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Novos blocos da Petrobrás no pré-sal podem aumentar dívida da empresa e forçar venda de ativos

O alerta é do geólogo Luciano Chagas, em entrevista ao site Petronotícias

Publicado em 08/11/2019
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Esta sexta-feira (7) marca o fim de uma semana muito movimentada para o setor de óleo e gás, onde os olhos de todos se voltaram para a Petrobrás. A estatal foi protagonista de diferentes formas nas licitações dos últimos dias. De um lado, ganhou destaque no leilão da Cessão Onerosa, apesar da ausência de lances de concorrentes. Por outro, frustrou expectativas por causa de seu desempenho na 6ª Rodada de Partilha, quando desistiu de dois blocos onde tinha o direito de preferência. O saldo dessa conta é que a petroleira conquistou importantes ativos para seu portfólio. No entanto, isso pode trazer algumas consequências negativas para a companhia, conforme aponta o membro da Associação de Engenheiros da Petrobrás (Aepet), o geólogo Luciano Seixas Chagas.

“Como a Petrobrás vai pagar, aproximadamente, US$ 17 bilhões – que equivalem a cerca de R$ 67 bilhões – relativos ao que adquiriu nos leilões de ontem e anteontem, isso tornará a sua dívida maior”, afirmou. “Isso vai forçar a empresa ou reforçar o discurso de se vender mais ativos, obedecendo a linha de raciocínio do seu presidente, Roberto Castello Branco”, projetou Seixas. Ainda assim, o geólogo acredita que as aquisições feitas foram importantes do ponto de vista operacional. “Apesar dos pesares, os bons ativos foram adquiridos para os brasileiros se os atuais governantes não os venderem, como aconteceu com os campos e acumulações de Lapa, Carcará, etc. Fatos são incontestáveis”, concluiu.

Como o senhor avalia a falta de competição no leilão da Cessão Onerosa já que as áreas tinham petróleo abundante e um baixo ou nenhum risco exploratório?

Qualquer empresa do mundo pagaria muito por um ativo de primeira classe como Búzios e Atapu. Existem duas alternativas para explicar a falta de concorrência no leilão da Cessão Onerosa. A primeira é o preço elevado de bônus de entrada, que não é o caso para o tipo de ativo. A segunda é que as empresas que participaram são multinacionais pertencentes ao capital financeiro ou estatais que preservam uma política de beneficiar seus países de origem.

Nas áreas que estão em desenvolvimento, como Búzios, a Petrobrás já fez vultuosos investimentos, que serão ressarcíveis conforme preconizado. E há uma indefinição de quanto seria o valor de ressarcimento, além do fato de que a operação ficaria com a Petrobrás, o que lhe dá uma excepcional vantagem em termos de gerenciamento e ganhos tecnológicos.

Em Búzios, se não me engano, há pelo menos cinco FPSOs instaladas ou encomendadas e muitos poços concluídos, que totalizam um volume gigantesco de dinheiro, além de dutos de escoamento da produção. Estas indeterminações assustaram as companhias estrangeiras, acostumadas com aquisições por preços atraentes no nosso Brasil varonil.

Além disso, o modelo ideal para essas companhias não é esse de partilha, com a entrega de parte de percentual em óleo para a União. O que elas querem é serem donas do óleo, como no modelo de concessão. Isso seria muito mais vantajoso financeiramente para elas.

E qual sua opinião sobre a forma como a Petrobrás se comportou nesse leilão?

Em tese, muito bem, apesar dos senões que elencarei. Há mais de três anos, a mídia e algumas pessoas vêm dizendo que a Petrobrás estava quase falida, fato este negado pelos balanços e balancetes solenemente esquecidos pelos propositais propagadores do caos. Só que a empresa recuperou rapidamente a sua alavancagem mágica de 2,5 com a produção relativa ao que foi investido no pré-sal há pelo menos sete anos.

A geração de caixa consequente permitiu minimizar a dívida dita impagável, provando que a Petrobrás não estava pré-falimentar. A dívida estava acima dos R$ 425 bilhões, ou US$ 125 bilhões, por conta da vertiginosa queda do preço do petróleo e brutal valorização do dólar, moeda de negociação na implantação da infraestrutura para a produção do pré-sal. Em dólar, a dívida hoje é de algo como US$ 86 bilhões. Isto é, compatível com a qualidade dos ativos que a Petrobrás dispõe em termos de disponibilidade e geração de caixa para amortizá-la, corroborando que o divulgado sobre Petrobrás quebrada era uma absoluta e conveniente falácia.

E como esse novo investimento nos leilões dessa semana podem influenciar as finanças da empresa?

Como a Petrobrás vai pagar, aproximadamente, US$ 17 bilhões – que equivalem a cerca de R$ 67 bilhões – relativos ao que adquiriu nos leilões de ontem e anteontem, isso tornará a sua dívida maior. Algo como US$ 104 bilhões que, certamente, elevará de novo a alavancagem, via aumento da dívida. Isso não era condenável? O tempo é o senhor da razão desmentindo os ditos e, pior, redundando o modelo passado, acertado.

Na minha opinião, esse leilão foi realizado apenas para a Petrobrás ajudar a pagar o déficit público de um governo incapaz de equacionar adequadamente a questão. Não entrou quase nenhum dinheiro novo, exceto os 10% que os chineses pagaram em Búzios. A Petrobrás e os chineses ofertaram o mínimo em excedente de óleo para a União. Esse leilão só serviu para ajudar o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o governo Bolsonaro a resolverem problemas que não têm capacidade de solucionar. Assim, usam o dinheiro do investidor para resolver o problema. Se os excedentes estivessem nas mãos da Petrobras há muito tempo, estaríamos gerando empregos no Brasil. O quadro de penúria e desemprego que hoje experimentamos seria parcialmente minorado, face à cadeia positiva gerada pelos investimentos.

E qual a consequência, ao seu ver, desse endividamento?

A Petrobrás vai se endividar de novo, repetindo o que o governo passado fez. A gestão passada foi acusada de ser irresponsável. A atual também é agora? E a resposta é o silêncio doído. A Petrobrás desembolsou US$ 17 bilhões. Isso vai forçar a empresa ou reforçar o discurso de se vender mais ativos, obedecendo a linha de raciocínio do seu presidente, Roberto Castello Branco. Ele quer focar apenas em exploração e produção, que é absolutamente dissonante com a realidade das vendas de ativos de E&P.

O segmento de E&P terá sua rentabilidade reduzida, pois o preço do petróleo tende a permanecer baixo nos próximos anos. Isso, segundo a maioria dos analistas mundiais. A empresa terá menos faturamento, o que facilitará o seu processo de privatização, como é o desejo do governo atual, diariamente expressado pelo ministro Paulo Guedes, que na sua viagem insana, previu a entrada de R$ 106 bilhões alhures.

A Petrobrás e as IOCs também foram bem modestas na 6ª Rodada de Partilha…

No leilão de ontem, só saiu o bloco de Aram, contíguo à Sagitário, que é uma descoberta em processo de delimitação. Todos esses ativos da 6ª Rodada contêm um risco exploratório. As empresas não participaram com ênfase no leilão de hoje porque, no passado recente, compraram ativos de produção que não encerravam quaisquer riscos.

Então, para que iriam comprar, ontem (quinta), áreas com risco? Além disso, há uma grande disponibilidade de óleo pronto para ser produzido ou descoberto no mundo em países como o Irã, Venezuela, Cazaquistão, Guiana, África do Sul, etc. A consequência disso é que os preços deflacionados ficarão como algo em torno de US$ 60 a US$ 55 por barril ou até menos, nos próximos três ou quatro anos.

Os avanços tecnológicos e as energias ditas limpas também permitirão cada vez mais menores gastos energéticos, prolongando o ciclo de abundância atual do energético petróleo. Apesar dos pesares, os bons ativos foram adquiridos para os brasileiros se os atuais governantes não os venderem, como aconteceu com os campos e acumulações de Lapa, Carcará, etc. Fatos são incontestáveis.

Fonte: Petronotícias

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Davi de Souza
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