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AEPET recebe presidente da Petrobrás: diálogo positivo, convergências difíceis

O presidente Ivan Monteiro e sua equipe de executivos estiveram na AEPET no dia 29/06/2018

Publicado em 12/07/2018
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em atenção ao pedido de audiência da nossa Associação para tratar do Plano de Negócios e da Política de Preços da Petrobrás.

Ivan Monteiro declarou sua intenção de esclarecer aspectos da sua gestão que têm sido criticados pela AEPET, em busca da convergência de entendimentos e de opiniões. Esta louvável iniciativa da visita do Presidente foi muito bem acolhida pela AEPET.

No entanto, a convergência de pontos de vista se mostrou difícil, uma vez que a AEPET entende que a principal meta do Plano de Negócios 2018-2022 não é adequada à companhia, uma empresa integrada de petróleo e energia. Entende a AEPET que tanto o indicador Dívida Líquida / EBTIDA, quanto sua meta (2,5) e prazo (2018) são inadequados para uma empresa como a Petrobrás que tem potencial de crescer em termos de produção e geração de caixa. A dívida existente é perfeitamente administrável e, em nosso entendimento, adotar este indicador e prazo justificaria a privatização de ativos estratégicos e rentáveis, com prejuízo para a geração de caixa futura, assumindo riscos empresariais desnecessários e desintegrando a Petrobrás. Conforme demonstrado em nossos votos nas assembleias de acionistas, artigos e cartas enviadas pela AEPET à direção da Petrobrás. Por exemplo, aqui e aqui.

Segundo o presidente Ivan Monteiro, a venda de ativos colocou a Petrobrás no controle da sua divida. Na visão da AEPET, esta venda representou prejuízo para geração de caixa, risco e desintegração absolutamente desnecessários. Entendemos que é razoável qualquer empresa fazer gestão de seus ativos, vender, comprar e os priorizar. Com a descoberta do pré-sal, no final de 2006, é natural que a Petrobrás reoriente seu portfólio de ativos. No entanto, isso não significa alienar US$ 35 bilhões entre 2015 e 2018, abandonando setores estratégicos e ativos rentáveis, além de descaracterizar uma moderna empresa integrada de petróleo e energia.

Desde 2016 temos afirmado que a magnitude dessas privatizações é desnecessária para administrar e reduzir a dívida da companhia. Por exemplo, aqui, aqui e aqui. Reafirmamos ao presidente e sua equipe nossos pontos de vista e nos colocamos a disposição para detalhar os dados que desejassem.

Apresentamos alguns exemplos objetivamente:

1) a venda da malha de gasoduto do Sudeste e a sua operadora NTS é, segundo a visão da AEPET, uma temeridade sob o ponto de vista estratégico e financeiro. Trata-se da malha que transporta o gás natural, inclusive do pré-sal, e que regula a produção de óleo uma vez que este é associado ao gás. Se houver qualquer problema na produção e transporte do gás, a produção de óleo fica comprometida. A equipe do presidente acha que possuir os gasodutos não é importante. Reafirmamos nossas posições já expressas reiteradas vezes, por exemplo: aqui, aqui e aqui.

2) a venda do campo de Carcará que o presidente Ivan Monteiro e sua equipe consideram que foi bom negócio, para nós não foi. Carcará é um dos melhores campos do pré-sal pela pressão maior, melhor qualidade do óleo e facilidade de ser produzido. Segundo especialistas, Carcará tem uma reserva da ordem de três bilhões de barris, mas pode chegar a seis bilhões. Foram vendidos 66% de propriedade da Petrobrás por somente US$ 2,5 bilhões.

Além disto, a área norte de Carcará, que também foi comprada pela Statoil, tem potencial maior que o do próprio campo de Carcará. E a Petrobrás sequer concorreu no leilão em que ela foi posta à venda. No último leilão, a área de Uirapuru, próxima a Carcará, também promissora, a Petrobrás concorreu e perdeu.

3) outra grave divergência é a questão da dívida da Petrobrás. Temos demonstrado que a dívida pode ser facilmente administrada sem as privatizações planejadas, uma vez que a Petrobrás tem reservas em caixa acima dos US$ 22 bilhões, geração de caixa crescente, acima dos US$ 27 bilhões por ano e elevado índice de liquidez corrente (1,9 em 2017). Assim como possui no pré-sal acumulação com potencial superior a 40 bilhões de barris, tendo, portanto, facilidade de obter recursos de terceiros a menores custos em comparação com obter recursos com a venda das reservas e dos ativos rentáveis. Mas o presidente da Petrobrás diz que: “o petróleo no subsolo não vale nada”. Ora, como é do conhecimento de diversos profissionais e analistas do mundo do petróleo, muitas guerras, ocorridas a partir da primeira guerra mundial, foram causadas pela necessidade e cobiça pelo petróleo, exatamente aquele que está no subsolo. Os mais recentes assassinatos de Sadham Hussein, do Iraque, e de Muamar Kadhafi, da Líbia deveram-se ao petróleo do subsolo desses países e da moeda escolhida para comercializá-lo quando produzido.

Os países ricos da Europa, da Ásia e os EUA são dependentes do petróleo estrangeiro. Assim, o pré-sal dá ao Brasil um poder geopolítico imenso. Inclusive créditos fartos no sistema financeiro.

4) também discordamos com relação a qualidade dos investimentos entre 2009 e 2014 e sua influência no endividamento da Petrobrás. O presidente Ivan Monteiro afirmou que 90% do endividamento da Petrobrás foi consequência de investimentos improdutivos, aqueles que não geram valor para a companhia. Discordamos totalmente desta assertiva e argumentamos que até hoje a Petrobras realizou a reavaliação do valor contábil dos ativos (impairments) de menos de 10% do montante investido entre 2009 a 2014 que superaram US$ 250 bilhões. Reafirmamos o que já apresentamos no estudo: Avaliação dos “maus investimentos” e da corrupção na formação da dívida da Petrobrás.

5) a privatização das refinarias é outro ponto de discórdia. Entendemos que são vitais para garantir a geração de caixa da Petrobrás diante da variação dos preços relativos do petróleo e dos combustíveis. Garante que a companhia acesse o mercado brasileiro que é grande e tem potencial de crescer, porque nosso consumo per capita de energia é ainda relativamente baixo. O mercado brasileiro do refino é aberto e competitivo, faz parte da bacia do Atlântico, como demonstra a recente invasão do mercado pelo diesel produzido nos EUA, resultado dos preços altos da Petrobrás no mercado interno.

É descabida a exigência de preços internacionais como condição para investimentos no refino. Ainda mais estranho é o desejo de impedir à ação do Estado Brasileiro no setor.

6) quanto à Liquigás, outra divergência, a AEPET lembrou que ela é uma grande Geradora Operacional de Caixa visto que a margem de distribuição do GLP é de 50%, uma imoralidade, ainda mais pelo fato de que o GLP é um insumo social, pois mais de 90% dos brasileiros o usam para preparar seus alimentos. Sugerimos uma iniciativa da Petrobrás de reduzir essa margem absurda e a correspondente redução dos preços em até 40%. A assessoria do presidente considera esta margem adequada e que não poderia reduzir os preços porque os concorrentes processariam a Liquigás por dumping. Parecem não se sensibilizar nem com os brasileiros mais pobres, o que seria uma visão social, nem com o potencial aumento do mercado consumidor, uma visão empresarial.

7) apesar de não ser tema da pauta tratamos brevemente sobre a Petros, cujo plano de equacionamento do déficit é extremamente pernicioso para os 75.000 participantes no final de suas vidas. Lembramos que a Petrobrás tem uma dívida reconhecida por perícia judicial da ordem de 12 bilhões de reais e que se ela reconhecesse essa dívida, prometendo pagá-la mais tarde, a Petrobrás e os participantes nada teriam a pagar agora. O presidente Ivan Monteiro disse que só pode considerar as dívidas reconhecidas no balanço contábil. Há conclusões de Grupos de trabalho Petros/Petrobras que comprovam essa divida. Como sabemos que a justiça é morosa fica difícil convergir.

O presidente da Petrobrás declarou que considera de suma importância os Planos Petros, reconhecendo que eles são fundamentais para a retenção de técnicos de alto nível na Petrobrás. E também que a RMNR foi muito ruim para o plano Petros – PPSP. Em função disto, solicitamos uma audiência específica para tratar do assunto e o presidente se comprometeu em agendar.

Não houve tempo para tratar da política de preços, ficou acordado a realização de uma próxima reunião, na Petrobrás, cuja pauta incluirá refino, biocombustíveis e política de preços.

Apesar das divergências, consideramos positiva a reunião, já que o diálogo franco leva a esclarecimentos mútuos e a possibilidades de correção de rumos. A AEPET atua com independência e transparência, nossas críticas são construtivas e propositivas, nosso maior objetivo é defender a Petrobrás, seu corpo técnico e promover a Soberania Nacional.

Felipe Coutinho, presidente da AEPET

Fernando Siqueira, vice-diretor de comunicação da AEPET e conselheiro da Petros

Cláudio Oliveira, economista da Petrobrás aposentado e sócio honorário da AEPET

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