Por estar à frente da diretoria que conseguiu esse feito em 2006, o geólogo e conselheiro do Clube é considerado o “pai do Pré-Sal”. Por ter no próprio nome a designação do corpo celeste já popularmente associado à sorte, para muitos ela pode ter ajudado a obter esse sucesso. No entanto, o depoimento mostrou que o encontro desses depósitos em águas ultraprofundas esteve longe de ser fruto de boa fortuna, mas resultado de décadas de acúmulo de experiências e conhecimento, bem como da vontade política de investir em prol da soberania nacional sobre os recursos naturais e a energia.
“O presidente Lula e a presidenta Dilma disseram que o Pré-Sal foi o bilhete de loteria que nós ganhamos. Pera lá, não é bilhete de loteria. Sorte é na Megasena. Tem toda uma história de estudos geocientíficos e não é sorte do Estrella”, contou o geólogo, que é fanático torcedor do Botafogo, time que coincidentemente tem a estrela como símbolo.
Sempre bem-humorado, Estrella contou também sobre como a interação entre profissionais da engenharia e da geologia nas pesquisas do Pré-Sal, envolvendo tanto o Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras) quanto o pessoal operacional foi frutífera. Essa troca não foi algo tão simples, tendo em vista os diferentes modelos que os técnicos haviam produzido ao longo dos estudos e da carreira. Mas o espírito de colaboração prevaleceu, gerando maior assertividade através de análises probabilísticas e na precisão das sondagens.
“Há uma rixa entre geólogos e engenheiros. Na Petrobras, onde muitos trabalham juntos, há sempre uma gozação. Os engenheiros dizem que passamos a vida contando história, enquanto eles têm que conhecer as equações matemáticas, cálculo integral, para ganhar a vida. Então, se tiver que fazer uma reportagem, não procure um geólogo, porque ele vai começar a contar a história a partir de 3,5 bilhões de anos, que é o conhecimento que temos o planeta”, ironizou Estrella.
Por pouco, o próprio Estrella não virou engenheiro, pois conforme ele contou no depoimento, essa era sua opção preferida na época em que cursou o antigo curso Científico. No início da década de 1960, a Universidade do Brasil (atual UFRJ) estava iniciando o curso de Geologia e a orientação para a busca dessa então nova profissão veio de um diretor do colégio da Ilha do Governador, onde morava. A escolha acabou sendo boa para ele e para o país, que carecia desses profissionais, sobretudo para os estudos para a descoberta de petróleo.