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Geólogo afirma que Petrobrás está deixando de perfurar poços delimitatórios, com consequências graves para o caixa da empresa

A venda de importantes ativos foi o caminho escolhido pela Petrobrás para quitar suas dívidas num prazo curtíssimo,

Publicado em 12/03/2018
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daí a alavancagem de 2,5 adotada. A alternativa, contudo, encontra fortes resistências entre os analistas e especialistas do mercado, pois a estatal está se desfazendo, desnecessariamente, de ativos preciosos. A lista é extensa, mas podemos citar os mais célebres, como Carcará, a Nova Transportadora do Sudeste (NTS) e agora a TAG (Transportadora Associada de Gás) – esta última com grande capilaridade, principalmente no Nordeste. Enquanto isso, a Petrobrás está deixando de lado novos investimentos em explotação, delimitação e exploração, como afirma o geólogo Luciano Seixas Chagas. “O senhor [Pedro] Parente está focando quase exclusivamente na meta de 2,5 de alavancagem, fazendo caixa excessivo através da venda açodada de ativos para pagar, em prazo curto, juros e dívidas. Esta é uma coisa absolutamente fora de propósito na indústria do petróleo“, disse. O geólogo explica que a Petrobrás está deixando ou postergando, assim, a delimitação de reservas e a perfuração de novos poços exploratórios. Com isso, a petroleira deixa de apropriar grandes volumes de reservas provadas, hoje possíveis, o que aumentaria, substancialmente, o seu índice de reposição de reservas, hoje absurdamente negativo. Chagas esclarece também que a reserva provada deve “entrar na contabilidade. Mas se as acumulações não forem delimitadas por poços, você não torna isso um ativo contábil, com consequências sérias para uma correta avaliação da empresa em termos contábeis e comerciais. Os únicos volumes que não podem ser contabilizados são os oriundos da cessão onerosa, contabilizados apenas quando produzem“, concluiu. “Mesmo assim estes deveriam ser anotados nos rodapés (notas) dos balanços e balancetes para conhecimento do potencial”, afirma.

Leia abaixo a íntegra da entrevista dada ao site Petronotícias:

Luciano, poderia nos explicar um pouco sobre as reservas da Petrobrás e do Brasil e como são feitas suas respectivas contabilidades?

A volumetria correspondente as reservas de uma jazida é feita de um único modo: definido uma volumetria com base em atributos sísmicos onde são aferidas espessuras médias e áreas de uma reserva virtual e apenas virtual ou de recursos prospectivos, isso na fase exploratória. Após a perfuração de um poço, se feita uma descoberta, os volumes virtuais viram reais, paripassu com a perfuração de novos poços. Após a perfuração de poços delimitatórios é feita, posteriormente ou concomitantemente, o Plano de Avaliação da Descoberta (PAD), onde são definidas as capacidades de produções dos poços que delimitem uma área comprovadamente com petróleo. Depois é elaborado o plano de desenvolvimento e produção que servirá de guia para a produção final da antes Acumulação, e agora Campo, com volumes conhecidos provados, possíveis, recursos contingentes e os prospectivos, estes últimos nas áreas contíguas. A delimitação completa de um campo é feita quando todos os flancos de uma estrutura ou os seus limites estratigráficos estão perfeitamente conhecidos, através de poços, até uma cota estrutural denominada contato óleo/água, se existente, como é o mais comum na maioria das jazidas estruturais. Reserva provada ou volume recuperável, onde são comuns as antecipações da produção nos poços exploratórios e delimitatórios, são somente aquelas existentes no entorno do poço, compreendida pelo seu raio de drenagem, e isso, somente, após as suas formalizações através dos PAD’s e do plano de desenvolvimento. A demais são reservas possíveis, recursos contingentes ou prospectivos, que só serão apropriadas com provados, após comprovação por poços e das medidas de produtividade e de economicidade, obedecendo-se os critérios da ANP/SPE. A contabilidade é só das reservas provadas, que se transformadas de dinheiro têm que ser expressas em valor presente, e num cenário de produção possível, quase real, mui conservador.

Vamos ao problema: como os poços do pré-sal tem uma produtividade elevadíssima, uma das maiores do mundo, as empresas então aproveitam o poços exploratórios e delimitatórios para antecipação de produção através de testes de vazões de longa duração (TLD) que fazem parte dos PAD’s. Como a produtividade nos poços do pré-sal é alta, a antecipação de produção é e foi mais que necessária e esta foi uma decisão da gestão passada. E com a produção antecipada, volumes de 20 mil a 30 mil barris/dia/poço são obtidos no pré-sal, hoje, em valores médios.

Qual a consequência disto?

Existe o chamado índice de reposição de reserva. Vamos a um exemplo. Quando temos uma reserva de 10, produzimos 1 e repomos 1, nosso índice de reposição é de 100%. Quando esse índice é maior que 100%, dizemos que ele é positivo. Abaixo, é negativo. Até 2014, o índice de reposição de reserva no Brasil era positivo. Já em 2015 e 2016 chegou a níveis negativos, pífios, por conta da falta de celeridade nas delimitações das reservas e também pela quase falta de perfuração de novos poços exploratórios em novas áreas, que deveriam ter sido adquiridas em maior número nos leilões da ANP.

Na antecipação de produção, durante o PAD a empresa já está produzindo. Pior: além de você estar produzindo, não há praticamente esforços maiores na delimitação. Assim, o índice de reposição fica ridículo. O gestor senhor Parente e séquito deram preferência a perseguir uma alavancagem maluca de 2,5 ao invés de investir adequadamente nas delimitações e aquisições de novas áreas de onde viriam as reservas futuras. Um exemplo absurdo foi a não preferência de compra do ativo Carcará Norte, com volumes provavelmente superiores aos de Carcará, vendido a preço vil com por razões absolutamente falaciosas.

Os efeitos desta política já podem ser vistos em números?

Segundo dados da ANP do final de 2016, o Brasil tinha 15 bilhões de barris de óleo equivalente em reservas provadas. As reservas possíveis eram de 26,71 bilhões de barris de óleo equivalente. Todo esse volume possível poderia virar reserva provada desde que houvesse investimentos em poços comprovatórios, já que a sísmica na área do pré-sal é de muito boa qualidade para definição de volumes e corrobora, com excelente covariância, com o montante dos volumes medidos e já descobertos o que facilita, sobremaneira, as tomadas de decisões de se perfurar poços, principalmente os que permitem a delimitação completa das descobertas e posterior apropriação das reservas, principalmente as provadas. Por exemplo, se houver um investimento da Petrobras em 30 poços de delimitação nas estruturas já descobertas e ainda precariamente delimitadas, a um custo de US$ 100 milhões cada poço, num total de US$ 3 bilhões – isto é, usando 15% dos aproximadamente US$ 20 bilhões que a Petrobrás tem em caixa –, ela poderia apropriar facilmente todo volume de reservas possíveis (26,71 bilhões de 2016) transformando-as em provadas, aumentando substantivamente o seu índice de reposição das reservas. Como a empresa é dirigida por financistas, eles não pensam nestes termos. O senhor Parente e séquito estão focando na meta de 2,5 de alavancagem, pegando caixa e vendendo ativos para pagar juros e dívidas em 2,5 anos. Para que? Esta é uma coisa absolutamente fora de propósito na real indústria do petróleo preocupada com seu caixa e manutenção dos seus ativos, os seus futuros geradores de caixa. Vender campos como Lapa e acumulações como Carcará então? Um absurdo com alegações mentirosas, verdadeiros engodos.

Por quê?

Estamos produzindo hoje 47% do pré-sal. Isso não é resultado da administração Parente e, sim, consequência dos investimentos da administração anterior, que descobriu reservas responsáveis pela produção atual. Por conta disso aumentou-se a dívida da estatal, que é e sempre foi perfeitamente administrável e possível de ser facilmente paga num prazo não superior a 4 a 5 anos, fora as rolagens necessárias e habituais. O investimento feito no passado está gerando a receita de hoje. Então, como as reservas entram na contabilidade, e se poços delimitadores não são perfurados , você não torna isso um ativo contábil ou posterga este fato, com consequências sérias para a avaliação atual da empresa e assim justifica as vendas de ativos com base no aparente caos apresentado cotidianamente ao público ludibriado. Se a Petrobrás não computa ativos porque quer investir pouco dinheiro, o passivo se torna grande e o número da dívida fica estúpido, quando na verdade ele não é tão grande porque não está sendo compensado pela reservas que poderiam ser provadas. Acho isso uma política desastrosa, tão ruim quanto a busca da paridade internacional dos preços do petróleo e dos derivados responsável pela perda brutal de mercado expressa na queda do faturamento bruto da empresa e na sua geração de caixa. É só compararem os números atuais com os pregressos. E os preços na bomba assustam até o financista o senhor Meirelles, que já passou o mote para o senhor Parente: baixe o preço da gasolina senão a recessão piora o já catastrófico caos.

E qual seria a melhor alternativa frente a esta política?

A sugestão é gastar melhor e com parcimônia o caixa disponível, como algo em torno de 15% a 20% dele, furando poços de delimitação. Para também repor reservas, é necessário perfurar poços exploratórios dentro do polígono do pré-sal, de uma maneira mais agressiva. Existem áreas que possuem um enorme potencial e que foram negligenciadas nos leilões. Além disso a empresa poderia investir mais em novas fronteiras exploratórias – áreas fora do polígono do pré-sal, mas dentro das Bacias de Campos, Santos e Espírito Santo- onde tem grandes chances de se ter petróleo nos reservatórios. E quando a Petrobrás deixa de disputar estas áreas, como aconteceu no último leilão, as demais empresas também deixam de concorrer nestas áreas, porque preferem aquelas de menor risco, acompanhando as posições da Petrobras. A Petrobrás tem um papel preponderante na busca de novos recursos ou tinha. Se não fosse a estatal, o pré-sal não teria sido descoberto pois nenhum capital privado ousou investir em tal empreitada. Sempre sou acusado de partidário nas minhas alegações. Pergunto qual, além do interesse como brasileiro em potencializar as suas riquezas com comportamento e uso republicano?

Ao que o senhor atribui esta falta de investimentos em novos poços?

Eu acredito que isto é um projeto do governo Temer de internacionalizar as riquezas brasileiras. Projeto de quem não tem compromisso com o Brasil e apenas com o próprio umbigo para fugir das denúncias de corrupção que pesam sobre ele. Vamos aos fatos: a Petrobrás tem um 1,8 dólar para cada dólar que deve. A Exxon, por exemplo, tem 0,9 dólar para na mesma relação. A Chevron 1,3. Além disso, a alavancagem da Petrobrás está alta porque o dólar estava altíssimo, o preço do petróleo elevado e experimentando brutal queda, justo quando pesados investimentos eram feitos para se produzir antecipadamente no pré-sal. Hoje, esse dinheiro investido no passado está gerando expressiva caixa com a produção atual, de 1,5 milhão de barris/dia e praticamente não gera lucro. Porque? Então, o mito da Petrobrás quebrada é comprovadamente mito. O economista Cláudio Oliveira demonstrou isso com base nos dados dos balanços e balancetes da Petrobras. Então, ó número de alavancagem que está sendo perseguido hoje, talvez valha para uma indústria têxtil, siderúrgica etc. Mas não para setor petróleo. É uma decisão meramente financista e subserviente à banca internacional que, paradoxalmente, oferece mais dinheiro que a Petrobras necessita quando ela vai ao mercado. Deve ser porque são banqueiros bonzinhos que não hesitam emprestar grana para uma empresa pré-falimentar, pois os querubins parentianos a salvarão o caos mitológico. Pergunto? Qual é a visão ou ótica desenvolvimentista para o Brasil com tal política?.

A Petrobrás restringiu investimento em um momento que o País Brasil atravessa uma situação calamitosa. São 26 milhões de desempregados reais . Temos um potencial no setor de petróleo, que deveria ser extraído, até mesmo exaurido, no curto prazo. Além disso, deveríamos estar investindo em energia limpa também. Não temos um projeto de País. Está tudo um caos. Aliás vendemos o que tínhamos em biocombustíveis e a geração de energia eólica e solar poderiam experimentar produções e potenciais mui mais expressivos que os atuais.

Por exemplo, eu não sou contra venda de ativos terrestres. Mas, o momento é ruim e a venda agora a aventureiros é absolutamente arriscada. Os break evens dos projetos dos campos de terra são altos. Se a Petrobras tivesse feito, há muito, contratos de parceria, estabelecendo uma curva mínima de produção, poderia minorar a penúria que grassa nos estados nordestinos. A produção em terra é uma calamidade em termos de vazão, por absoluta falta de investimentos. A Petrobrás alega que não tem dinheiro. Então, porque não incentivar os empresários nacionais de pequeno a médio porte a fazerem os investimentos recebendo, em contrapartida, expressivos montantes sobre os volumes incrementados, ao invés de vender os campos portadores que em termos absolutos, não servirão a quaisquer propósitos. Certamente não faltariam investidores que, aliados aos potenciais produtores nacionais, poderiam comprar, no futuro, ativos já sob as suas tutelas.

Fonte: Petronotícias

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Davi de Souza
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