
Um Réquiem para a Eletrobras
Deixou o nome honrado do passado pra cair na vida
Me contam que a Eletrobrás mudou de nome. Agora tem um desses nomes que as consultorias cobram uma grana preta pra criar e não significam coisa alguma.
Não mudou de nome para deixar pra trás o peso dos compromissos do passado estatal, mas pra aproveitar os descompromissados ganhos privados do presente.
Abandonou o peso dos compromissos pra assumir a leveza do não tô nem aí. E se a farinha é pouca, o meu pirão primeiro.
Deixou o nome honrado do passado pra cair na vida.
Melhor assim.
Dessa maneira não envergonha os homens e mulheres que ao longo de uma história honrada construíram uma empresa que trouxe energia e desenvolvimento para o país.
Dessa maneira mantem-se a reputação desses homens e mulheres. Não precisam se envergonhar pelo que se transformou a companhia.
Do motor de desenvolvimento a uma empresa de telemarketing que vende energia.
Da construção de novas centrais e linhas de transmissão ao uso intensivo daquilo que outros construíram.
Do compromisso com a construção da riqueza no futuro ao descompromisso da dilapidação da riqueza que veio do passado.
Da luta contra a escuridão ao desfrute dos ganhos advindos da escuridão precificada.
Do enfrentamento da escassez de energia que gera o atraso à locupletação da escassez de energia que gera valor.
A tigrada do mercado urra e se refastela.
É tosca.
Melhor assim.
Preserva-se a compostura do passado diante da descompostura do presente.
Preserva-se o respeito daqueles que se davam ao respeito diante daqueles que hoje vendem e alugam esse respeito.
Preserva-se a dignidade daqueles que pensavam o país diante daqueles que se locupletam com o país.
Preserva-se a coragem daqueles que sonhavam com o futuro diante daqueles que destroem esse futuro.
Então melhor assim.
O que está aí não tem nada a ver com a velha Eletrobras.
É um braço que nem um pedaço do meu pode ser.
É um nome vazio. Não tem passado. Não tem futuro.
É só mais uma tacada. Uma forma de espoliar o país e a sua gente.
Vão chupar até a última gota e jogar o bagaço fora.
Mas o país é maior do que isso. Nós somos maiores do que isso.
Essa mediocridade vai passar e a gente vai se reencontrar com a nossa história.
A Eletrobras morreu. Vida longa a Eletrobras.
(*) Diretor do Instituto Ilumina e Pesquisador do Instituto de Economia da UFRJ
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