Golpe no Chile e morte de Allende: o 11 de Setembro da América Latina

Washington temia perder sua influência na região para a União Soviética

Publicado em 11/09/2019
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Os aviões de guerra do Exército investem contra sua própria sede do Poder Executivo. O presidente, acuado e diante do golpe, comete suicídio. Em 11 de setembro de 1973, o Chile conheceu sua ditadura.

Antes do 11 de Setembro se tornar ainda mais infame pelos atentados contra os Estados Unidos em 2001, a data já era conhecida pelos latinos-americanos.

O golpe chileno que nesta quarta-feira completa 46 anos derrubou o presidente Salvador Allende e abriu caminho para o governo ditatorial do então general-chefe do Exército Augusto Pinochet. Eleito em 1970 com bandeiras socialistas, Allende avançava com a reforma agrária e havia nacionalizado as reservas de cobre do Chile. Sua postura desagradou os Estados Unidos e classes econômicas poderosas, que tramaram sua queda.

O Departamento de Estado dos EUA também atuou para desestabilizar o Chile de Allende. Washington temia perder sua influência na região para a União Soviética e via com desconfiança um socialista eleito pelas urnas. Ainda sob o efeito da tomada do poder por Fidel Castro em Cuba, os Estados Unidos não gostariam de ver mais um governo simpático a Moscou na América Latina em plena Guerra Fria.

Fitas magnéticas com diálogos da Casa Branca, reveladas apenas em 2013, mostram que o então presidente Richard Nixon afirmou: "Decidi que vamos tirar Allende (...) Ele é um inimigo (...) Vale tudo no Chile. Dê um chute no traseiro deles, ok?".

"Allende tinha propostas distributivas, que mexiam com as estruturas tradicionais de poder e de recursos econômicos.
Essas medidas passaram a ser vistas como de alinhamento ao bloco soviético",
afirma à Sputnik Brasil a professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Denilde Holzhacker.

 

Além da tomada de poder por Pinochet, outros países da América Latina sofreram golpes de Estado na década de 1970, como Bolívia (1971), Uruguai (1973) e Argentina (1976). Holzhacker ressalta que o período era de "efervescência", repressão dos dois lados da Cortina de Ferro e transformações políticas profundas na África, que viva uma onda de revoluções de descolonização.

Allende, ressalta a professora da ESPM, era uma figura vista como moderada por alguns setores políticos. O então presidente resistia a armar proletários, como alguns setores da esquerda defendiam.

Sob uma forte diretriz anticomunista, a ditadura de Pinochet causou 3.225 mortes ou desaparecimentos, além de dezenas de milhares de casos de tortura. "A violência foi um recurso bastante usado, também porque havia muitos movimentos organizados, era uma sociedade que tinha uma posição de debate democrático mais consolidada que outros países da América Latina", diz Holzhacker.

Sentença do Supremo chileno reconheceu recentemente que Pinochet desviou US$ 6,5 milhões de recursos públicos para contas secretas no exterior e o general Manuel Contreras, que foi dirigente da polícia política da ditadura, já acusou Pinochet de envolvimento com o tráfico de cocaína.

Bolsonaro e Pinochet

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) usou a ditadura de Pinochet para atacar a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet. Contrariado por declarações de Bachelet, que hoje é Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, sobre a diminuição do "espaço democrático" no Brasil, Bolsonaro afirmou:

"[Bachelet] se esquece de que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas estava seu pai, brigadeiro à época", disse o presidente brasileiro.

Bachelet foi torturada pela ditadura e seu pai, Alberto Bachelet, foi torturado e morto pelo regime militar.

A declaração de Bolsonaro causou indignação no Chile. O presidente Sebastián Piñera afirmou que não compartilha "em absoluto a alusão feita pelo presidente Bolsonaro a uma ex-presidenta do Chile e, especialmente, em um assunto tão doloroso quanto a morte de seu pai".


"Sempre que há uma referência à ditadura como um fator positivo, como foi o caso de Bolsonaro, causa um grande constrangimento. Tanto que levou a uma forte ação interna contrária à fala dele, inclusive de Piñera, que é alguém de direita e hoje estaria mais alinhado ao Bolsonaro em termos ideológicos", diz a professora Denilde Holzhacker.

Não é a primeira vez que Bolsonaro simpatiza com Pinochet. Em 2006, então como deputado federal, Bolsonaro enviou telegrama à Embaixada do Brasil no Chile com um recado de solidariedade a Augusto Pinochet Molina, neto do ditador que fora afastado do Exército. No texto, Bolsonaro elogia Molina por "não se curvar às mentiras da esquerda" e diz que Pinochet é "saudoso".

Fonte: Sputnik

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