FUP: Bolsonaro escolheu um burocrata e privatista para a Petrobrás
Bacelar: 'perda de empregos é um dos impactos mais perversos da privatização'; 54% dos brasileiros são contra venda da empresa.
“Vejo a indicação do José Mauro Ferreira Coelho para presidir a Petrobras com grande preocupação. Parece mais um burocrata, conveniente, cordato e defensor das privatizações e da atual política de preços dos combustíveis”, afirma o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, ao se referir ao nome indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a Presidência da Petrobras. “Ele vai fazer exatamente o que o Governo Federal quer, que é trabalhar para entregar a Petrobrás para a iniciativa privada, mas nós não vamos deixar”, afirma.
O dirigente relembra que, em audiência pública sobre desinvestimentos da Petrobrás, em junho de 2021, Coelho chegou a comentar sobre o “sucesso” dos desinvestimentos da Petrobras nas regiões Norte e Nordeste, falando em “mais empregos” nas regiões. Mas estudo do economista Cloviomar Cararine, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), realizado a pedido FUP, mostrou justamente o contrário: a estratégia resultou em desemprego e redução de receita gerada pelas atividades nessas regiões.
De acordo com o estudo, de 2013 a 2020, houve redução de 65% no número de trabalhadores próprios da Petrobras nas regiões Norte e Nordeste, enquanto no Sudeste a queda foi de 26%. Quando se trata de trabalhadores terceirizados, houve perda de mais de 22 mil empregos, uma redução de 48%.
“A perda de empregos é um dos impactos mais perversos do processo de privatização da Petrobras”, afirma Bacelar.
A venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) para o grupo Mubadala, chamada agora de Refinaria de Mataripe, é outro caso que mostra o fracasso de se privatizar setores estratégicos. Hoje, esta refinaria aumenta o preço dos combustíveis com mais frequência do que a própria Petrobrás, pois não tem nenhum compromisso social como uma estatal tem. Uma empresa privada só tem compromisso com o lucro.
A escolha de Coelho, comenta Bacelar, indica que Bolsonaro escolheu um nome de sua confiança para tratar não apenas da privatização da Petrobras mas também da questão dos preços dos combustíveis, que atinge profundamente Bolsonaro no processo eleitoral.
“Coelho vai seguir o projeto implementado pelo governo, que é de privatização da empresa e aumento dos lucros para distribuir aos acionistas, isso é muito contra o povo, que acaba perdendo a empresa e pagando absurdos nos preços dos combustíveis”, comenta o coordenador da FUP.
Bacelar reforça que não se aumenta investimentos vendendo o que já temos. “Não somos contrários a investimentos privados, mas queremos que eles construam novos ativos no país”, afirma. Para Bacelar, privatizar empresas e ativos públicos é trocar seis por cinco, já que os agentes privados investem menos e empregam menos. “É uma mentira quando Coelho fala na audiência que a venda de ativos aumenta investimentos e empregos”. O campo de Riacho do Forquilha, no Rio Grande do Norte, por exemplo, empregava 750 trabalhadores, entre próprios e terceirizados da Petrobrás, e esse número caiu para 400 pessoas depois da privatização, reduzindo a massa salarial e a geração de riqueza e renda das economias locais.
Para Bacelar, a escolha do novo presidente mostra que a gestão da Petrobrás continuará indo contra os verdadeiros desejos do povo. “Estão todos envolvidos em lobbies e atendem a empresas interessadas em ‘sugar’ a riqueza da estatal. Precisamos abrasileirar o preço dos combustíveis. Não adianta mudar a Presidência da empresa sem mexer no Preço de Paridade de Importação”, afirmou.
Pesquisa PoderData divulgada na última sexta-feira pela Revista Fórum e replicada pela Associação Engenheiros da Petrobras (Aepet) mostra que a maioria da população brasileira ainda se coloca contra a privatização da Petrobrás.
Segundo o levantamento, 54% dos entrevistados dizem que o governo deve continuar sendo dono da Petrobrás – 30% acreditam que a empresa deveria ser privatizada e 16% não sabem. Em 2017, eram 58% os brasileiros que se colocavam contra a privatização, 22% a favor e 20% não sabiam. A pesquisa foi realizada entre os dias 27 e 29 de março, em meio à nova crise provocada por Bolsonaro ao trocar o presidente da estatal – tirando o general Luna e Silva para colocar o lobista Adriano Pires, – por imposição do Centrão.
A pesquisa ouviu 3 mil eleitores em 275 municípios nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. O intervalo de confiança de 95%. Registro no TSE: BR-06661/2022.
Com informações da Aepet, citando a Revista Fórum
Fonte: Monitor Mercantil
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