A uberização da Engenharia
A tragédia de Brumadinho e sua gigantesca dimensão humana oferecem aos brasileiros uma nova e recorrente oportunidade de reflexão sobre a enge
A tragédia de Brumadinho e sua gigantesca dimensão humana oferecem aos brasileiros uma nova e recorrente oportunidade de reflexão sobre a engenharia nacional, cujo cenário, farto de exemplos desabonadores, se consolida mais do que nunca como caótico.
Enquanto a técnica e a reputação dos profissionais flutuam pelos soluços do sobe e desce dos ciclos de desenvolvimento, viadutos caem, barragens se explodem, boates incendeiam-se, obras não acabam e o dinheiro público escorre literalmente pelo ladrão. Enquanto isso, percebemos que na formalização e no controle dos contratos prevalecem critérios jurídicos e financeiros em detrimento do conhecimento e da responsabilidade técnica inerente à profissão de engenheiro.
Sem reação efetiva, assistimos de camarote à ambiciosa política de investimentos na formação e na qualificação de verdadeiros exércitos de engenheiros levadas a efeito por China, Rússia e Índia, nossos concorrentes diretos nos mercados internacionais.
Entre outros graves prejuízos, as oscilações da taxa de crescimento da economia em nosso país impedem a indispensável interconexão entre as gerações de profissionais, gerando perdas irreparáveis tanto na transferência de conhecimento quanto na capacidade de absorção de tecnologias, na atualização dos currículos das universidades e no indispensável diálogo entre a academia e os setores produtivos.
No Brasil de hoje, percebemos novamente a ocorrência de fenômenos verificados nas décadas de 1980 e 1990, quando milhares de jovens engenheiros não encontravam espaço profissional e buscavam trabalho e sustento nos bancos, em atividades comerciais, nas vans de cachorro-quente, entre outras. Passe a perguntar ao seu motorista de aplicativo qual a sua formação acadêmica e entenderá melhor tudo isso.
Ao mesmo tempo, a indústria nacional definha, a Petrobras é esquartejada, a Embraer é liquidada, o conhecimento e as tecnologias desenvolvidas no país com enormes sacrifícios por engenheiros de sucessivas gerações são entregues em troca de migalhas aos interesses globais.
O Brasil e a engenharia brasileira precisam reagir. Políticas de desenvolvimento só terão resultado se a engenharia ocupar com propriedade seu espaço como protagonista e não como elemento acessório como vemos prevalecer nestes tempos de desastres, corrupção, incompetência e, acima de tudo, de perdas de centenas de vidas humanas.
Alexandre Wollmann é presidente do Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul
Fonte: Zero Hora
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