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Gustavo Gindre

Adeus Embraer. Adeus cadeia produtiva

A Embraer tem cinco divisões: comercial, executiva (jatinhos), defesa, agrícola e equipamentos. Nos últimos anos a aviação comercial

Publicado em 18/12/2018
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A Embraer tem cinco divisões: comercial, executiva (jatinhos), defesa, agrícola e equipamentos.

Nos últimos anos a aviação comercial se tornou o carro chefe da empresa. A Embraer ocupa um lugar de destaque na aviação regional com seus aviões de um corredor.

Mas a empresa (como eu já escrevi aqui antes) tem enorme desafio pela frente. Primeiro, com a compra da divisão de aviação comercial da Bombardier pela Airbus. Segundo, com a chegada de novos concorrentes na aviação regional, como a japonesa Mitsubishi e o chinês Comac.

Mas qual foi a solução encontrada? Vender, claro.

A Embraer fechou duas parcerias com a Boeing. Venderá 80% de sua divisão comercial (com acordo para venda dos 20% restantes no futuro) e 49% de sua divisão de defesa.

As duas operações já contam com o aval das forças armadas (que possuem poder de veto para troca de controle da empresa) e do futuro presidente, Bolsonaro. Todos, obviamente, grandes nacionalistas...

Essa venda tem três problemas graves.

Quando falamos de Embraer não estamos nos referindo apenas à empresa em si, mas a um cinturão de pequenas e médias empresas nacionais que desenvolvem um conjunto amplo de tecnologias e empregam mão de obra especializada no país.

Esse filme nós já vimos quando da privatização da Telebrás. Uma série de empresas que desenvolviam tecnologias em áreas estratégicas como fotônica (fibras ópticas) e comutação digital foram fechadas porque as teles estrangeiras já possuíam seus fornecedores globais. De uma hora para outra determinadas profissões deixaram de ser exercidas no Brasil e os pesquisadores ou ficaram desempregados ou emigraram para trabalhar em transnacionais.

O mesmo ocorrerá agora com as mais de 70 empresas nacionais que fornecem para a Embraer. O mais estapafúrdio dessa história é que parte importante desses empresários apoia a fusão porque sonham em se tornar fornecedores da Boeing, "desde que haja apoio do governo federal". E é aí que a porca vai torcer o rabo, o que é óbvio para quem conhece nossa política industrial e de C&T. Por enquanto tudo promessas. Depois que a Boeing assumir o controle, bye bye. Mas o empresário brasileiro não consegue resistir a seu papel subordinado. É algo mais forte do que a razão.

Outra questão importante é a própria sobrevivência da Embraer sem a.sua divisão comercial e metade da divisão de defesa. A empresa se tornará muito menor, mais frágil e menos relevante.

Por fim, a terceira questão diz respeito à transferência de tecnologia militar, desenvolvida com financiamento público brasileiro, para uma empresa norte-americana. De quebra vai o cargueiro KC-390 justamente no momento em que, aprovado nos testes, ele está pronto para ser vendido no mercado internacional.

Aqui vale ressaltar que o oposto jamais ocorreria. De forma alguma os Estados Unidos deixariam um de seus principais fornecedores para as forças armadas ser vendido ao capital estrangeiro. Os liberais de lá não são, afinal de contas, tão liberais assim.

Para a Boeing trata-se de um baita negócio. Por apenas US$ 4,2 bilhões ela passará a ser dona da empresa que mais vende jatos regionais no mundo. Sem precisar gastar em desenvolvimento, pesquisa, marketing, vendas... nada. Tá tudo pronto para assumir e faturar.

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