros, muitas vezes originados de crimes como do tráfico de drogas e exportações de seres humanos para bordéis ou usos anormais de tarados estrangeiros?

Estamos em novo momento de crise montado pelo capital financeiro internacional, como já o fez nos anos 1970, com o petróleo, impeliu o mundo com as desregulações dos anos 1980, e impediu o ressuscitar da economia produtiva em 2008/2010.

Não estamos cuidando de uma invasão neopentecostal na ciência, pois a que mantém os privilégios, o controle da informação, a fabricação de armas de destruição de massa, inclusive as epidemiológicas, continuam a pleno vapor, e prosperando. Estamos apontando para a farsa de uma globalização que só tem valor, efetividade, para as finanças internacionais, como demonstram a necessidade de passaportes e os controles migratórios.

Estamos também tratando da transformação dos Estados Nacionais em agências favorecedoras de negócios e opressoras das populações pobres e revoltadas.

Para esta indispensável transformação precisou-se rever as condicionantes da existência, que exemplificativamente já tratamos, e, a partir de agora, propor análises, instituições e recursos possibilitando a formação da consciência.

Felipe Maruf Quintas é doutorando em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense.

Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.

Fonte: Monitor Mercantil

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