A eleição que Musk acompanhou
Disputa em uma pequena cidade no Vale do Jequitinhonha foi desequilibrada por bilionários
São Paulo? Que nada! Enquanto todos nós olhávamos para o resultado das eleições municipais nas capitais brasileiras, interesses bilionários estavam mobilizados para acompanhar o pleito na pequena cidade de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
O município de 34 mil habitantes é a capital do chamado “Vale do Lítio”, onde estão as maiores reservas de lítio do país. O mineral, chamado de "petróleo branco", é essencial para a fabricação de baterias de carros elétricos e muito valorizado na corrida global pela transição energética.
Em Araçuaí, a população reconduziu ao cargo de prefeito Tadeu, do PSD, com quase 70% dos votos. E a origem dos recursos que deram tração à campanha dele é simbólica: Uma doação de R$ 150 mil vinda de Rubens Ometto, dono da Cosan, indústria de açúcar, etanol e energia.
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A contribuição de Ometto representou nada menos que 80% do valor arrecadado pela campanha de Tadeu, e quase o triplo do que arrecadou a candidatura da oposição, do PT. Uma pessoa envolvida no pleito me disse o seguinte: “Estava equilibrado. Até essa fortuna pintar aqui”.
A doação não veio do nada. Ometto vem diversificando sua fortuna para o setor de mineração. Em 2022, por exemplo, ele surpreendeu ao adquirir 4,1% da Vale, gigante do minério de ferro que fornece lítio à Tesla – sim, a empresa do bilionário sul-africano Elon Musk.
Além de Ometto, Araçuaí também é central nos planos de outro bilionário: O governador mineiro Romeu Zema, do partido Novo, que foi aos Estados Unidos no ano passado lançar internacionalmente o projeto do Vale do Lítio, a “galinha dos ovos de ouro” de sua gestão.
Não à toa, outro fator é apontado por adversários como fundamental para a arrancada de Tadeu para a vitória eleitoral em Araçuaí: a visita de um secretário de Zema às vésperas do pleito prometendo a construção de um aeroporto na cidade.
Fato é que, na contramão de países como Chile, Bolívia e México, que estão estatizando a extração de lítio, Zema tem se esbaldado com as possibilidades de um decreto do ex-presidente Jair Bolsonaro que autorizou a participação de empresas estrangeiras na extração do lítio.
O governador simplesmente vendeu as ações do Estado de Minas Gerais na Companhia Brasileira de Lítio, que atua na exploração do lítio em Araçuaí desde 1991. E, com a bênção de Zema, a empresa canadense Sigma também começou as operações no mesmo território.
A Sigma, por sinal, já foi alvo de tentativas de compra por parte de duas das maiores empresas globais: a chinesa BYD e a Tesla. Por isso, não tenho medo de soar exagerado: Araçuaí não viveu só uma eleição, mas uma batalha estratégica que pode moldar o futuro do Brasil e do mundo.
* Paulo Motoryn é jornalista em Brasília (DF)
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