Buzanelli: “a desintegração da Petrobrás não se dá apenas na privatização fatiada, se dá no principal patrimônio de uma empresa: seus trabalhadores e seu conhecimento”
Rosangela Buzzaneli, funcionária da Petrobrás há quase 35 anos, reeleita para o Conselho de Administração da Petrobrás,
com 66% dos votos, concede entrevista exclusiva para Energia Brasil da AEPET:
AEPET: Dez anos depois que Silvio Sinedino, então presidente da AEPET, foi eleito o primeiro representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás, você é reeleita para um segundo mandato. Qual a importância desta representação, criada pela Lei 12.353, de dezembro de 2010?
Rosangela Buzanelli: A representação dos trabalhadores no Conselho de Administração é muito importante pois nos dá a oportunidade de levar ao principal fórum decisório da empresa, a visão dos trabalhadores. A Composição do CA é muito heterogênea e, ainda que alguns membros conheçam a indústria de óleo e gás, e são minoria, não conhecem a Petrobrás como nós, que a construímos todos os dias, conhecemos.
AEPET: É importante que você faça um balanço de sua atuação nestes dois últimos anos. Qual é, efetivamente, o papel do representante dos trabalhadores no CA?
Buzanelli: O balanço desses 18 meses, até aqui, é muito positivo e a reeleição é a prova disso. Ainda que em absoluta minoria, sem ilusão de mudar os rumos estratégicos da companhia, resistimos às decisões que a desverticaliza e apequena, com coragem, qualificação e ética. Fui a voz da maioria dos trabalhadores questionando e contestando essas decisões. O papel do representante dos trabalhadores é esse: levar a nossa voz e visão da empresa para o mais importante fórum decisório, defendendo o melhor interesse da Petrobrás, no sentido de mantê-la forte, integrada e resiliente às mudanças e à instabilidade do setor óleo e gás.
AEPET: Seu primeiro mandato foi marcado pela transparência de sua atuação, através do seu site https://rosangelabuzanelli.com.br/ Entretanto, há questões jurídicas que impedem a conselheira de se manifestar. Como você conduz esta questão?
Buzanelli: Essa questão é muito difícil. Todo conselheiro tem o dever de manter o sigilo e assim deve ser por questões estratégicas. Buscando sempre a maior transparência, fico limitada a divulgar o que se tornou público, sejam decisões ou os motivos que embasaram meus votos, que são documentados e registrados, até para minha proteção em caso questionamentos, mas seu conteúdo é sigiloso. Então preciso me certificar, antes de divulgar uma decisão e como votei, que o conteúdo seja público.
AEPET: A sua reeleição teve o apoio dos sindicatos das duas federações de petroleiros, a FUP e a FNP. Você acredita em novas composições destas duas forças?
Buzanelli: Sim acredito e me empenharei para que essa unidade construída nessa campanha seja mantida e fortalecida. Será fundamental para enfrentarmos os ataques que nos aguardam nesse ano tão importante. Juntos somos muito mais fortes.
AEPET: Qual o papel você acha que cabe à AEPET desempenhar neste momento?
Buzanelli: A AEPET sempre teve um papel muito importante na defesa da Petrobrás e não será diferente nesse momento tão crítico pelo qual passamos. Sou sócia da AEPET há nem sei quantos anos e sempre acompanhei o trabalho que essa combativa Associação desenvolve na defesa incondicional da empresa. A AEPET traz debates muito qualificados sobre o papel da Petrobrás para o Brasil, as questões estratégicas para o fortalecimento e sobrevivência da Petrobrás enquanto empresa estatal , forte, integrada e resiliente às mudanças e instabilidades do setor. Fomentar esse debate com qualificação é fundamental para demonstrarmos o quão equivocada e destrutiva tem sido a estratégia traçada para nossa empresa.
AEPET: Quais devem ser os principais desafios de seu novo mandato?
Buzanelli: Esse mandato terá, espero e trabalharei para tal, duas fases distintas: a primeira, em 2022 de aceleração da desintegração e venda dos ativos da companhia e, nesse sentido resistir será ainda mais trabalhoso e árduo. Mesmo tendo dois terços dos votos, o que, além de um recado alto e claro dos trabalhadores à gestão, me dá muita representatividade, mas também aumenta sobre mim a pressão e intolerância. A desintegração da Petrobrás não se dá apenas na privatização fatiada, se dá no principal patrimônio de uma empresa: seus trabalhadores e seu conhecimento. Cortes de investimentos e produtização da Pesquisa e Desenvolvimento, cortes de custos na aquisição de dados, na Universidade Petrobrás e outros bens valiosos do nosso saber são questões cruciais para as quais precisamos voltar nossos olhos.
A segunda fase, espero aconteça a partir de janeiro de 2023, será a de reconstrução. E esse será o desafio mais prazeroso que espero ter a oportunidade de vencer junto de todos que compreendem a importância da Petrobrás para o Brasil, dos que constroem e amam essa empresa.
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