Fim da globalização
Matriz não era econômica, mas política: totalitarismo econômico do mercado
A unidade de medida da história é a longa duração. No caso da globalização houve, porém, fato extraordinário, uma assimetria registrada em um tempo historicamente curto: fenômeno de altíssima intensidade, com uma mutatio rerum (mudança das coisas) muito intensa, registrada num tempo historicamente curto. Muito curto: de 1989 a 2016, ou seja, desde a queda do Muro de Berlim, até os dias atuais.
Em 1994, nasceu a ideia de um mundo pacificamente desenvolvido contando com uma única geografia mercantil plana, isso é, sem obstáculos. Naquele momento, a Ásia dá seus primeiros passos no mercado global, por ocasião da OMC, em Marrakech, Marrocos (os países asiáticos entrarão, formalmente, na OMC, em 2001).
Posteriormente, em 2008, registou-se a primeira crise, que não foi apenas financeira, mas com a ideia de deslocar, repentinamente, a produção para a Ásia, com um efeito de pobreza desastroso para as classes trabalhadoras do Ocidente.
Em 2016, ano dos lemas trumpianos: "Make America great again" ou de "America first", o presidente Barack Obama, comentando a vitória de Donald Trump, afirmou que este fato não seria o fim do mundo, mas o fim de um mundo. E, de fato, assim apreende a essência política e filosófica da globalização, que se estruturou como uma fábrica num mundo novo, para o homem novo. Em seu discurso de posse, Obama declarou: "Não temos um passado, temos apenas um futuro".
Para entender a intensidade dessa mudança, precisamos avaliar a essência utópica da globalização. A utopia é a quintessência da globalização. A medida para avaliar o que aconteceu nesse período é uma medida política: é preciso entender o que nos fez acreditar ser novo mundo, uma quebra na linha da história, que vem se desenvolvendo há três décadas.
Se você olhar para o mundo como foi pensado e construído nesses últimos 30 anos, era absolutamente diferente do passado, um mundo baseado no mercado sicut deus (como um deus): o mercado acima, os povos abaixo, o mercado acima, os Estados abaixo. Em todo caso, a matriz da globalização não era econômica, mas política: o totalitarismo econômico do mercado. Ele foi, na realidade e no sonho de muitos, tal período: o mercado über alles, acima de tudo.
Hoje estamos vendo que a globalização terminou, e o templo desabou. Isso pode ser visto em tantos sinais, tantas pragas que, até agora, foram sete: o desastre ambiental, o esvaziamento da democracia transferida para a república internacional do dinheiro, a sociedade em decomposição, o impulso para o transumano, o surgimento das redes sociais, a pandemia, a guerra às portas da Europa e a crise no abastecimento de recursos, do gás ao trigo.
Voltamos a um mundo muito semelhante ao que existia no início do século 19, como o homem que, entre o final do século 19 e o início do século 20, olhou pela primeira vez uma fotografia, recebendo um impacto igual ao de quem, hoje, olha para o tablet.
Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.
Fonte: Monitor Mercantil
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