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De volta ao café com leite

Em dois anos, participação da indústria no PIB poderá ser inferior a 10%

Publicado em 05/04/2019
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Entre as décadas de 1950 e 1980, o Brasil foi capaz de levar adiante um acelerado processo de industrialização. A parcela da indústria de transformação no valor adicionado total elevou-se de 16%, na década de 1950, para aproximadamente 27% do VA no início da década de 1980.

No entanto, estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (IEDI) mostra que o retrocesso na estrutura produtiva do país, iniciado ainda na década de 1980, segue avançando em ritmo forte. Somente no ano passado, a participação da indústria de transformação diminuiu quase 1 ponto percentual em relação a 2017, atingindo apenas 11,3% do valor adicionado (VA) total mensurado a preços básicos e correntes ou 9,7% do PIB geral (incluindo impostos). Este foi o menor percentual de toda a série histórica das Contas Nacionais do Brasil, iniciada em 1947.

O economista Paulo Morceiro, do NEREUS-USP, construiu uma série de longo prazo que ilustra esta evolução de declínio relativo da indústria brasileira, compatibilizando e ajustando as diferentes metodologias empregadas pelo IBGE ao longo do tempo.

Na primeira fase, que abrange a segunda metade da década de 1980 até 1998, a parcela da manufatura recuou de 27,3% para 13,8% na composição do valor adicionado do país. Na origem deste movimento estavam, nos anos 1980, os patamares elevadíssimos de inflação – retardando decisões de investimento –, e, na década de 1990, o processo brusco de abertura comercial e a sobrevalorização da taxa de câmbio, notadamente, após a implantação do Plano Real.

Além disso, durante esta primeira onda o Brasil praticamente abriu mão de adotar uma política industrial que promovesse a transição de um modelo de industrialização por substituição de importações por outro modelo mais aberto, integrado à economia internacional, que pudesse criar competências em cadeias de maior complexidade tecnológica. Assim, o país se distanciou ainda mais daqueles que ocupavam posições de vanguarda ao investirem pesadamente em ciência, tecnologia e inovação para consolidar a indústria 3.0.

Real "forte", indústria fraca

A segunda fase de intenso regresso industrial inicia-se em meados dos anos 2000 e se arrasta até o período atual, com perda de 6,5 p.p. na estrutura produtiva do país. O PIB da indústria de transformação saiu de 17,8% para 11,3% entre 2004 e 2018.

Na maior parte deste período, enfatiza Paulo Morceiro, a taxa de câmbio manteve-se em patamares de forte apreciação, comprometendo ainda mais a competitividade do produto nacional, que já sofria muito de outros custos sistêmicos, tais como a elevada e complexa estrutura tributária, gargalos de infraestrutura, baixo crescimento de produtividade, etc.

Segundo o autor, durante a segunda onda da chamada desindustrialização, um fenômeno qualificado como vazamento de demanda para o exterior manifestou-se no Brasil, isto é, as importações cresceram num ritmo mais intenso que a indústria de transformação doméstica, aumentando, consequentemente, o peso dos importados na demanda interna. Três momentos deste processo foram identificados por Paulo Morceiro:

•De 2005 até 2014 as importações aumentaram simultaneamente com a redução da parcela da indústria de transformação no valor adicionado (VA) total, evidência de elevada correlação entre vazamento de demanda e retrocesso do setor.

•Entre 2015 e 2016 as importações diminuíram, em função da recessão econômica do país, e a parcela da manufatura no VA se estabilizou, já que a crise afetou tanto a indústria como o PIB total.

•Em 2017 e, principalmente, em 2018, o retrocesso se aprofundou e houve aumento substantivo das importações.

Segundo o IBGE, o setor externo contribuiu negativamente com meio ponto percentual do PIB em 2018, pois as importações (+8,5%) avançaram num ritmo duas vezes maior que as exportações (+4,1%). As maiores altas nas importações ocorreram em refino de petróleo, materiais eletrônicos e equipamentos de comunicação, e vestuário.

Nesse ritmo, a indústria brasileira caminhará para um percentual do PIB inferior a dois dígitos, algo que pode acontecer dentro dos próximos dois anos, se as tendências em curso de retrocesso industrial e de vazamento de demanda para o exterior continuarem.

Clique aqui para ler o estudo na íntegra

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