"Brasil tem pouca força para aproveitar crise, caso o conflito no Oriente Médio se alastre", diz Gonçalves
Professor da UERJ avalia que país segue à deriva e precisa de reforma política. "Países Árabes não se desenvolveram com o preço alto do petróleo bruto que exportaram na década de 1970"
A guerra entre Israel e Hamas ainda não está afetando os preços do petróleo, mas o conflito pode se alastrar, com sérias consequências para o Brasil e para o mundo, alerta o professor de Relações Internacionais da UERJ, Williams Gonçalves.
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Gonçalves pondera que Brasil e Venezuela são grandes produtores de petróleo, mas geopoliticamente fracos, o que os prejudica na hora de tirar proveito de uma eventual alta do preço do petróleo.
“O Brasil e Venezuela são países em desenvolvimento, acreditar no poder do petróleo é ilusório, pois as grandes potências jogam em diferentes tabuleiros. Estamos enfraquecidos para aproveitar totalmente um eventual aumento de preços”, disse o professor.
Gonçalves observa que exportar petróleo bruto não é receita para o desenvolvimento. “Os países árabes na década de 1970 elevaram os preços, mas o dinheiro acabou voltando para os bancos ocidentais”. Para ele, falta ao Brasil um projeto de nação, mas o fisiologismo de Congresso, voltado para o curtíssimo prazo, e a sociedade dividida enfraquecem o Executivo, mesmo sob regime presidencialista.
“A inserção do Brasil no mundo não é discutida no Congresso. O governo poderia investir no diálogo com a sociedade, mas hoje o Brasil é um país desorganizado, sem sindicatos fortes e com partidos políticos sem qualquer programa ou ideologia. Por isso, a principal reforma de que necessitamos é a política, mas esta não é prioridade do Congresso, formado por políticos que apoiaram o ex-presidente e agora estão com atual governo. O chamado Centrão se notabiliza pela absoluta falta de projeto, continuamos à deriva”, lamenta.
Por Rogerio Lessa
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