Sun Tzu em Teerã
disse ontem num briefing que o ataque "foi o ponto de partida de uma grande operação ". Ele também sublinhou que "os ataques não se destinava
disse ontem num briefing que o ataque "foi o ponto de partida de uma grande operação ". Ele também sublinhou que "os ataques não se destinavam a causar fatalidades: pretendíamos [ao invés] assestar um golpe na máquina militar do inimigo". E o Pentágono está a dizer, também, que o Irã intencionalmente evitou as tropas americanas nas bases. Isso equivale ao Pentágono admitir que o Irã pode lançar mísseis com extrema precisão a uma distância de várias centenas de quilómetros – além disso, isto ocorreu sem que qualquer míssil tivesse sido interceptado pelas forças dos EUA. Evitar totalmente alvejar soldados numa grande base militar não é tarefa fácil – sugere uma precisão de um metro ou dois – e não dez metros – para os mísseis iranianos.
Não é esta a questão? Isto sugere que avanços nos sistemas de orientação do Irã permitem lançar mísseis com extrema precisão . Não vimos algo semelhante acontecer recentemente na Arábia Saudita (Abqaiq)? E não estava claro a partir de Abqaiq que os extremamente caros sistemas de defesa aérea dos EUA não funcionam? O IRGC demonstrou satisfatoriamente que eles e seus aliados podem penetrar nos sistemas de defesa aérea fabricados nos EUA, utilizando mísseis "inteligentes" produzidos internamente e através do uso dos seus sistemas de guerra electrónica.
As bases dos EUA na região – em resumo – agora representam infraestrutura vulnerável dos EUA – e não força. O mesmo vale para aquelas dispendiosas frotas de porta-aviões. A mensagem iraniana era clara e muito pertinente para aqueles que entendem (ou querem entender). Para os outros, menos estrategicamente conscientes, pode parecer que o Irã deu um soco militar e mostrou fraqueza. Realmente, quando você acaba de demonstrar a capacidade de reverter o status quo militar, não há necessidade de tocar trombetas. A própria recepção da mensagem é em si a "bofetada" para uma "máquina militar". Primorosamente calibrada: evitou a guerra frente a frente. Trump desistiu (e alegou êxito).
Então, está tudo acabado – tudo resolvido? Tudo terminado? De modo algum. Tanto o líder supremo como o general Hajizadeh disseram (efectivamente) que o ataque representava um arranque – "um começo". Mas grande parte dos media de referência – tanto no Ocidente quanto em Israel – tem um "ouvido mouco" cultural quanto à maneira como o Irão administra a guerra assimétrica – mesmo quando claramente explicitada.
A guerra assimétrica não é uma competição para "mostrar quem tem maior pau". É mais como David e Golias. Golias pode esmagar David com um soco, mas o último é ágil; de pés rápidos, dança em torno do gigante – fora de seu alcance. David tem vigor, mas o gigante move-se pesadamente ao redor e é facilmente irritado e exaurido. Finalmente, até uma pedrinha bem direcionada – nem mesmo um Howitzer – deita-o abaixo.
Ouça atentamente a mensagem iraniana: se os EUA se retirarem do Iraque, conforme solicitado pelo Parlamento iraquiano, e conforme o seu acordo com o governo de Bagdad, e depois "partirem" da região, a situação militar será facilitada. Contudo, se os EUA insistirem em permanecer no Iraque, as forças americanas sofrerão pressão política e militar para o abandonar – mas não do estado iraniano. Ela virá dos habitantes daqueles estados nos quais as forças americanas atualmente estão posicionadas. Neste ponto, soldados americanos podem ser mortos (embora não por mísseis iranianos). É a opção da América. O Irã mantém a iniciativa.
Os líderes iranianos têm sido muito explícitos: a "bofetada" do ataque à base de Ain al-Assad não é a retaliação pelo assassínio do general Soleimani. Ao contrário, é a campanha que consiste na guerra amorfa, quase política, quase militar, a guerra assimétrica à presença da América no Médio Oriente é que foi dedicada como adequada à sua memória.
Este é David a dançar ao redor de Golias. O assassinato de Soleimani revigorou e mobilizou milhões num novo fervor de resistência (e não apenas os xiitas, a propósito). E a destruição da soberania do Iraque pela resposta do presidente Trump à votação no parlamento iraquiano (pedindo que as forças estrangeiras deixem o Iraque) criou um novo paradigma político que nem mesmo os mais pró-americanos do Iraque podem ignorar facilmente. É – notavelmente – uma missão não sectária (remover forças estrangeiras).
E Israel, após a auto-congratulação inicial (entre os netanyahuístas), entendeu que o Irão 'intensificou' e não 'retrocedeu'. Ben Caspit, o veterano analista de segurança israelense, escreve :
"A carta do general William H. Sili , comandante das operações militares dos EUA no Iraque, extravazou e foi rapidamente disseminada entre as mais importantes figuras da segurança de Israel em 6 de Janeiro ... O conteúdo da carta – que os americanos estavam a preparar-se para se retirarem do Iraque imediatamente – disparou todos os sistemas de alarme em todo o Ministério da Defesa em Tel Aviv. Mais ainda, a publicação estava prestes a desencadear um "cenário de pesadelo" israelense em que, antes das próximas eleições nos EUA, o presidente Donald Trump evacuaria rapidamente todas as forças americanas do Iraque e da Síria.
"Simultaneamente, o Irã anunciou que está de imediato a interromper seus vários compromissos respeitantes ao seu acordo nuclear com as superpotências, retornando ao enriquecimento de urânio em alto nível de quantidades ilimitadas e renovando seu impulso acelerado para alcançar capacidades nucleares militares. "Sob tais circunstâncias", contou uma importante fonte da defesa israelense [Caspit], "Nós realmente permanecemos sozinhos neste período mais crítico. Não existe cenário pior do que este para a segurança nacional de Israel ... Não está claro como esta carta foi escrita, não está claro porque veio a público, não está claro para começar porque foi escrita. Em geral, nada está claro no que diz respeito à conduta americana no Médio Oriente. Levantamos todas as manhãs frente a novas incertezas".
O impeachment do presidente dos EUA lançado pela Câmara dos Deputados deixou Trump muito vulnerável ao rebotalho sionista e evangélico no Senado dos EUA, cujos votos no entanto serão essenciais para a tentativa de Trump de permanecer no cargo quando os artigos de impeachment forem transferidos para o Senado. E a um julgamento em que Trump deve bloquear os democratas que se aliem a quaisquer rebeldes republicanos para conseguir um voto de dois terços de "culpado''. A alavancagem do impeachment tem sido usada várias vezes para pressionar Trump a atuar no Médio Oriente de modo diretamente contrário ao seu interesse eleitoral – que permanece dependente de manter mercados em crescimento – e em conversas de um acordo comercial com a China.
O que Trump mais precisa agora (em termos de campanha eleitoral) é uma desescalada com o Irã – uma que atenuasse a pressão política dos sectores neo-con e evangélicos, e lhe permitisse exibir os mercados de ativos inflacionados.
Mas é exatamente isso que ele não conseguirá.
As tentativas de Trump de conter a resposta iraniana ao assassinato de Soleimani foram rejeitadas categoricamente por Teerã. As missivas nunca foram abertas, nem lhes permitiram chegarem a falar com mediadores. Não há espaço para negociações, a menos que Trump levante sanções e os EUA se comprometam novamente com o JCPOA. Isso nunca irá acontecer. Agora haverá imensa pressão de todos os lobbies de Israel para que os EUA permaneçam no Iraque e na Síria (conforme comentários de Caspit). E o fantasma da "vingança" de Soleimani assombrará as forças americanas na região durante os próximos meses, se não anos.
O Irã – sabiamente – evitou o conflito militar directo de Estado para Estado, em favor de uma guerra mais subtil e perniciosa contra a presença dos EUA no Médio Oriente – uma guerra que, se bem-sucedida, irá remodelar a região.
Não, isto não está acabado. Está destinado a escalar (mas de um modo assimétrico). Trump permanecerá esmagado na morsa de senadores patifes.
Fonte: Resistir.info
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