
A Farsa da “Democracia” nos Conselhos de Administração: Participação dos Trabalhadores como Propaganda Capitalista
A “democracia” nos Conselhos de Administração é, hoje, um instrumento de dominação.
A participação dos trabalhadores em Conselhos de Administração (CA) de empresas, sejam estatais ou privadas, é frequentemente celebrada como um avanço democrático no mundo corporativo. No entanto, uma análise crítica revela que essa prática não passa de uma cortina de fumaça, uma encenação destinada a mascarar a dominação capitalista enquanto mantém intactas as estruturas de poder.
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Histórico: Da Luta de Classes à Cooptação
A ideia de incluir trabalhadores em CAs surgiu em contextos de intensa pressão social, como na Alemanha pós Segunda Guerra (modelo de co-determinação) ou em experiências socialistas que buscavam controle operário. No entanto, no capitalismo, essa participação foi esvaziada de conteúdo real. Tornou-se um mecanismo de pacificação, não de poder. Os capitalistas aceitam uma “voz” simbólica para evitar questionamentos mais profundos sobre a propriedade e a gestão dos meios de produção.
O Teatro da Participação Minoritária
Na prática, os representantes dos trabalhadores nos CAs são minoria, muitas vezes sem direito a voto ou com influência marginal. Suas opiniões são ouvidas apenas quando convenientes, enquanto as decisões estratégicas — terceirizações, demissões, fechamento de unidades — seguem nas mãos dos acionistas e executivos. A presença operária serve, assim, como legitimação: a empresa pode dizer que “escuta seus colaboradores”, enquanto ignora suas demandas quando estas conflitam com os lucros.
Por Que os Capitalistas Adoram Essa Farsa?
Marketing Corporativo: A imagem de “empresa democrática” é vendida ao público e aos governos como prova de responsabilidade social, abrindo portas para subsídios e parcerias.
Controle da Insatisfação: Ao dar uma ilusão de participação, reduz-se o risco de greves ou mobilizações mais radicais. O trabalhador acredita que pode mudar as coisas “por dentro”, desmobilizando a luta coletiva.
Legalização da Exploração: Em alguns países, a participação em CAs é exigida por lei (como na Alemanha). Cumprir essa formalidade permite que as empresas continuem explorando sem enfrentar questionamentos estruturais.
A Alternativa Real: Controle dos Trabalhadores
Se a participação nos CAs fosse genuína, os trabalhadores teriam poder de veto sobre demissões, dividendos abusivos ou investimentos predatórios. Mas o capital nunca permitirá isso. A verdadeira democracia no local de trabalho só existirá quando os trabalhadores controlarem os meios de produção — sem intermediários ou minorias decorativas.
Enquanto isso, os CAs com participação operária seguirão sendo um palco onde os capitalistas encenam sua “abertura ao diálogo”, enquanto seguem ditando as regras do jogo. Aos trabalhadores, resta perceber a farsa e organizar-se fora desses espaços de fachada.
Conclusão: A “democracia” nos Conselhos de Administração é, hoje, um instrumento de dominação. Transformá-la em algo real exigirá muito mais do que assentos simbólicos — exigirá a ruptura com a própria lógica do capital.
Felipe Coutinho, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
Dezembro de 2025
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