AIE recebe proposta de adesão do Brasil
O Brasil quer um assento à mesa da Agência Internacional de Energia, tendo protocolado um pedido formal esta semana para passar de parceiro a membro pleno.
Nesta terça-feira (02), em Paris, o embaixador brasileiro entregou uma carta do Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ao chefe da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, afirmando que o governo desejava iniciar o processo de adesão. Os ministros destacaram o apoio da AIE em questões de segurança energética, dados e análise de políticas, além de enfatizarem o peso do Brasil como grande exportador de petróleo e líder em energia renovável.
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“Reconhecendo os desafios que temos pela frente no cenário energético e o apoio estratégico que a AIE fornece aos seus países-membros... [temos] o prazer de informar que nosso governo gostaria de iniciar os procedimentos de adesão à AIE como membro pleno”, diz a carta.
Para a AIE, a candidatura do Brasil é significativa. A maior economia da América Latina traz consigo peso e contradições: é líder em biocombustíveis e energia hidrelétrica, mas também está expandindo agressivamente a produção de petróleo. A Petrobrás, estatal petrolífera, comprometeu US$ 111 bilhões em investimentos até 2029 — US$ 77 bilhões dos quais destinados à exploração e produção de petróleo e gás. A empresa atingiu recentemente a produção operacional recorde de 4,19 milhões de boe/d no segundo trimestre de 2025, mas decepcionou os investidores ao reter dividendos para financiar essa expansão.
O governo brasileiro não esconde que o aumento das receitas do petróleo ajudará a financiar programas sociais e até mesmo partes da transição energética. O presidente Lula da Silva argumenta que a redução de emissões exige investimentos — alguns dos quais devem vir das riquezas em águas profundas do Brasil.
Ao mesmo tempo, o Brasil se posicionou cuidadosamente em alianças com produtores. No início de 2025, ingressou na OPEP+, mas sob termos não vinculativos que o isentam de cotas de corte de produção. A medida deu a Brasília um lugar à mesa, preservando sua liberdade para perseguir a meta de produção de 5,4 milhões de bpd até 2030.
A candidatura à AIE reflete a outra face do Brasil: o líder climático que sediará a COP30 e apregoa sua rede elétrica baseada em energias renováveis. A energia solar disparou, a energia nuclear está se expandindo e os biocombustíveis continuam sendo essenciais. Para Fatih Birol, diretor executivo da AIE, o Brasil é "um pilar fundamental do sistema energético global hoje e sua importância tende a aumentar".
Essa dupla identidade — defensor do clima e motor do crescimento do petróleo — moldará o papel do Brasil na AIE. A adesão, se aprovada, vincularia o país mais fortemente à cooperação internacional em segurança e transições energéticas, mesmo com a Petrobrás perfurando mais profundamente o pré-sal.
A Agência Internacional de Energia (em inglês: International Energy Agency - IEA) é uma organização internacional sediada em Paris ligada a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Atua como a orientadora política de assuntos energéticos para seus 30 países membros.
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