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M. K. Bhadrakumar

Expulsão de diplomatas russos anuncia tempos perturbados

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Publicado em 03/04/2018
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A expulsão em massa de diplomatas russos por alguns países da União Europeia e América do Norte na segunda-feira é um desenvolvimento sem precedentes e intrigante. Em primeiro lugar, os EUA sozinhos representam cerca de dois terços das expulsões – 60 diplomatas. Curiosamente, mesmo a Grã-Bretanha, a qual aparentemente é a parte agravada no caso Skripal, expulsou menos da metade desse número – 23. Em termos amplos, entretanto, isto é um movimento anglo-americano com o qual um certo número de países da UE e Canadá manifestou solidariedade.

Em segundo lugar, o presidente Trump é aparentemente mais leal a Sua Majestade no Buckingham Palace do que à primeira-ministra Theresa May. Isto dá um contorno intrigante à narrativa. Por que é que há um interesse tão excessivo por parte de Washington, especialmente num momento em que o fervor da ligação anglo-americana esmoreceu significativamente na era Trump? (O presidente Trump ainda está para visitar o Reino Unido.)

Será uma táctica diversionista maciça da Casa Branca depois de a atriz porno Stormy Daniels ter tirado as cuecas de Trump na sua entrevista à TV no programa "60 minutos" ? Ou é ainda uma outra tentativa de Trump para alardear que não é "mole" com a Rússia? Ou será o Estado Profundo em acção – como o encerramento do consulado russo em Seattle pode bem sugerir? Não há respostas fáceis.

Em terceiro lugar, só menos da metade dos 28 países membros da UE manifestaram apoio à campanha anglo-americana cerca do incidente do espião. Há muita relutância ou cepticismo dentro da UE acerca do que está em curso. Surpreendentemente, contudo, a Alemanha, a qual exprimira ceticismo numa etapa inicial, agora juntou-se ao bando. O que provavelmente mostra que houve imensa pressão de Washington e Londres.

No entanto, curiosamente, a generalidade dos países da UE fizeram apenas expulsões "simbólicas". Sete países da UE simplesmente mexeram-se para expulsar um diplomata russo cada um. Dito isso, a campanha pressão continua e a probabilidade de mais países da UE aderirem à expulsão não pode ser descartada. A Áustria recusou-se sem rodeios a aderir. (Assim o fez a Turquia, a qual virtualmente descartou uma posição da NATO, a qual exige apoio unânime de todos os países membros.)

O que é verdadeiramente extraordinário é que as circunstâncias que cercam o alegado envenenamento de um agente duplo do MI6 de extracção russa ainda estão envoltas em mistério. O líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbun, acautelou abertamente contra um julgamento apressado em artigo no jornal Guardian, aqui . A propósito, mesmo a primeira-ministra May afirma apenas ser "altamente provável" que houvesse envolvimento russo (não excluindo outros patifes.) Contudo, um princípio fundamental na jurisprudência anglo-saxónica é de ninguém ser considerado culpado a menos que a culpa seja provada.

Na verdade, é possível um conjunto de explicações do que realmente pode ter acontecido em Salisbury. Ler uma análise excelente do respeitado académico britânico Richard Sakwa, professor de política russa e europeia na Universidade de Kent e investigador associado da Chatham House, intitulado The Skripal Affair, aqui .

Mesmo na América, há vozes de cepticismo. Um arrojado colunista formulou 30 perguntas que exigem resposta. (Ver a coluna de Bob Slane apresentada no sítio web do Ron Paul Institute for Peace and Prosperity, intitulada 30 perguntas que jornalistas deveriam fazer acerca do caso Skripal .)

Na minha opinião, toda esta controvérsia projecta-se como um teste decisivo da parceria euro-atlântica – em particular, da liderança transatlântica dos EUA – num momento de definição em que a Grã-Bretanha está a abandonar a condição de membro da UE. Isto por um lado. Mas, o mais importante, será que anuncia a construção de algo muito mais sinistro do que se poderia antecipar? Uma passagem particular do ensaio do Prof. Sakwa constitui um recordatório gélido do que pode estar a gestar o útero do tempo:

"A única questão é se a confrontação se dissipará, como aconteceu em relação a Agadir em 1911, ou se isto é a crise em câmara lenta de Sarajevo que poderia explodir em chamas em algum momento posterior... Será isto um outro caso do afundamento do Maine em 1898, onde a histeria pública subsequente provocou a guerra contra a Espanha só para se descobrir posteriormente que os paióis de munição do navio haviam explodido acidentalmente; ou um incidente do Golfo de Tonquim em 1964, o qual foi também uma operação de falsa bandeira mas provocou a escalada da Guerra do Vietname. O ocidente pode estar a "unir-se" contra a Rússia, como disse The Times em 16 de Março, mas para que propósito?".

27/Março/2018
M K Bhadrakumar é Diplomata e analista político, indiano.

Fonte: Resistir.info

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