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Dmitry Orlov

Nord Stream Kaput!

Biden fez exatamente o que prometeu e neste momento não vejo nenhuma razão para dele duvidar, uma vez que há provas indiretas que apontam para

Publicado em 29/09/2022
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Biden fez exatamente o que prometeu e neste momento não vejo nenhuma razão para dele duvidar, uma vez que há provas indiretas que apontam para a participação do Estados Unidos nesse ato:   navios da US Navy a perambular pela zona, provavelmente colocando minas nas tubagens e partindo pouco antes das explosões. Temos que esperar que a Casa Branca culpe a Rússia pelo incidente; o que seria um indício adicional de culpabilidade. (É sempre o ladrão quem grita mais alto: “Pega ladrão!”). Mas nisto não sou nem o juiz nem o jurado.

Entretanto é necessário entender algumas coisas importantes acerca do desaparecimento prematuro do Nord Stream.

A potência europeia representada pela economia alemã desapareceu. Todo o milagre alemão estava baseado na disponibilidade de um fornecimento constante de gás natural de baixo custo entregue pela Rússia. Sem ele, a indústria alemã deve fechar, despedindo centenas de milhares de trabalhadores e implicando um nível de angústia e mal-estar público nunca visto desde os dias da República de Weimar. Uma vez que a economia alemã tem sido a locomotiva que arrastou grande parte do resto da União Europeia, o desaparecimento do Nord Stream é também uma notícia espetacularmente má para o resto da UE. Os europeus terão agora a formidável tarefa de reprogramar os cérebros de uns e outros para fazê-los entender que os Estados Unidos não são um amigo e sim um inimigo.

O argumento económico de que os EUA têm capacidade de assumir o papel de principal fornecedor de gás natural à Europa mediante remessas de gás natural liquefeito (GNL) produzido através de fracking é rigorosamente uma idiotice. O fracking nos Estados Unidos foi possível fundamentalmente pelo acesso a dinheiro a muito baixo custo, quase grátis, graças à política económica do Quantitative Easing. O fracking é extremamente intensivo em capital, uma vez que exige um investimento constante e maciço em equipamentos de perfuração, bombas, explosivos, água, areia, fluído de fracking e transporte. Ao contrário da exploração de poços de petróleo e gás convencionais, os poços fraturação são extremamente efémeros e a produção de um poço determinado diminui numa ordem de grandeza de dois dígitos por ano. Agora que a inflação nos EUA se aproxima dos dois algarismos e o dinheiro é cada vez mais caro ao invés de gratuito, o ritmo de fraturação hidráulica enfraqueceu. Em resumo, dentro em breve os EUA enfrentarão uma escassez, não um excedente, de gás natural e não estará em condições de sustentar e muito menos ampliar suas exportações de GNL. Acrescente-se a isto o facto de que fracking está a concentrar-se agora na bacia Pérmiana, onde ainda há poços produtivos a descobrir, uma vez que grande parte do resto do território de fracking já se esgotou. Portanto, não há razão para esperar que o fracking nos EUA volte a estar no auge, mesmo no caso de o dinheiro voltar a ser grátis. Acrescente-se ainda o facto de que não tem a capacidade industrial nem a capacidade de transporte para fazê-lo. A ideia de que este ataque terrorista aos gasodutos faz parte de um esforço de competição desleal simplesmente não se sustenta.

Alguns pensadores profundos exprimiram a ideia de que tudo isto poderia fazer parte de um plano mestre para obrigar o capital e a indústria europeias a transferirem-se para os Estados Unidos, onde a energia continua a ser relativamente abundante. Há um pequeno punhado de problemas com este plano. Em primeiro lugar, o capital europeu está ao que agora está a converter-se em ativos encalhados: fábricas e equipamentos parados, muitos dos quais nunca se voltarão a por em andamento; casas sem calefação que sofrerão danos pelos congelamentos; cadeias logísticas estagnadas e gente cada vez mais angustiada e raivosa. Em segundo lugar, os sistemas financeiros dos EUA e da Europa estão muito unidos e a destruição de um não augura nada de bom para o outro. O mais provável é que contágio financeiro se estenda da Europa para os EUA que, sendo o mais endividado e o mais habitualmente deficitário tanto nas finanças nacionais com na balança de pagamentos, é o mais precário. Se o plano de Biden era suicidar-se saltando na Europa, seria brilhante; se não, é tão inteligente quanto Biden é senil.

Este último ponto é talvez o mais importante: este ataque terrorista aos gasodutos não muda nada. No Nord Stream 1 já estava fechado devido às sanções ocidentais: as turbinas fabricadas pela Siemens que comprimiam o gás através dele já não podem ser mantidas. O Nord Stream 2 estava pronto para entrar em serviço quando se completasse, mas os reguladores alemães, pressionados pelos Estados Unidos, negaram-se a dar a sua aprovação. Desde então, a Rússia anunciou que já encontrou melhores utilizações para a metade do gás que estava previsto: vai estender o serviço de gasoduto a algumas das suas próprias regiões (Nóvgorod, Carélia) que atualmente estão desabastecidas, o que permitirá aos habitantes das suas pequenas cidades e povoados deixarem de aquecer-se com lenha e fazê-lo com gás. Assim, a metade do Nord Stream 2 já era redundante. Em teoria, ainda há gás para a outra metade que, certamente, não sofreu danos no ataque.

Só há um sentido em que este incidente tem realmente importância: sua função para a superação de uma certa barreira mental. Já não há volta atrás; o mundo que conhecias desapareceu. A Pax Americana morreu. Terminou com uma gigantesca coluna de gás que brota do fundo do Mar Báltico: um gigantesco ponto no final de uma longa frase atropelada, cheia de pompa e circunstância, mas que afinal nada significa.

Fonte: Resistir.info

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