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Editorial: A administração privada de Meirelles

Recentemente, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu que a Petrobrás deveria ser administrada como empresa privada e assim poderia vir a ser privatizada no futuro.

Publicado em 05/03/2018
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Ressalvou que “tem que levar em conta as tradições do País”.
O ministro fez sua carreira no setor privado (Bank of Boston, por 28 anos, onde foi presidente; J & F, holding controladora da JBS, após ser presidente do Banco Central) e é considerado um dos principais porta-vozes do mercado financeiro.
O ministro sabe da importância do papel do Estado no desenvolvimento dos países, no apoio às indústrias locais, particularmente quando ainda são incipientes e necessitam de proteção para conseguir competir com grandes multinacionais estrangeiras. Nada diferente do que Reino Unido, EUA, Alemanha, Japão, Coréia e tantos outros fizeram nos seus processos de industrialização.
As empresas estatais foram criadas exatamente para promover o desenvolvimento de setores fundamentais para a economia, propiciando a criação de um sem número de empresas privadas no país. Foi assim com a Petrobrás, em 1953; Eletrobrás, 1962; Embrapa, 1973.
Normalmente estes segmentos se caracterizam por elevados investimentos, longo tempo de retorno, ou desinteresse do setor privado em desenvolvê-los.
Petrobrás
Na área de petróleo, se hoje temos grandes reservas de petróleo e o interesse mundial voltado para o pré-sal, é fruto do trabalho dos técnicos da Petrobrás, universidades e centros de pesquisas no país e exterior e de fabricantes de materiais e equipamentos.
As grandes petroleiras investem onde podem auferir maiores lucros, com o menor risco possível. O Brasil e o pré-sal estavam muito distantes desta escolha. Como não havia petróleo suficiente em terra, tivemos que nos lançar ao mar, em profundidades cada vez maiores, para as quais não havia tecnologia disponível. E só fomos, porque não havia alternativa e porque tínhamos uma empresa criada com este objetivo e competência para tal.
Gestão
Quanto à gestão, há empresas estatais e privadas bem e mal administradas, função do nível de competência de seus empregados e dirigentes. Para ficar apenas num exemplo, vejam a história da OGX, de Eike Batista, no setor petróleo. Levou técnicos e gerentes da Petrobrás, a peso de ouro, com informações privilegiadas da estatal (sem que isto causasse qualquer investigação, ou grandes discussões na mídia) e, por visão imediatista de lucro fácil de seu controlador, deu no que deu.
A J & F, é outro caso de favorecimento de empresa com recursos do Estado, financiando campanhas eleitorais e pagando altas remunerações a executivos. Pode-se acrescentar a Odebrecht, que, com recursos do BNDES, ações políticas e financiamentos de campanhas, montou um império na área petroquímica, comprando nafta da Petrobrás a preços favorecidos. Todas elas posaram de eficientes, agressivas e exemplos a serem seguidos. Hoje em dia, é difícil encontrar quem as defenda.

Defesa das estatais
As estatais devem ser protegidas de interferências externas nefastas, para alcançar seus objetivos e metas, através de contratos de gestão. Os governos são transitórios, mas as empresas são permanentes e devem ter nos seus postos de comando empregados treinados ao longo de suas carreiras profissionais, onde são identificados os melhores talentos para cada função.
Que sentido faz ter uma pessoa indicada por um partido político, mesmo que seja dos quadros da empresa, participar da gestão de uma estatal? Certamente não é para ajudá-la. O noticiário mostra que a intenção é buscar doações para partidos ou para fins pessoais.
A solução simplista, mas muito difundida, é de se vender o controle da empresa para preservá-la, propiciando a transferência de bens públicos para grandes bancos ou empresas nacionais e internacionais (algumas, até estatais), a preços aviltados. Interrompendo uma ação do Estado, geralmente quando a empresa já está em pleno funcionamento e com seus ativos amortizados.
É sempre bom lembrar que esta ação deletéria dos grupos políticos não poupam sequer hospitais e escolas para obter recursos escusos e as transformarem em currais eleitorais. O que dá uma ideia da dimensão do mal causado à população, mesmo para aqueles mais conformados.
O país necessita de uma reforma geral, a começar pela política, para colocar os homens públicos para trabalhar em favor da população, que lhes paga os salários e a quem deveriam prestar contas. Certamente não é transferindo seus investimentos em empresas públicas para as mãos de grandes bancos privados e multinacionais.

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