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Por uma transição energética soberana e de fato justa

Simões: "Brasil precisa de planejamento energético estratégico para que transição não ocorra em detrimento do desenvolvimento socioeconômico do país"

Publicado em 20/03/2024
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Geração hidrelétrica é firme e renovável - Foto: EBC

Em dezembro de 2015, na COP21 de Paris, foi assinado um acordo internacional que estabelece como meta um limite máximo de 2 graus para o aquecimento global – “de preferência limitá-lo a 1,5 graus”. A COP26 de Glasgow, que se realizou em novembro do 2021, confirmou o compromisso de alcançar a chamada Carbon Neutrality até 2050.

No entanto, Gustavo José Simões, vice-diretor Cultural da AEPET, defende que tais metas sejam melhor esclarecidas e que o peso de sua implantação deve ser bem distribuído entre as nações. “O efeito estufa é acumulativo, ou seja, poucos poluem muito. Temos que melhorar nosso IDH antes. Não faz sentido abrir mão do desenvolvimento para pagar a conta dos países ricos, que usaram o petróleo para se desenvolverem”, afirma, ponderando que 70% do aquecimento global se devem aos Estados Unidos e União Europeia, que são apenas 10% da população mundial.


Gases do efeito estufa têm efeito acumulativo

Emissões de gases do Efeito Estufa (GEE) entre 1850 e 2021 (Estados Unidos, Brasil e Europa. (Fonte: Elaboração própria – dados da plataforma aberta Climate Watch).


Industrializar é preciso

Gustavo argumenta que o planejamento energético do país precisa ser “estratégico e soberano”, no sentido de garantir o desenvolvimento socioeconômico. Ele sublinha que, como a AEPET vem demonstrando, o Brasil tem aumentado suas exportações de petróleo cru, sem valor agregado, quando deveria administrar a produção em função de suas metas de desenvolvimento. Isto porque, assim como a indústria, os combustíveis fósseis também não são os principais vilões por aqui, ao contrário do que alardeia a mídia hegemônica a serviço do capital financeiro internacional.

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“O Brasil precisa usar o diferencial de já possuir matriz energética relativamente limpa. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 47% de nossa oferta interna de energia já são renováveis, sobretudo hidráulica, mas também de biomassa. Eólica e solar não chegam a 3%. É preciso considerar o custo e outras limitações nem sempre abordadas. Isto sem falar do petróleo, pois temos o pré-sal e a Margem Equatorial, além dos programas para o álcool e biocombustíveis. Tudo muito eficiente, a custo relativamente baixo, mas, devido à submissão de nossa economia à financeirização, está faltando estratégia soberana. Isso tem que ser pensado junto com a transição energética, um tema relevante mundialmente. O Brasil não pode ficar fora.”

O diretor da AEPET ressalta que planejamento e transição energética estão relacionados. “O país precisa pensar a transição sob a perspectiva do desenvolvimento e superação das desigualdades. Cerca de 73% da poluição climática brasileira advêm das emissões do desmatamento e do agronegócio, não da indústria. Segundo o Global Warming Potential (Potencial de Aquecimento Global, GWP) o gás Metano (CH4), produzido na digestão do gado, tem efeito de aquecimento 21 vezes maior que o CO2 e o Óxido Nitroso, ligado à produção agropecuária, 298 vezes”, destaca.

Gustavo Simões lamenta que o petróleo tenha virado o grande inimigo para os leigos em geral e critica a exportação do hidrocarboneto em estado bruto, sem nenhum valor agregado. “É preciso ressaltar que no governo anterior, entre 2018 e 2021, as emissões ligadas ao uso da terra e da floresta aumentaram 35%, demonstrando o equívoco das políticas públicas, em especial em relação à Amazônia.”

Tecnologia “verde”: pior que petróleo?

Gustavo Simões pondera que fazer ressalvas às regras recomendadas por acordos internacionais não significa negar o aquecimento global. “Os materiais envolvidos na tecnologia para produção de energia solar e eólica não são renováveis. Além do alto custo de produção, o fornecimento é intermitente e não garante segurança energética. Isto sem falar nos enormes prejuízos socioambientais envolvidos”.

Isto porque, esclarece o diretor da AEPET, a chamada “Era Verde” demanda metais raros, que devem se esgotar em poucas décadas, causando, provavelmente, um problema geopolítico ainda maior que o petróleo. “A produção desses minerais está mais concentrada em um número de países ainda menor que a do petróleo. Mesmo os não raros, como o cobre, terão de ser produzidos em volume igual ao total da produção desde o início da atividade humana. No Chile, produzir cobre já está causando sérios problemas ambientais”.

Do ponto de vista global, Gustavo destaca vários desafios, pois a produção de energia envolve vidas humanas e infraestrutura. “Segurança energética é tema que precisa ser levado a sério, não pode se resumir a interesses de mercado. A oferta tem que ser suficiente e a preços acessíveis”, frisa, acrescentando que o enfrentamento da questão vai depender do investimento público, já que o capital privado prioriza o lucro de curto prazo.

“Países europeus já enfrentam dificuldades quanto à viabilidade econômica dessas energias ditas renováveis. Por sua vez, países como o Brasil têm carências sociais enormes, como o saneamento básico. Como investir em projetos tão caros sem que o preço da tarifa aumente e sem garantir que o planeta será salvo?”, indaga.

“Temos tudo para desenvolver uma grande nação. O acesso aos hidrocarbonetos é essencial para a melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo”, resume o diretor da AEPET.

Gustavo José Simões é Historiador, Engenheiro Mecânico e Doutor em Engenharia pela UFRJ

Leia os artigos de Gustavo Simões:

Os gases de um efeito antidesenvolvimentista

Verdades inconvenientes sobre as energias verdes

Desafios Globais para a Transição Energética

Rogerio Lessa
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