Morre Alberto Luiz G. Coimbra, fundador da Coppe

Em 1963, fundou a primeira pós-graduação em Engenharia do Brasil

Publicado em 17/05/2018
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A Coppe/UFRJ informou, com grande pesar, o falecimento do seu fundador, professor Alberto Luiz Galvão Coimbra, 94 anos, na manhã desta quarta-feira, 16 de maio de 2018. Nascido em 1923, no Rio de Janeiro, Coimbra fundou a Coppe, em 1963, a primeira pós-graduação em Engenharia do Brasil, hoje o maior centro de ensino e pesquisa da América Latina na área.

O velório do professor Alberto Luiz Galvão Coimbra, será realizado, nesta quinta-feira, 17 de maio, no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, a partir das 10h. A cerimônia de cremação terá início às 16h.

Mestre em Engenharia Química pela Universidade de Vanderbilt (1949), Coimbra defendeu energicamente um modelo de ensino baseado em horário integral, com dedicação exclusiva. Isso em uma época em que ser professor universitário no Brasil era só uma atividade extra, e quando as escolas de Engenharia, então existentes, se preocupavam, basicamente, em formar profissionais para o mercado, ele queria investir em pesquisa.

Baseada em três pilares – excelência acadêmica, dedicação exclusiva de professores e alunos e aproximação com a sociedade –, a pós-graduação criada por Coimbra inspirou e serviu de modelo para outros cursos de pós-graduação criados posteriormente no Brasil, mudando os rumos do sistema universitário no país.

Coimbra fez uma viagem aos Estados Unidos em 1960, a convite de seu orientador, professor Frank Tiller, para conhecer diversas universidades americanas. A disputa entre os Estados Unidos e a União Soviética pela primazia nos avanços tecnológicos provocara uma reformulação nos cursos de Engenharia americanos. Havia uma nova ênfase na pesquisa científica, uma valorização dos fundamentos da física e da matemática. O entendimento influenciou a ideia visionária de Coimbra de estabelecer um curso de pós-graduação no Brasil, em uma época em que era rara tal continuidade nos estudos. Era o que faltava ao Brasil, achava Coimbra, já tomado pelo sonho de ver brotar tecnologia na terra do café.

Exílio

Determinado, Coimbra ocupou duas salas do prédio da Praia Vermelha, destinadas a professores quase sempre ausentes, para acomodar os primeiros alunos do curso de mestrado em Engenharia Química, embrião do programa de pós-graduação em Engenharia, que viria a ser a Coppe.

Com poucos recursos, buscava convênios para trazer professores estrangeiros, fossem americanos ou russos, em pleno regime militar. Por conta desta atuação em prol de uma ciência independente, foi convocado para depor na Polícia Federal e fichado, com direito a humilhação. Teve seu rosto coberto por capuz e conduzido, coercitivamente ao Quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca, onde funcionava o DOI-Codi.

Em 1973, o Conselho Universitário decidiu que Alberto Luiz Coimbra seria proibido de exercer postos de chefia. O fundador da Coppe deixou então a universidade e foi acolhido pelo amigo José Pelúcio Ferreira, então na direção da Finep, empresa pública financiadora de ciência e tecnologia. Lá passou dez anos exilado da vida universitária, período que considerou “o pior de sua vida”.

A reabilitação veio em 1981, ainda durante o regime militar, quando recebeu o Prêmio Anísio Teixeira, do Ministério da Educação. “Quando viram que o Ministério da Educação ia me dar o prêmio, tiveram de revogar a proibição de ocupar cargos de chefia na UFRJ”, contou o professor. De volta à Coppe em 1983, Coimbra assumiu a coordenação do Programa de Engenharia Química, o primeiro curso da Coppe, no qual permaneceu como pesquisador até se aposentar, em 1993, já com as merecidas honrarias, tornando-se Professor Emérito da UFRJ. Em 2015, tornou-se Pesquisador Emérito do CNPq.

Em 1995, a instituição que Coimbra sonhou e construiu deu-lhe um dos maiores reconhecimentos que se pode receber em vida: passou a se chamar Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. Manteve-se, porém, a sigla que ele escolhera 30 anos antes: Coppe.

Aposentado, residiu durante anos em uma casa em Teresópolis, em cuja fachada tremulava a bandeira do Botafogo, com sua esposa Marlene, com a qual permaneceu casado por 40 anos. Entre os atrasos do Brasil, um dos que mais lamentava era que o ensino em tempo integral implantado na Coppe, que se estendeu para a graduação, não tenha chegado aos ensinos médio e fundamental. “Se pagarem bem à professorinha e colocarem o aluno na escola das 9 às 15 horas, o Brasil dá um salto”, garantia. O idealismo não pede aposentadoria.

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