Patrimônio do povo brasileiro

e uma empresa que desenvolveu tecnologias únicas para prospectá–lo; especialmente em águas profundas e no Pré–sal. A Petrobrás é um patrimônio do povo brasileiro que deve ser preservado a todo custo; mas, infelizmente, está sendo dilacera-do e vendido — aos pedaços — a preços ridiculamente mais baixos do que ele realmente vale. O que estão fazendo com a Petrobrás é um crime de lesa–pátria, contra o qual estamos lutando e denunciando.

Em todo o planeta, se usam duas alternativas para enfrentar o desafio mundial do petróleo: ou é o cartel das sete irmãs ou são as estatais. Nenhum país do mundo com as riquezas semelhantes às nossas nessa área, entrega seu patrimônio ao capital internacional.

Ainda assim, após muita discussão, foi criada a Lei da Partilha, que é muito moderada: preserva 30% para o futuro de nossas crianças; e permite que 70% seja entregue para multinacionais. No entanto, durante o governo de Michel Temer, esta lei foi revogada e iniciou–se a venda de campos de petróleo; o que permanecem ocorrendo durante o governo Bolsonaro. Como exemplo, salta aos olhos a venda do campo de Carcará, comprado por uma estatal da Noruega, em que o preço do barril de petróleo saiu por menos de três dólares.

Mas mais do que o que se pode arrecadar com a venda do petróleo bruto, o complexo industrial do óleo e gás, é de uma riqueza incalculável. Diversos insumos, como polímeros e novos materiais, têm como origem o petróleo e podem gerar uma indústria 4.0 — a chamada quarta geração industrial — no Brasil de altíssimo valor agregado, que nos faria criar empregos e desenvolver uma ciência importantíssima para competir no mercado global.

Ainda em um ambiente menos elaborado, o beneficiamento do petróleo — gerando entre outros, o óleo diesel e a gasolina — é o caminho natural de quem tem reservas petrolíferas como as nossas. No entanto, inacreditavelmente, nossos governantes sempre negligenciaram isto. O resultado é que hoje exportamos petróleo bruto barato e importamos gasolina cara, gerando passivo externo em dólar. Para piorar, o governo estuda vender as poucas refinarias que temos.

A tragédia se completa na forma como a política de preços da Petrobrás foi desenhada. A Petrobrás cobra no Brasil não quanto custa produzir o barril de petróleo, mas quanto valeria vendido em Rotterdam, no mercado especulativo.

Estamos importando mais de 206 milhões em barris de gasolina e óleo diesel. Ou seja, passamos a importar do estrangeiro, pagando em dólar, um terço de todos os derivados de petróleo que usamos no Brasil. Mais do que isto: ficamos à mercê da variação do câmbio, fazendo com que nossa gasolina, o gás de cozinha e o óleo diesel sofram variações quase que diárias. Esta situação gerou a greve de caminhoneiros, em 2018. Isso tudo para beneficiar acionistas minoritários, em detrimento do conjunto da sociedade brasileira.

A resposta clara para esta questão é que a política de preços da Petrobrás deveria ser o custo de produção, mais a rentabilidade que ela precisa ter para amortizar capital, pagar suas dívidas e reinvestir; além de um lucro em linha com os competidores internacionais.
Por todas estas razões, a luta em defesa da Petrobrás é cada vez mais necessária. O povo brasileiro precisa compreender que esta luta é em defesa do futuro do país que queremos deixar para nossos filhos e filhas, netos e netas.

Ciro Gomes é vice-presidente nacional do PDT

Publicado em Legados Trabalhistas