Novo retrocesso do Brasil na Indústria Mundial

País vem sistematicamente sendo rebaixado no ranking da indústria global

Publicado em 03/01/2023
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Segundo a última edição do Anuário Internacional das Estatísticas Industriais da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), o valor adicionado da indústria de transformação mundial cresceu +7,2% em 2021, mais do que compensando o recuo de 2020 (-1,3%), devido ao choque da pandemia. Foi o melhor resultado da última década. Só não superou 2010 (+9,0%), mas neste caso existiam perdas maiores para compensar (-5,9% em 2009).

Este desempenho da indústria mundial em 2021 se deu a despeito de obstáculos importantes, como os da produção de veículos automotores, particularmente prejudicada pelas rupturas nas cadeias de suprimentos de materiais e componentes. Outros veículos de transportes também apontaram queda acentuada do MVA (manufacturing value added) em 2021, bem como coque, petróleo refinado e outros derivados do petróleo, produtos de metal e têxteis.

Por sua vez, os ramos farmacêutico, de equipamentos elétricos e computadores, produtos óticos e eletrônicos conseguiram se manter no positivo nos últimos três anos, sendo que este último segmento tornou-se, em 2021, o maior segmento da indústria de transformação em termos de MVA mundial.

Entre os diferentes países, a China preservou sua posição de líder no ranking das maiores indústrias de transformação no ano passado, atingindo sua maior participação já registrada, de 30,5% do valor adicionado do setor (MVA). O topo do ranking se completa com EUA (16,8%), Japão (7,0%) e Alemanha (4,8%).

Dois países merecem destaques por sua performance recente. Um deles é a Índia, que ocupou o posto de 5ª maior indústria manufatureira do mundo, com uma participação de 3,2% do MVA mundial em 2021, quase o dobro da parcela de 2005. Em outras ocasiões, o IEDI discutiu o esforço do governo indiano em fortalecer suas competências industriais, como nas Cartas IEDI n. 709 e n. 849.

O outro país é Taiwan, cuja participação na indústria de transformação mundial progrediu de apenas 1,0% em 2005 para 1,6% em 2021, quando ocupou a 10ª posição do ranking da UNIDO. Em praticamente uma década Taiwan desbancou o Brasil do ranking, que ocupada a 10ª em 2010. Quem também nos ultrapassou nos últimos anos foram Indonésia e Turquia.

De fato, o Brasil vem sistematicamente sendo rebaixado no ranking da indústria global. Entre 2020 e 2021, nossa posição relativa seguiu piorando, com a participação brasileira no MVA mundial recuando de 1,31% para 1,28%. Em 2005, tínhamos a 9ª maior indústria de transformação do mundo, em 2020 éramos a 14ª e em 2021 caímos para a 15ª posição no ranking.

Na competição internacional pelo desenvolvimento de capacidades industriais e, assim, na consolidação de trajetórias robustas de crescimento econômico e da renda da população, não basta registrar expansão do valor adicionado pelo setor. É preciso que ocorra em ritmo semelhante ao restante do mundo e, no caso do Brasil, aproximando-se da performance de outros emergentes de destaque.

Em 2021, em termos reais, enquanto o MVA mundial cresceu +7,2%, o do Brasil variou +4,8%, embora contasse com uma base de comparação muito mais fraca (-4,3% em 2020). Já faz mais de uma década que ficamos abaixo do desempenho industrial global, com o que não surpreende a rota descendente de sua posição no ranking da UNIDO.

A reversão deste quadro vai precisar, como o IEDI vem defendendo há muito tempo, ações sistêmicas que melhorem o ambiente de negócios no país, a começar por uma reforma tributária que nos aproxime do padrão mundial de impostos sobre valor adicionado (IVA) e por uma maior integração ao comércio internacional. Serão necessárias também medidas direcionadas às tendências da digitalização, sustentabilidade e resiliência, que constituem eixos de modernização e de alavancagem da produtividade industrial.

Ao se fazer isso, dado que a indústria é um veículo do desenvolvimento socioeconômico, é o país como um todo que ganha. Tanto é assim que o fortalecimento industrial integra os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, recebendo ênfase nesta última edição do Anuário da UNIDO.

A necessidade de revitalizar a indústria brasileira é clara quando, na maior parte dos indicadores do ODS 9 providos pela UNIDO (correspondente à indústria, inovação e infraestrutura), o desempenho do Brasil foi decrescente e ficou aquém da média mundial e do grupo de economias industrializadas de renda média ao qual pertencemos.

Por exemplo, a participação da indústria de transformação no PIB, segundo os dados atuais da UNIDO, caiu entre 2015 e 2021 de 10,5% para 10,2% no Brasil, ficando bem aquém da média de 22,9% dos países do grupo ao qual o Brasil pertence e do agregado mundial, de 16,9%. O MVA per capita do Brasil encolheu de US$ 927 em 2015 para US$ 875 em 2021, o que equivale a 42% do MVA per capita dos países industrializados de renda média e quase 50% do valor na média mundial.

Quanto à indústria de média e alta intensidade tecnológica, os dados da UNIDO mostram uma participação no MVA total para o Brasil em queda: de 35,5% em 2015 para 33,7% em 2021. A média do grupo a que o Brasil pertence é de 39,3% e no agregado do setor no mundo, de 45,1%.

A única exceção cabe à intensidade de CO2 emitidos pela indústria de transformação, mas mesmo neste caso não conseguimos superar a performance do agregado do setor no mundo. Entre 2015 e 2019 (último dado disponível) a média do Brasil em kg de CO2 por dólar de valor adicionado na indústria de transformação (a preços de 2015) se reduziu de 0,47 para 0,43, igualando-se à média mundial (0,43). Em relação ao conjunto de países industrializados de renda média (0,63), nós nos saímos melhor.

Mundialmente, a indústria de transformação sozinha respondeu por 18% das emissões de CO2, relacionadas ao consumo de energia. Houve queda das emissões de -5% em 2020, mas novo aumento de +6% em 2021. Atualmente, são os países industrializados de renda média que mais emitem CO2 a partir da indústria de transformação, seguidos pelos de alta renda. Mas todos os grupos de economias estão conseguindo reduzir emissões de CO2 por unidade de MVA, segundo a UNIDO.

Fonte IEDI

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