Eletrobrás: carta à Folha de S. Paulo

Não há dúvidas que muitas empresas públicas devam ser privatizadas. Mas a privatização de cada uma delas não pode ser analisada apenas do ponto de vista do capitalismo descompromissado com a independência soberana do país em questões estratégicas.

A Eletrobrás tem prestado um serviço estupendo ao país, não somente na geração e distribuição de energia, mas também no desenvolvimento do
conhecimento científico e tecnológico em sistemas elétricos de potência. Em especial, a imprensa defensora da privatização da Eletrobrás não informa que esta iniciativa levará ao fechamento do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Eletrobras Cepel), fundado em 1974, que tanto tem contribuído para nosso avanço nesta importante área. Para implantação de sistemas sustentáveis de produção de energia, solar e eólica,
necessitaremos de muito trabalho de pesquisa sobre redes inteligentes. 

E isto tem que ser desenvolvido de forma soberana e independente no país, ao invés de serem compradas soluções de grandes empresas internacionais. E essa capacidade, o CEPEL já demonstrou várias vezes possuir. Recomendo aos editores da Folha de São Paulo ler o livro do Professor A.J. Monticelli, Fluxo de Cargas em Redes Elétricas, publicado pelo CEPEL em 1983. O Professor Monticelli não só publicou livros sobre o assunto, como
desenvolveu métodos originais que nos trouxeram enorme reconhecimento internacional. É esse tipo de competência que será extinguida com a privatização da Eletrobrás!

Ricardo Galvão é formado em Engenharia de Telecomunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em Engenharia Elétrica pela Unicamp e doutor em Física de Plasmas Aplicada pelo Massachusetts Institute Of Tecnology (MIT). Foi presidente do INPE