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Indústria: o Brasil na contramão do mundo

Indústria de ponta avança, Brasil fica para trás

Publicado em 14/06/2019
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A Unido (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial), em seu relatório anual de 2019, analisou a evolução da indústria de transformação mundial em 2018. 

A principal conclusão do relatório é que, mesmo em uma velocidade menor, o setor avança no mundo, puxado por ramos de maior intensidade tecnológica. Enquanto isso, na ausência de uma recuperação vigorosa e consistente, o Brasil está ficando para trás.

O Valor de Transformação Industrial (VTI) mundial no ano passado cresceu +3,6%, em valores constantes de 2010, segundo pesquisa da Unido. Isso representa uma desaleceração frente ao desempenho de 2017 (+3,8%), decorrente da perda de ritmo dos parques industriais tanto em economias emergentes e em desenvolvimento (de 4,1% em 2017 para +3,8% em 2018) como nas economias industrializadas (de +2,6% para +2,3%).

EUA x China

Uma das principais causas apontadas para o resultado mais fraco em 2018 foram as incertezas provocadas pelos conflitos comerciais entre EUA e China. Apesar disso, a produção chinesa de manufaturas manteve um patamar expressivo de crescimento: 6,2% (-0,4 p.p. em relação a 2017), enquanto os EUA fugiram à regra e assinalaram ganho de velocidade, passando de +1,9% em 2017 para +3,1% em 2018.

A América Latina, por sua vez, ganha destaque pela concentração de taxas negativas. Os piores casos incluem Venezuela (-19,6%) e Argentina (-4,7%), atingindo também Porto Rico (-2,1%). Segundo ainda os dados da UNIDO, no Brasil o valor adicionado da indústria de transformação retrocedeu em 2018 (-0,4%), embora não tanto como 2017 (-1,2%). Vamos ficando, assim, mais e mais para trás em um mundo industrial que não apenas cresce, mas também se transforma com a introdução de novas tecnologias.

De fato, a sequência recente de resultados negativos do Brasil tem aprofundado sua perda de expressão no panorama internacional da indústria. Em 2018, o país conservou sua 9ª colocação no ranking das maiores potências industriais do mundo, mas o risco de ficar de fora deste batalhão de elite é real. Sinal disso é que a participação brasileira no VTI mundial, que chegou a ser de 2,81% em 2005, não passou de 1,9% em 2017 e regrediu para 1,83% em 2018.

Indonésia no vácuo

Nas primeiras colocações do ranking estão os países mais comprometidos com suas indústriais, muitos deles liderando atualmente a revolução tecnológica que está na origem da indústria 4.0. É o caso da China, em primeiro lugar, com ¼ da manufatura global, seguida por EUA, Japão, Alemanha, Índia, Coréia do Sul, Itália e França. Abaixo do Brasil, na 10ª colocação, está Indonésia, que, se mantiver sua trajetória recente, poderá nos ultrapassar já em 2019.

Outro sintoma de que não estamos acompanhando o mundo é o declínio do nosso VTI per capita. Entre 2010 e 2018, em valores constantes de 2010, o VTI per capita do Brasil saiu de US$ 1.353 para US$ 1.175, isto é, uma queda de -13%. Em direção oposta, no mundo houve aumento de +29% e no grupo das economias emergentes e em desenvolvimento, do qual o Brasil faz parte, a alta chegou a +89%.

Tamanha assimetria decorre do fato de o crescimento anual do valor adicionado da indústria de transformação em 2010-2018 ter sido de -2,1% no Brasil e de +3,2% no mundo como um todo e de +5,3% nos países emergentes e em desenvolvimento. Reverter isso exige colocar a indústria brasileira de volta nos trilhos do crescimento, algo que não está acontecendo desde final do ano passado. Vale lembrar que a produção física do setor, segundo o IBGE, caiu tanto no 4º trim/18 como no 1º trim/19.

Ainda mais grave é a divergência das rotas da indústria de maior intensidade tecnológica no Brasil e no restante do mundo. Isso porque os ramos de alta e média-alta tecnologia, além de empregarem mão de obra mais qualificada e pagarem salário maiores, também constituem o polo mais dinâmico da indústria em pesquisa e desenvolvimento e inovação.

Nos países desenvolvidos, o ramo de computadores, eletrônicos e produtos óticos, que é um veículo para a digitalização das economias, assumiu o posto de segunda maior indústria, com participação de 10,1% da parcela do VTI total deste grupo em 2017 (último dado disponível). Ficou atrás, por pouco, apenas da indústria alimentícia (10,7%). Em 3º e 4º lugar, aparecem os ramos de máquinas e equipamentos (9,9%) e de veículos automotores (9,3%).

Nos emergentes e em desenvolvimento, computadores, eletrônicos e produtos óticos também estão ganhando participação, passando de 5,5% para 7,7% entre 2005 e 2017. Já é a quarta indústria mais importante deste grupo de países, atrás de alimentos (12,2%), metais básicos (9,9%) e químicos (8,8%). No Brasil, por sua vez, a distribuição do VTI concentrou-se cada vez mais em ramos mais distantes da fronteira tecnológica, sobretudo na indústria alimentícia, cuja participação avançou de 18,3% em 2005 para 22,6% em 2017.

Além disso, o país regrediu posições no ranking de setores tecnologicamente mais dinâmicos, como em máquinas e equipamentos, veículos e equipamentos elétricos. No caso de computadores, eletrônicos e produtos óticos, o Brasil nunca chegou a ocupar uma posição de liderança mundial e no caso da farmacêutica perdeu a 14ª colocação de 2005 e deixou de pertencer ao grupo dos 15 maiores parques industriais do setor.

Clique aqui para ler o estudo na íntegra 

Fonte: IEDI

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