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Marco Moraes

Exploração de petróleo na Foz do Amazonas: um debate equivocado?

A questão central: que país queremos ser?

Publicado em 28/03/2025
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A Petrobrás anunciou a intenção de retomar a exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, reabrindo um debate que desperta temores ambientais e expectativas econômicas. De um lado, ambientalistas alertam para o risco de desastres; do outro, governo e indústria asseguram que os impactos são mínimos. No entanto, essa discussão precisa se basear em dados técnicos e científicos, e não em narrativas polarizadas.

A Floresta Amazônica está ameaçada?

Não. A área de exploração está situada no mar, a mais de 170 km da costa do Amapá e a cerca de 500 km da Foz do Amazonas. Associar a perfuração de poços offshore à destruição da Floresta Amazônica é um equívoco. A Petrobras, inclusive, já opera na Amazônia sem grandes incidentes há décadas, e seu histórico de segurança na perfuração marítima é consideravelmente sólido.

Existe um grande recife de corais na região?

Há desinformação de ambos os lados. A margem continental abriga rochas de recifes antigos, compostas por algas calcárias que não estão mais vivas. No entanto, sobre essas formações geológicas existe um ecossistema delgado, mas biodiverso, que inclui corais e espécies de transição entre o Caribe e o Brasil.

Esse ambiente tem importância biológica e econômica, pois abriga peixes comerciais, como pargos e corvinas. Embora um vazamento de petróleo possa afetá-lo, os riscos são relativamente baixos, já que o petróleo tende a flutuar, não se acumulando no fundo marinho.

O verdadeiro risco: os manguezais

Os maiores impactos potenciais não estão no fundo do mar, mas na costa brasileira, especialmente nos manguezais, que são ecossistemas de enorme valor ambiental e econômico.

Os manguezais funcionam como berçários naturais, abrigando peixes, crustáceos e moluscos essenciais para a pesca. Além disso, desempenham um papel fundamental na proteção costeira, prevenindo a erosão, filtrando poluentes e absorvendo impactos climáticos.

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Caso a província petrolífera da Foz do Amazonas seja viável, o transporte do petróleo por navios, dutos e terminais terrestres elevará os riscos ambientais na região dos manguezais. Um vazamento nesses locais seria catastrófico, tanto ecologicamente quanto economicamente.

Segurança energética e viabilidade econômica

A Petrobras justifica a exploração alegando que o Brasil precisa repor suas reservas de petróleo, mas o país já possui 28 bilhões de barris disponíveis, garantindo abastecimento por pelo menos 20 anos. Além disso, muitos campos do Pré-Sal ainda estão no início da produção, sem contar que suas capacidades podem ser ampliadas.

O entusiasmo econômico também merece cautela. Experiências passadas mostram que cidades beneficiadas por royalties do petróleo cresceram menos do que o esperado em termos de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e outros indicadores sociais. Esse fenômeno, conhecido como “maldição do petróleo”, reforça a necessidade de avaliar se mais petróleo significa, de fato, mais progresso.

A questão central: que país queremos ser?

A exploração da Foz do Amazonas levanta uma questão mais profunda: qual caminho o Brasil quer seguir? Seguiremos dependentes da exportação de commodities e combustíveis fósseis ou investiremos em uma economia moderna, diversificada e sustentável?

Com a COP 30 se aproximando, essa é a pergunta que realmente importa.

Marco Moraes é geólogo e escritor

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