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Protecionismo em alta no comércio internacional

Novos tempos no comércio mundial: o Brasil entre China e EUA

Publicado em 26/02/2019
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O ano de 2018 foi marcado pela multiplicação de anúncios de medidas comerciais protecionistas no mundo. De acordo com a OMC, a abrangência das restrições comerciais passou de US$ 79 bilhões para US$ 588 bilhões entre out/2017 e out/2018. O alargamento das tensões comerciais pode ampliar o cenário de incerteza, arrefecer ainda mais o ritmo de crescimento do comércio internacional e prejudicar a recuperação econômica mundial nos próximos anos.

Em um momento em que o Brasil deve passar por uma nova rodada de abertura comercial, na esperança de se integrar mais à economia mundial, os ventos internacionais parecem estar mudando de direção: medidas protecionistas estão se tornando cada vez mais frequentes e os fluxos de comércio já não crescem no mesmo ritmo de antigamente.

Segundo levantamento da OMC, divulgado em novembro do ano passado, em seu “Overview of Developments in the International Trading Environment”, de outubro de 2017 até este mesmo mês de 2018, o número de novas medidas restritivas ao comércio internacional avançou 22% frente aos doze meses imediatamente anteriores, interrompendo uma fase de declínio que vinha acontecendo desde 2015.

A abrangência dessas restrições atingiu US$ 588 bilhões de fluxo de comércio, uma cifra 6 vezes maior do que um ano antes, e se concentraram em produtos de maior valor agregado e intensidade tecnológica. Já as medidas de facilitação de comércio neste período abrangeram um montante bem menor, de apenas US$ 296 bilhões.

No centro deste processo encontram-se EUA e China, cujas ações protecionistas envolveram US$ 340 bilhões em comércio, segundo avaliação da Unctad, em seu “Key Statistics and Trends in Trade Policy 2018” de jan/19, o que representa mais da metade dos fluxos bilaterais entre estes países em 2017 (US$ 640 bilhões).

As motivações para este comportamento, ao que parece, são multidimensionais e não devem ser desprezadas: EUA estão buscando proteger sua propriedade intelectual e procurando trazer de volta ao seu território elos industriais que ao longo das últimas décadas se deslocaram para o exterior. Também ambicionam assegurar sua liderança na indústria 4.0. As respostas de Pequim, por sua vez, sugerem a intenção da China em avançar no progresso industrial e tecnológico em direção a etapas mais sofisticadas da cadeia produtiva.

Em suma, EUA e China parecem travar um duelo pelo domínio dos sistemas produtivo, comercial e tecnológico internacionais. Por essa razão, é possível que as investidas protecionistas que vimos recentemente não sejam passageiras, estabelecendo uma nova etapa à globalização produtiva e comercial, na qual as maiores oportunidades para os países emergentes, como o Brasil, poderão ter ficado para trás.

Em parte, os efeitos dessa conjuntura internacional já podem ser sentidos. No curto prazo, os principais organismos multilaterais vêm repetidamente assinalando uma perda de dinamismo do comercio exterior.

De fato, depois de crescer +5,3% em 2017, o comércio de bens e serviços deve ter desacelerado para 4% em 2018, segundo as estimativas do FMI, ou para +3,8% de acordo com as projeções do Banco Mundial. A OMC, por sua vez, avalia que o avanço do comércio de mercadorias não tenha passado de +3,9% em 2018 ante +4,7% em 2017. Para 2019, o viés é de continuidade deste movimento. O Banco Mundial espera resultado de +3,6% e a OMC de +3,7%. O FMI, por ora, projeta o mesmo crescimento de +4% em 2019.

Apesar disso, nem todos os países sairão perdendo. A Unctad avalia que a União Europeia será a maior beneficiada pelos conflitos comerciais entre EUA e China, seguida pelo México, Japão e Canadá. O Brasil aparece como o 8º país com maior potencial de ganho. Calcula-se que as exportações brasileiras podem ter uma alta de US$ 10,5 bilhões, o que representaria um aumento de 3,8% em relação ao valor total exportado em 2017.

Os ganhos brasileiros poderiam claramente ser mais substanciais e efetivos se não sofrêssemos de males crônicos que deterioram nossa competitividade, a exemplo de nossa baixa produtividade industrial, sistema tributário oneroso, complexo e gerador de insegurança jurídica, infraestrutura deficiente, limitações de fontes de financiamento de mercado, entre outros, para os quais o IEDI vem chamando atenção há muito tempo e propondo caminhos para sua superação, sintetizados no documento “Indústria e o Brasil do Futuro”.

Embora alguns países possam lucrar individualmente no curto prazo com o cabo de guerra entre Washington e Pequim, os efeitos sistêmicos e de médio/longo prazo são mais incertos e potencialmente negativos, alerta o documento da Unctad.

Em um sistema produtivo caracterizado por cadeias globais, nas quais a produção e a montagem são fatiadas entre diversos países, a escalada protecionista pode contagiar cadeias inteiras, atingindo países e setores além dos alvos imediatos.

Este é mais um aspecto que vem tornar mais complexas as relações comerciais internacionais, que devem sofrer profundas transformações devido à revolução tecnológica em processo no mundo, como o IEDI já enfatizou em outras oportunidades, a exemplo da Cartas IEDI n. 903 “Tecnologias Digitais e Comércio Internacional: Oportunidades e Desafios” e n. 904 “Desafios da Era Digital: sugestões da Unctad para políticas em países emergentes” e da Análise de 17/01/18 “Indústria 4.0 e o Futuro das Cadeias Globais de Valor”.

Fonte: IEDI

Clique aqui para ler o estudo completo

 

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