Beto Almeida
Beto Almeida
Beto Almeida, jornalista, diretor da TV Comunitária de Brasília e Fundador da Telesur.

A Petrobrás é filha da Revolução de 30

Getúlio Vargas e a Petrobrás: uma história de resistência e desenvolvimento nacional.

Publicado em 03/10/2023
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Neste dia 3 de outubro, a consciência brasileira tem, uma vez mais, um encontro consigo mesma. Comemoramos a chegada do Palácio do Catete, da Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, dando início a uma continuada série de medidas transformadoras que fez o Brasil deixar de ser uma fazenda atrasada, desindustrializada, ignorante e inculta, para projetar-se como uma Nação que se agigantou no cenário mundial, instalando direitos aos mais humildes e alavancando sua economia no rumo da industrialização acelerada.

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E um ponto elevado nesta série de transformações, que também se comemora neste dia 3 de outubro, é o nascimento da Petrobrás, agora a completar 70 anos, somando avanços e conquistas, obrigada a enfrentar traições sórdidas e sabotagens.

Desde o seu nascimento, a Petrobrás foi envolta em uma rede de gestos audazes e corajosos para fazer frente aos inúmeros golpes traiçoeiros que queriam impedir sua existência. Afinal, as aves de rapina do imenso e rico país sempre operaram para manter o regime colonial, a exploração cruel que manteve nosso povo na escuridão do subdesenvolvimento, até que Getúlio Vargas chegasse ao Palácio do Catete, desembarcando do Trem da Revolução, que, durante o seu percurso desde Porto Alegre, foi obrigado a parar, por iniciativa das massas de diversas cidades à beira da ferrovia, para que se pudesse ouvir a voz do líder daquele movimento revolucionário.
Revolução de 30: unidade cívico-militar

A Revolução de 1930 não foi um Golpe de Estado, como uma certa literatura curtida nos palacetes e nas Casas Grandes, carimbadas pelas academias senzalas, lhe buscou rotular, visando seu descrédito e confundir os historiadores e a assim chamada inteligência, devota e vassala de uma sociologia cafeeira e canavieira, avessa aos direitos dos humildes e à industrialização.

A história impõe suas necessidades de mudanças, inventa arranjos políticos e participativos, como no caso em tela, quando uma unidade cívico-militar abriu o caminho de passagem para que o Brasil deixasse o atraso ainda envolto em uma escravidão, abolida, mas apenas retoricamente, pois a comunidade negra, as mulheres e a grande maioria do povo sobreviviam nas condições mais desumanas, em violenta contradição com as imensas riquezas brasileiras rapinadas.

Desde que chegou ao Catete, Getúlio Vargas empreende esforços para nacionalizar as fontes de riqueza nacional. Assim, já em 1932, cancela a concessão feita por governos anteriores de seis províncias minerais amazônicas, entregues à Esso e à Standard Oil. Em decreto presidencial, determina que, de agora em diante, qualquer ato de concessão de territórios ou riquezas minerais só poderia ser emitido pelo Governo Federal. Acabou com a farra entreguista de governantes anteriores.

Vargas nacionaliza também uma série de empresas, minas, ferrovias, fábricas, jornais e rádios que estavam sob o controle do testa de ferro Percival Farhcqua, detentor de verdadeiro enclave mineral entre Minas e Espírito Santo, com pretensões expansionistas frustradas, energicamente, pelo presidente Vargas.

Vargas nacionaliza o petróleo em 1938

Na mesma linha de coerência nacionalizante, o governo Vargas, ao receber a notícia de que o presidente do México, Lázaro Cárdenas, nacionalizara todas as petroleiras americanas que operavam em seu território, sem encontrar reação militar por parte do Exército dos EUA, conforme esperavam os expropriados magnatas do petróleo, aproveita o embalo mexicano e também nacionaliza o subsolo brasileiro, criando, ao mesmo tempo, o Conselho Nacional do Petróleo, já em sintonia fina com o futuro, que, por sinal, lhe comprovaria o que ainda era uma previsão.

Apesar de tantos atos decididos no sentido de nacionalizar as fontes de economia, ainda assim, há intérpretes que insinuam que a Petrobras foi criada apesar de Getúlio Vargas, como se possível fosse a criação de uma alavanca gigantesca de desenvolvimento sem o protagonismo direto do Estado Brasileiro, ignorando todo um conjunto coerente de atitudes que culminaram com a Empresa Estatal e o Monopólio do Setor Petroleiro.

A guerra ideológica contra a criação da Petrobrás foi tal que ainda hoje sentimos os ecos de sua continuidade para sabotar e fatiar a mais importante conquista do Povo Brasileiro.

O lacerdismo e seu golpismo

Uma agressiva campanha midiática foi lançada pelos meios de comunicação em 1949, buscando impedir que Getúlio Vargas fosse eleito. Carlos Lacerda, o mais escandaloso opositor de Vargas e de suas teses nacionalistas, chegou a vociferar, com overdose de ódio: “Getúlio não pode ser eleito; se ele for eleito, não pode tomar posse; se tomar posse, não poderá governar, porque teremos que derrubá-lo”. Ou seja, às favas com a democracia e o voto democrático, secreto, e que, a esta altura, já contava com o voto feminino, legalizado desde 1932, muito antes da França, que se autodenomina campeã da democracia, mas que só no pós-guerra deu a cidadania plena às mulheres.

Getúlio, que nos governos anteriores já havia criado a Siderúrgica Nacional, a Vale do Rio Doce (a maior mineradora do mundo), a Hidrelétrica de Paulo Afonso, partia agora para sua obra fundamental: a Petrobrás.

A não-notícia?

Entre a aprovação da Lei 2004 e o efetivo início das operações da Petrobrás, houve uma verdadeira campanha de ódio contra o presidente, acusado, sem qualquer prova ou justificativa, de ser corrupto, de governar sobre “um mar de lama”, frase sensacionalista, repetida infinitamente por Lacerda e pelo falso moralismo udenista, empenhados na manutenção do setor petroleiro em mãos estrangeiras, essa a principal razão.

O golpismo midiático anti-Petrobrás chegou a tal ponto que, no dia em que começa efetivamente a funcionar aquela que é hoje a maior empresa brasileira e uma das maiores petroleiras do mundo, dia 1º de agosto de 1954, o fato NÃO FOI NOTÍCIA!! Ou seja, a mais importante alavanca desenvolvimentista do Brasil, vanguarda em tecnologia de prospecção de petróleo em águas profundas, foi ignorada no dia em que começou a funcionar.

Ao invés de notícia, o início do funcionamento da Petrobrás torna-se uma senha para que o golpismo se avolumasse, para que os conspiradores se superassem. Apenas 5 dias depois, adveio o Atentado da Rua Tonelero, com a morte do major Vaz, da Aeronáutica, conseguindo fazer o que parecia ter sido bem programado, como se evidenciou na descrição do episódio.

Lacerda disse que “era um tiroteio infernal, muitos tiros”. Mas o major fora atingido por dois tiros, um no peito e outro nas costas. Em depoimento ao jornalista Armando Falcão, que o levou ao hospital, Lacerda, transtornado, repetia: “Creio ter sido eu que alvejei o Vaz”. O depoimento consta de livro do jornalista Armando Falcão, um dos lamentáveis ministros da justiça do período ditatorial, com a recomendação de que somente fosse publicado após a sua morte.

Enquanto o raio X do pé de Lacerda, que teria sido alvejado por um revólver 38, desaparecia misteriosamente do Hospital, até hoje, Getúlio sentia que os tiros que atingiram o major Vaz o acertaram em cheio: a conspiração havia conseguido jogar a Aeronáutica contra o presidente da República. De qualquer forma que fosse, era necessário impedir que o governo Getúlio seguisse montando a industrialização brasileira, nossa independência energética e tecnológica, combinadamente com a expansão de direitos laborais e previdenciários!!

Chantagem infame contra o Brasil

Era tal a virulência da campanha midiática contra Vargas, que o general Mozart Dornelles, membro do Gabinete Militar da Presidência, baseado em suas relações pessoais anteriores, procura, por iniciativa própria, o magnata da mídia na época, Assis Chateaubriand. O diálogo entre os dois vale mais que mil teses de doutorado em sociologia política. Mozart questiona Chatô sobre a razão daquela violência toda de sua mídia contra o Presidente, que ele sabe não ser corrupto. Chatô responde:

Mozart, você sabe que eu adoro o presidente Getúlio. Ele pode indicar quem ele quiser, eu coloco meus veículos sob o seu comando, e eu paraliso toda esta campanha do Lacerda contra ele. Basta que ele desista da Petrobrás!

A condição era que Getúlio Vargas desistisse da independência energética, econômica e tecnológica do Brasil, que, como grafado na Carta Testamento, desistisse de potencializar as riquezas nacionais em favor do nosso povo.

Ao retornar ao Catete, o general Dornelles procura o ministro da Justiça, seu primo Tancredo Neves, e relata o episódio, indagando se deveria contar o ocorrido ao presidente Vargas. A resposta de Tancredo Neves, futuro presidente da República, que não chegou a tomar posse, é profética: “Sim, Dornelles, você deve contar ao presidente. Mas, pode ter certeza de que o Dr. Getúlio morre, mas não desiste da Petrobrás!”

Assim foi. Com um tiro no coração do Brasil, Getúlio Vargas derrotou aquela conspiração infame e preservou todas as conquistas de seus governos. Em sua Ira Santa, revoltadas e num pranto nacional como se fosse um Coro Orfeônico de Dor e Indignação, as massas empastelaram todos os jornais que realizavam aquela sórdida e falsa campanha do Mar de Lama contra Getúlio, inclusive o jornal Tribuna Popular, dos comunistas, que no dia 24 de agosto de 1954, estampara em manchete Prestes pedindo a renúncia de Vargas devido àquele falso lamaçal que não existia. Apavorada, a direção comunista orientara, envergonhada, que seus militantes fossem de bancas em bancas para recolher todos os jornais com aquela lamentável manchete, gesto que denuncia o monumental erro do PCB, fazendo eco com a campanha moralista da UDN contra o governo popular e nacionalista de Vargas.

A sanha impatriótica de Chatô

Na atualidade, depois que o presidente Lula teve a grandeza, a coragem e a sinceridade de revisar suas avaliações negativas sobre Vargas, passando a chamá-lo de o grande estadista, as sabotagens midiáticas contra a Petrobrás continuam, e agora visam atingir o próprio presidente de origem operária.

Assim foi, por exemplo, com a urdida campanha do “Petrolão”, venenosa manipulação contra os êxitos da petroleira. O mesmo espírito anti-Brasil contido naquela repugnante proposta de Assis Chateaubriand, hoje pode ser constatado em alguns comentaristas da Rede Globo, seja quando vaticinam que a “Petrobrás está quebrada”, ou quando pretendem fazer crer que o petróleo pré-sal é um patrimônio inútil.

A sanha impatriótica e vassala de Chatô continua presente, realizando uma desastrosa pedagogia colonial, na eterna esperança de que o todo o petróleo seja entregue ao capital estrangeiro, e que a alavanca de desenvolvimento pela qual Vargas deu a sua vida para entrar na história, seja, afinal, liquidada na bacia das almas do mercado, como apenas uma mercadoria a mais. Não mais como aquele patrimônio que faz com que a consciência brasileira se coloque diante de si mesma, com a capacidade de fazer vibrar os mais elevados sonhos de uma pátria justa, independente e soberana, que o legado de Vargas, vigorosamente vivo, indica que, sim, haveremos de conquistar! O Legado da Revolução de 30 é a nossa trilha para alcançar uma verdadeira independência!

Beto Almeida é jornalista.

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