Mídia global se transforma, mas o domínio não

Na Cúpula de Mídia e Think Tanks do Sul Global, o debate sobre novos meios e velhos métodos.

Publicado em 13/11/2024
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Marcos de Oliveira discursa na Cúpula de Mídia do Sul Global

No encerramento da Cúpula de Mídia e Think Tanks do Sul Global, organizada pelas agências de notícias Xinhua (China) e EBC (Brasil), este escriba falou no painel sobre “Exploração e inovação: preparando-se para novos desafios na era all-media”.

Nas duas últimas décadas, a mídia passa por uma mudança profunda, com o surgimento de novos meios que ampliam o público emissor e possibilitam comunicação instantânea. Os problemas também são potencializados. Mas há uma característica que se mantém na mídia dominante: o controle por poucos grupos financeiros e empresariais, direta ou indiretamente.

Redes sociais e o principal mecanismo de busca – que se confunde com a própria internet – estão sob controle de apenas três grupos. TVs, rádios e jornais pertencem ou dependem de grandes conglomerados financeiros. Nessa nova era, com novos meios, os donos são os mesmos.

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O resultado é que as notícias divulgadas têm um forte viés pró-manutenção do sistema injusto e há muito deixaram de ter no interesse de seu público o norte que as deveria guiar. A mídia global tem forte dominância ocidental e não atende ao seu público, e sim ao que defendem seus donos. O domínio da mídia é exercido por quem domina o poder.

Ao sonegarem informações e/ou descontextualizá-las, o cartel da mídia ocidental não só estimula a difusão de estereótipos dos seus adversários, como induz a que os dominados assumam valores dos dominadores contrários aos seus próprios interesses.

O efeito desta dominação Norte–Sul é mais forte nos países menos desenvolvidos. Porém as populações das nações do norte igualmente sofrem com a informação enviesada. Vejamos o recente Caso da BBC. A empresa de mídia britânica, controlada pelo governo, foi acusada por ao menos 100 jornalistas da própria emissora de fazer uma cobertura parcial da Guerra de Gaza, favorável a Israel.

Numa carta aberta a Tim Davie, diretor-geral da BBC, os jornalistas da emissora, assim como personalidades e integrantes da mídia em geral, acusaram a BBC de não fornecer uma cobertura “justa e precisa” dos acontecimentos em Gaza e de “desumanizar os palestinos”.

Esse exemplo mostra a importância de ter acesso a diferentes mídias, sem a mediação da grande mídia ocidental. Em um mundo em que o unilateralismo está sendo desafiado pelo multilateralismo, a mídia pode e deve refletir essas mudanças e aproveitar os mecanismos que se impõem no cenário global.

Um desses mecanismos é a Iniciativa Cinturão e Rota. A Rede de Notícias do Cinturão e Rota (BRNN) reúne mais de 160 mídias de mais de 110 países, permitindo troca de notícias e experiências. O Monitor Mercantil é membro do Conselho da BRNN; é o único representante da mídia da América do Sul e, junto com a Prensa Latina, os dois únicos da América Latina.

Na Cúpula, foi lançada a Rede de Notícias do Sul Global, uma plataforma para o intercâmbio e a colaboração da mídia, que poderá ter acesso a informações de forma direta, sem passar pelo filtro da grande mídia ocidental.

Fonte(s) / Referência(s):

Marcos de Oliveira
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