Não é a guerra, Prates
Cotação do petróleo perdeu tudo o que ganhou nos últimos meses
Jean Paul Prates, em intempestiva declaração, apenas 48 horas após o ataque do Hamas ao território de Israel, disse que o conflito poderia aumentar o preço dos combustíveis. Segundo reportagem da Agência Brasil, o presidente da Petrobrás, tentando defender a “nova política de preços” da empresa, disse:
“Não porque a gente acordou agora nesta segunda-feira com este processo [a guerra]. A gente vai ver. Na verdade, não tem que fazer muito mais do que a gente já está fazendo. Ter habilidade de ir acompanhando os preços, principalmente do diesel, e ir se organizando de acordo com isso. Se tiver que haver ajuste, a gente vai fazer ajuste”.
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A declaração de Prates não causa surpresa à AEPET que, através de uma série de artigos do seu vice-presidente, Felipe Coutinho, tem apontado a farsa do discurso do atual presidente da Petrobrás de que pôs fim à política de Preços Paritários de Importação (PPI), adotada desde outubro de 2016, e que tanto prejuízo tem causado ao Brasil, em benefício dos produtores estrangeiros, importadores e distribuidoras privadas de combustíveis. O mais recente deles foi “Fim do Preço Paritário de Importação (PPI) é uma falácia nomotética”. Coutinho explica:
“A falácia nomotética consiste na crença de que uma questão pode ser resolvida, ou alterada, simplesmente dando-lhe um novo nome, quando, na realidade, a questão permanece sem solução, ou mantida”.
É claro que o “mercado’ internacional de petróleo tenha amanhecido preocupado na manhã da segunda-feira, à reboque das notícias sobre o conflito. Afinal, embora Israel e Palestina (quanto menos o Hamas) não tenham petróleo, suas posições geopolíticas geram tensão na maior região produtora do planeta.
Entretanto, o “mercado” escolhe suas guerras, independentemente da crueldade que os conflitos possam causar. Assim, nessa segunda-feira, o ligeiro aumento nas cotações do óleo, foi classificado pelos analistas como um “prêmio” aplicado pelos “traders” (especuladores) aos preços.
Depois de alta significativa nos últimos meses, motivadas principalmente pela reabertura da China pós-Covid, uma aparente melhora nas economias ocidentais e os cortes de produção da Opep+, o barril passou de US$ 74 para mais de US$ 94.
Porém, as altas dos juros dos bancos centrais dos EUA e da União Europeia, que minam as possibilidades de retomada do crescimento, frearam as altas e o petróleo voltou ao patamar dos US$ 80 por barril.
Assim, o “alerta” de Prates sobre o aumento nos combustíveis, principalmente do diesel, soa apenas como “afago ao sistema financeiro e agentes do mercado”. E evidencia que a nova gestão da Petrobrás não abandonou o PPI.
Coutinho concluiu assim suas críticas e sugestões sobre a política de preços da Petrobrás:
“A AEPET acredita que a Petrobrás pode praticar preços inferiores aos paritários de importação (PPI) e obter excelentes resultados empresariais, com a recuperação da sua participação no mercado brasileiro e a maior utilização da sua capacidade instalada de refino.
Somente a Petrobrás consegue suprir o mercado doméstico de derivados com preços abaixo do paritário de importação e, ainda assim, obter resultados compatíveis com a indústria internacional e sustentar elevados investimentos que contribuem para o desenvolvimento nacional... com alta capacidade de investimento e resiliente à variação do preço do petróleo.”
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