As grandes petroleiras não vão recuar mesmo com o petróleo a US$ 60

Exxon, Chevron, Shell e TotalEnergies estão mantendo planos agressivos de crescimento de produção, mesmo com a queda dos lucros e dos preços do petróleo.

Publicado em 07/05/2025
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As grandes petroleiras não têm planos de reduzir seus orçamentos, apesar da queda nos preços do petróleo e da previsão de mais barris no mercado. Isso pode parecer imprudente em um cenário de baixa, mas não é. Com a demanda em alta na Ásia e a OPEP+ se preparando para desfazer os cortes de produção mais rápido do que o esperado, Exxon, Chevron, Shell e TotalEnergies estão se preparando — prontas para produzir mais, não menos.

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A ExxonMobil reportou uma queda no lucro líquido do primeiro trimestre para US$ 7,7 bilhões, ante US$ 8,2 bilhões no ano anterior. O lucro da Chevron caiu mais acentuadamente, de US$ 5,4 bilhões para US$ 3,8 bilhões, e a Shell teve uma queda de 28% no lucro do primeiro trimestre. A TotalEnergies reportou uma queda mais modesta, de 5%.

Ainda assim, nenhuma dessas empresas sinalizou cortes de gastos ou recuos estratégicos. Na verdade, elas estão fazendo o oposto: elevando as metas de produção e mantendo os planos de crescimento.

A TotalEnergies viu sua produção de petróleo e gás aumentar 4% no primeiro trimestre, impulsionada por aumentos de produção no Brasil, EUA, Malásia e Argentina. A Exxon tem como meta um aumento de produção de 7% para o ano. A Chevron mira 9%. Até a Shell, embora mais cautelosa, continua com recompras agressivas e se recusa a ceder em investimentos.

A única grande a ajustar seus planos foi a BP — e mesmo essa medida foi pressionada pela Elliott Management, a investidora ativista que pedia cortes mais profundos e uma direção estratégica mais clara. Os resultados do primeiro trimestre da BP mostraram lucros abaixo do esperado, fluxo de caixa em queda e dívida líquida crescente — deixando-a como uma exceção em um grupo que, de outra forma, seria inabalável.

E agora vem o verdadeiro teste: a OPEP+ planeja despejar até 2,2 milhões de barris por dia de volta no mercado até novembro. Segundo fontes citadas pela Bloomberg, os sauditas perderam a paciência com os violadores de cotas em série, como Iraque e Cazaquistão. Mas há um porém: muitas das empresas responsáveis pela superprodução do Cazaquistão são grandes empresas ocidentais: Chevron, Exxon, Shell e TotalEnergies.

Isso mesmo — as grandes petrolíferas agora fazem parte da dor de cabeça interna do cartel com a governança.

"A presença de empresas americanas como ExxonMobil e Chevron no Cazaquistão pode desempenhar um papel fundamental no crescimento da oferta", disse Mukesh Sahdev, analista da Rystad Energy. "Isso levanta questões sobre o potencial do apoio dos EUA para pressionar a OPEP+ a adicionar mais barris ao mercado."

O que nos leva à verdadeira questão: será que isso está se configurando como uma boa e velha guerra de oferta?

Certamente há sinais. As importações de petróleo bruto da China atingiram o maior nível em 20 meses em março, saltando para mais de 12 milhões de barris por dia. Esse aumento reverteu a queda observada em janeiro e fevereiro e ressaltou o apetite de Pequim por barris baratos. A Índia também aumentou as importações da Rússia para o maior nível em nove meses. Quando os preços caem, os maiores compradores do mundo entram em cena.

É exatamente com isso que as grandes petrolíferas estão contando. Com a queda dos preços, a demanda se recuperará. E as grandes empresas querem estar na linha de frente quando isso acontecer. Isso explica por que elas não estão em pânico com a queda dos lucros do primeiro trimestre. Elas estão apostando no longo prazo.

Os produtores de shale dos EUA, no entanto, não estão tão tranquilos. Com o Brent abaixo de US$ 60 e o WTI oscilando perto de US$ 56, a economia para os independentes está se deteriorando. A Bloomberg relata que a EOG Resources cortou US$ 200 milhões em seu investimento de capital para 2025 e reduziu o crescimento da produção de 3% para 2%. Analistas do JPMorgan chamaram a EOG de "o canário na mina de carvão" — um alerta de que mais revisões podem ocorrer.

E provavelmente irão. Embora as empresas de perfuração de shale tenham obtido ganhos impressionantes em eficiência na última década, elas ainda estão mais expostas a choques de preços do que as superpetroleiras verticalmente integradas. O shale precisa de preços sustentados próximos a US$ 65–70 para crescer confortavelmente. Abaixo de US$ 60, o investimento seca rapidamente.

Isso abre as portas para as grandes petroleiras. Com uma mistura de projetos convencionais, em águas profundas e de shale— e balanços patrimoniais reforçados por anos de disciplina de capital —, elas podem se dar ao luxo de esperar o barulho passar. Na verdade, apostam que a atual fraqueza dos preços durará pouco e que, quando a recuperação chegar, estarão em posição de dominar.

Enquanto isso, a OPEP+ também está sentindo a pressão. A decisão de acelerar a reversão dos cortes de produção — aglutinando três meses de aumentos em um, a partir de junho — sugere um cartel tentando se antecipar a um mercado em deterioração. Resta saber se essa medida é uma demonstração de força ou um prelúdio para a discórdia. Mas ela adiciona ainda mais barris a um mercado onde as grandes petroleiras já estão acelerando seus processos.

Se há uma guerra se formando, não é mais apenas OPEP versus shale — é OPEP versus as grandes petroleiras, com o shale em segundo plano e os compradores asiáticos comemorando nas arquibancadas.

Em resumo, os próximos meses podem definir o tom para o próximo capítulo do petróleo global. Será que as grandes empresas recuarão se os lucros do segundo trimestre decepcionarem? Possivelmente — mas não é provável. Até agora, elas demonstraram toda a intenção de sobreviver à tempestade. E se essa tempestade derrubar rivais mais fracos no processo, tanto melhor.

Fonte(s) / Referência(s):

Irina Slav
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