Desigualdade: menos de 60 mil ricaços controlam 3x mais riqueza do que metade da humanidade

Desigualdade está se acelerando: riqueza dos bilionários cresceu a uma taxa 2x maior que a da metade mais pobre do planeta.

Publicado em 10/12/2025
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Desigualdade social (foto de Vladimir Platonow, ABr)

Os 0,001% mais ricos da população mundial, menos de 60 mil multimilionários, controlam hoje três vezes mais riqueza do que metade da humanidade. Sua participação cresceu de forma constante, de quase 4% em 1995 para mais de 6% atualmente, o que ressalta a persistência da desigualdade.

Levando em conta os 10% mais ricos da população mundial, ele ganham mais do que os 90% restantes, enquanto a metade mais pobre da população mundial detém menos de 10% da renda global total. A riqueza é ainda mais concentrada: os 10% mais ricos detêm três quartos da riqueza global, enquanto a metade mais pobre detém apenas 2%.

Os dados constam do Relatório Mundial sobre a Desigualdade 2026 (WIR 2026). A publicação, conduzida pela rede World Inequality Lab, da Paris School of Economics, reúne mais de 200 especialistas liderados pela equipe do economista francês Thomas Piketty.

A concentração não é apenas persistente, como também está se acelerando. Desde a década de 1990, a riqueza dos bilionários e dos centimilionários cresceu a uma taxa de aproximadamente 8% ao ano, quase o dobro da taxa de crescimento da metade mais pobre da população. Os mais pobres obtiveram ganhos modestos, mas estes são ofuscados pela extraordinária acumulação no topo da pirâmide.

 

Gráfico elaborado pelo World Inequality Lab mostra desigualdade no planeta
Desigualdade (gráfico elaborado pelo WIL)

Transferências e tributação ajudam a reduzir desigualdade

O relatório mostra como a tributação progressiva e, especialmente, as transferências redistributivas reduziram significativamente a desigualdade em todas as regiões, particularmente quando os sistemas são bem concebidos e aplicados de forma consistente.

“Na Europa e na América do Norte e Oceania, os sistemas de tributação e transferência reduziram consistentemente as disparidades de renda em mais de 30%. Mesmo na América Latina, as políticas redistributivas introduzidas após a década de 1990 obtiveram grandes avanços na redução das desigualdades. As evidências mostram que, em todas as regiões, as políticas redistributivas foram eficazes na redução da desigualdade, embora com grandes variações”, atesta o World Inequality Lab.

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Mesmo taxas modestas de um imposto mínimo global sobre bilionários e centimilionários poderiam arrecadar entre 0,45% e 1,11% do PIB global e financiar investimentos transformadores em educação, saúde e adaptação climática.

A cada ano, 1% do PIB global flui das nações mais pobres para as mais ricas

A desigualdade também está profundamente enraizada no sistema financeiro global. “A atual arquitetura financeira internacional está estruturada de forma a gerar desigualdade sistematicamente.” Os países que emitem moedas de reserva (ex. dólar, euro) podem tomar empréstimos a custos mais baixos, emprestar a taxas mais altas e atrair poupança global. Em contrapartida, os países em desenvolvimento enfrentam o oposto: dívidas caras, ativos de baixo rendimento e uma contínua fuga de rendimentos.

As economias ricas continuam a se beneficiar de um “privilégio exorbitante”: a cada ano, cerca de 1% do PIB global (aproximadamente três vezes mais do que a ajuda ao desenvolvimento) flui de nações mais pobres para nações mais ricas por meio de transferências líquidas de renda externa associadas a rendimentos excessivos persistentes e menores pagamentos de juros sobre passivos de países ricos. “Reverter essa dinâmica é fundamental para qualquer estratégia crível de equidade global”, defendem os autores do estudo.

Desigualdade reforçada pela falta de acesso ao conhecimento

O Relatório Mundial sobre a Desigualdade 2026 marca a terceira edição desta série, após as edições de 2018 e 2022. Segundo os autores, o WIR 2026 expande os horizontes. Explora novas dimensões da desigualdade que definem o século 21: clima e riqueza, disparidades de gênero, acesso desigual ao capital humano, as assimetrias do sistema financeiro global e as divisões territoriais que estão redesenhando a política democrática. Juntos, esses temas revelam que a desigualdade hoje não se limita à renda ou à riqueza; ela afeta todos os domínios da vida econômica e social.

“A desigualdade global no acesso ao capital humano permanece enorme hoje, provavelmente uma lacuna muito maior do que a maioria das pessoas imagina. O gasto médio com educação por criança na África Subsaariana era de apenas € 200 (paridade do poder de compra, PPC), em comparação com € 7.400 na Europa e € 9.000 na América do Norte e Oceania: uma diferença de mais de 1 para 40, ou seja, aproximadamente três vezes maior que a diferença no PIB per capita. Tais disparidades moldam as oportunidades de vida ao longo das gerações, consolidando uma geografia de oportunidades que exacerba e perpetua as hierarquias globais de riqueza”, alerta o relatório.

A desigualdade de gênero também se apresenta de forma bastante diferente quando consideramos o trabalho invisível e não remunerado, que é realizado desproporcionalmente por mulheres. Quando o trabalho doméstico e de cuidados não remunerado é incluído, a disparidade aumenta drasticamente. Em média, as mulheres ganham apenas 32% do que os homens ganham por hora trabalhada, considerando tanto as atividades remuneradas quanto as não remuneradas; em comparação com 61% quando o trabalho doméstico não remunerado não é contabilizado. Essas descobertas revelam não apenas a persistência da discriminação, mas também profundas ineficiências na forma como as sociedades valorizam e alocam o trabalho.

Brasil é o quinto país mais desigual do planeta

Os dados do Relatório Mundial sobre a Desigualdade 2026 mostram que os 10% mais ricos do Brasil concentram 59,1% de toda a renda per capita, enquanto a metade mais pobre acessa apenas 9,3%. No ranking global, o país só não é pior que África do Sul, Colômbia, México e Chile.

O cenário se repete na distribuição da riqueza — que inclui ativos financeiros, imóveis e outros bens —, área em que o Brasil ocupa a sexta posição no mundo. Somente os 10% do topo detêm 70% de todo o patrimônio nacional, e o 1% mais rico concentra mais de um terço desse valor.

Fonte(s) / Referência(s):

Jornalismo AEPET
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