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Indústria brasileira: perda de posições mundiais em setores estratégicos

Brasil vem desmontando sua posição nos setores industriais de maior intensidade tecnológica

Publicado em 21/09/2018
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A UNIDO – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial divulgou recentemente dados até o ano de 2017 sobre o panorama mundial da indústria de transformação, mostrando que houve um importante ganho de dinamismo do setor. Impulsionado por uma performace superior sobretudo da Europa e dos países em desenvolvimento, o valor adicionado da indústria de transformação (VTI) no mundo cresceu 3,5% em 2017, o melhor resultado dos últimos seis anos.

A evolução mundial poderia ter sido melhor não fosse a América Latina, que continua jogando contra uma aceleração da indústria mundial. Desde 2015, o VTI da região tem declinado e 2017 não foi diferente, à exceção do fato de que a queda se tornou menos intensa: -0,3% frente a 2016. Segundo a UNIDO, as causas por trás deste desempenho incluem redução dos preços das commodities, a recessão da economia brasileira e o declínio de sua indústria.

Nunca é demais frisar que a participação do valor adicionado da indústria de transformação brasileira chegou a meros 11,7% do PIB nacional em 2017 e que, em termos per capita, caiu 14,6% entre 2010 e 2017, a preços constantes, segundo dados da UNIDO. Diante de tantas adversidades que o setor tem encontrado e desta trajetória cadente, o resultado não poderia ser outro que não uma perda sistemática de sua participação no VTI mundial. Entre 2005 e 2017, o peso da indústria de transformação brasileira no mundo regrediu de 2,9% para 2,0%, a maior parte (-0,7 p.p.) disso só nos últimos sete anos.

Apesar desta involução, o Brasil tem se mantido entre as dez maiores potências industriais do globo. Depois de cairmos da 6ª para a 9ª posição entre 2014 e 2016, conseguimos manter nossa posição em 2017. Este, porém, não foi crédito do país, já que o ranking das principais nações industriais não se alterou entre 2016 e 2017. Nas cinco primeiras colocações continuam aparecendo China (24,8% do VTI mundial), EUA (15,3%), Japão (9,1%), Alemanha (6,3%) e Índia (3,3%).

Se a trajetória de perda de participação brasileira na indústria mundial já é muito preocupante, há outro aspecto dos dados da UNIDO que sinaliza para uma situação ainda mais grave. O Brasil vem desmontando sua posição nos setores industriais de maior intensidade tecnológica, justamente em um momento em que tais setores têm ganho dinamismo no mundo, em função da emersão da indústria 4.0.

Segundo a UNIDO, entre 2005 e 2015, a relação entre o valor adicionado das indústrias de média e alta intensidade tecnológica e o da indústria total cresceu na maioria das economias em desenvolvimento, apesar de diferenças significativas entre os países individualmente. O Brasil surge como uma das exceções mais dramáticas, pois essa relação caiu de mais de 50% em 1995, para cerca de 34% em 2000, mantendo-se praticamente estável desde então.

Um setor-chave para esse grupo de média e alta tecnologia e base para a indústria 4.0, de acordo com a UNIDO, é o de Computadores, eletrônicos e produtos óticos. Neste caso, enquanto a China alcançou a liderança nesse segmento, com 28% do VTI mundial, ultrapassando os Estados Unidos e o Japão, o Brasil foi perdendo espaço. Dentre os países emergentes exceto China, a posição brasileira neste setor regrediu da 2ª para a 4ª colocação, com perda de participação de 13,6% para 7,2%.

O descompasso brasileiro fez com que, entre 2010 e 2016, o país deixasse de constar na lista dos 15 maiores produtores do setor de Computadores, eletrônicos e produtos óticos. E este não foi o único caso. Na indústria Farmacêutica, que também é um setor de elevada intensidade tecnológica, o Brasil perdeu posição e não se encontra mais entre os 15 maiores. Outros setores em que o país recuou no ranking incluem Equipamentos elétricos, Máquinas e equipamentos e Veículos automotores (menos 3 posições cada).

Em direção oposta, o Brasil melhorou sua colocação no ranking de Produtos de madeira (de 11º para 9º maior produtor) e Impressão e publicação (de 11º para 8º) – cujo valor adicionado, neste último caso, vem francamente declinando no mundo, especiamente nos países industrializados. Vale mencionar ainda que o Brasil figurava entre os 5 maiores produtores nos setores de Couro (4ª posição), Coque e refino de petróleo (5ª posição) e Alimentos (5ª posição).

O perfil dos setores industriais em que estamos sendo rebaixados no ranking mundial vis-à-vis o perfil daqueles em que estamos ascendendo ou ainda daqueles em que ocupamos posições de liderança inconteste, como visto acima, é mais uma maneira de verificar a especialização do Brasil em ramos industriais de menor valor adicionado ou baseados em nossas riquezas naturais. Este é um processo preocupante que tem acompanhado a perda de participação do país na indústria mundial.

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