Ream: O curioso caso da refinaria que não refina
Antiga Reman, atual Ream, foi privatizada em 2022
Desde que foi privatizada pelo governo Bolsonaro, a Refinaria de Manaus (antiga Reman e atual Ream) deixou a população refém das importadoras de combustíves e se transformou em estrutura de apoio logístico da Atem, empresa do setor de distribuição que pratica os preços mais altos do país, como denunciou o Ineep, em artigo publicado na semana passada.
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Nesta quarta, 10, a diretoria do Sindipetro AM alertou sobre a tentativa da Atem em fechar de vez as plantas de processamento da unidade, que é a única refinaria da região Norte do Brasil. “Isso não impacta apenas o Amazonas, todo o Norte do país ficará sem unidades de processamento! Isso significa outros aumentos abusivos nos preços dos combustíveis além de demissões em massa! Não podemos e não vamos aceitar que o Grupo ATEM feche as nossas unidades de refino!”, afirma o coordenador do Sindipetro, Marcus Ribeiro.
Leia abaixo o artigo do Ineep:
Por Luiz Fernando Ferreira, pesquisador do Ineep, com 16 anos experiência na área de refino e abastecimento. É formado em engenharia mecânica pela Unicamp e tem mestrado em energia pela mesma universidade. Atualmente, é engenheiro da Eletronuclear
O Brasil é carente na avaliação de políticas públicas. Na área de política energética, essa constatação não é diferente. No ano de 2022, a REAM (antiga Refinaria Isaac Sabbá – REMAN) saiu do controle da estatal Petrobras e passou a ser controlada pelo setor privado.
No caso do setor de derivados de petróleo, ao menos um critério deve ser observado a fim de avaliar os impactos do resultado dessa mudança: o aumento da disponibilidade de derivados e seu comportamento na região onde a refinaria está inserida. Este breve artigo tem por objetivo analisar os impactos dessa opção de política pública.
A REAM está localizada em Manaus, no Estado do Amazonas, que tem historicamente uma participação relevante no fornecimento de derivados de petróleo da região Norte do país. Entre os anos de 2018 e 2022, o Amazonas representou 17,0% do consumo total de derivados da região Norte, com proporções variadas entre os diferentes tipos desses produtos.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), entre os anos de 2018 e 2022, o processamento de petróleo médio na REAM foi 3.029 barris de petróleo diários (bpd) com predominância para a utilização de óleo nacional.
Uma pequena quantidade de óleo importado e de outras cargas, tais como resíduo de terminal, foram utilizadas no período.
Com essa composição de cargas e a integração vertical da refinaria, o Estado do Amazonas se beneficiava da estrutura de refino da REAM com uma oferta que, em parte, supria as necessidades locais.
Segundo dados da ANP, a gasolina A no período teve um pequeno excesso de produção em relação ao consumo no estado do Amazonas, bem como o querosene de aviação. Já o óleo combustível teve uma expressiva produção em relação ao consumo local permitindo a utilização do excedente como meio de troca para a demanda da região Norte.
De outro lado, em linha com o observado no cenário nacional, a demanda de óleo diesel não é totalmente suprida pela refinaria em questão, que forneceu, no período, cerca de 49% da demanda do estado amazonense. Outro energético de primeira necessidade, o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) é parcialmente suprido pela estrutura de industrial local, atendendo cerca de 23% da demanda estadual.
O gráfico a seguir apresenta a relação entre o consumo total de derivados de interesse e a produção da REAM.
Nesse breve diagnóstico da inserção regional da REAM, observa-se que, para atingir o objetivo de reduzir a dependência externa de derivados, é crucial, em primeiro lugar, ampliar a capacidade instalada da unidade e aumentar os investimentos para elevar a complexidade das unidades de refino[1].
Com um cenário tão favorável a uma estratégia de ampliação de investimentos – inclusive no sentido de buscar aderência ao acordo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e do Conselho Nacional de Política Energética –, a expectativa era que, após a transferência de propriedade, a refinaria buscasse capturar esse espaço e, de alguma forma, contribuísse para um aumento na disponibilidade de derivados, ainda que com características de monopólio regional.
Entretanto, a avaliação dos resultados de tal processo de alienação mostra que, além de não terem aumentado os investimentos na área de refino da região, o novo operador aumentou a sua importação de derivados com o objetivo declarado de “encurtar a cadeia logística[2]”.
Os dados públicos da ANP, porém, são conflitantes com aqueles divulgados pela REAM. Em uma análise comparativa entre os anos de 2022 e 2023, é possível observar que a utilização do refino caiu 62%, saindo de um volume processado de 1,7 milhões de m³ em 2022 para o valor de 673 mil m³ em 2023.
Os relatórios internos da empresa, por outro lado, apontam para uma crescente utilização da instalação industrial no ano de 2023, passando de 58% de fator de utilização (FUT) para 71%. Os atores envolvidos, ANP e REAM, precisam esclarecer sobre os dados de processamento para que a política pública possa ser avaliada precisamente.
Em meio aos esforços de reindustrialização e transformação da estrutura produtiva nacional e local, é preocupante que, entre junho e dezembro de 2023, segundo dados da ANP[3], não tenha ocorrido qualquer produção de derivados na REAM, agora controlada pelo grupo ATEM.
Na hipótese de a produção ter sido interrompida – há uma divergência de dados -, o consumo e as vendas de derivados no Estado do Amazonas seguiram no mesmo patamar entre 2022 e 2023. No entanto, não houve notícias de desabastecimento de derivados na região. Ou seja, o que deveria ser uma estrutura de refino com forte potencial para agregar valor ao petróleo produzido na região, seria um caso de uma refinaria que não refina e se transformou em uma estrutura de apoio logístico.
Em síntese, o caso do refino no Estado do Amazonas mostra a importância de estabelecer objetivos claros para as políticas públicas e de mantê-las sob avaliação constante, especialmente em um setor tão estratégico como o de energia.
A transferência da propriedade de uma empresa estatal, a Petrobras, para um operador privado não foi capaz de aumentar a oferta local de derivados para o Estado do Amazonas, ao contrário, tornou a região mais vulnerável aos preços internacionais e ao monopólio privado, uma vez que toda a estrutura logística foi transferida para o comprador da REAM.
Deveria estar na agenda de todos os que se preocupam com o Brasil avaliar se uma refinaria está produzindo derivados em níveis adequados ou se se tornou apenas uma estrutura de apoio logístico.
Notas:
[1] Magda Chambriard, ex-diretora da ANP, analisa estes dois fatores em recente estudo: https://editorabrasilenergia.com.br/ampliacao-do-parque-de-refino-por-que/
[2] A companhia e suas operações: 82cbb107-37c6-00f1-a5ff-4ca88bdcb91f (mziq.com)
[3] Os dados de processamento petróleo foram consultados em 10/03/2024 (atualizados em 01/03/2024) em https://www.gov.br/anp/pt-br/centrais-de-conteudo/dados-abertos/arquivos/pppd/processamento-petroleo-m3-1990-2024.csv e os dados de produção de derivados foram consultados em 10/03/2024 (atualizados em 01/03/2024) em https://www.gov.br/anp/pt-br/centrais-de-conteudo/dados-abertos/arquivos/pppd/producao-derivados-petroleo-por-refinaria-m3-1990-2024.csv
Em nota encaminhada ao Ineep, após a divulgação desse artigo, a Ream fez os seguintes esclarecimentos:
“A Ream informa que suas operações de refino estão ocorrendo normalmente. Os dados sobre as operações do segundo semestre de 2023 foram enviados dentro do prazo estabelecido pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
No entanto, a agência solicitou a revisão de parte das informações e, até que isso seja concluído, o sistema está bloqueado para o envio de relatórios dos meses subsequentes. A Ream aguarda a validação dos dados e a devida publicação pela ANP.”
Fonte(s) / Referência(s):
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Eu presto serviço terceirizado, e quem tá dentro da ream trabalhando todos os dias, sabe que essas informações são completamente mentirosa, a empresa tá a todo vapor tanto na produção quanto na reforma da estrutura… Ler mais »
Parabéns por sua coragem para falar a verdade sobre a real situação que estava a planta desta Reman pequena e antiga refinaria implantada pelos amazonenses da família Sabba e que foi estatizada passando para a… Ler mais »
O que fizeram e continuam fazendo é uma covardia sem tamanho! Um crime de lesa pátria!
REESTATIZAÇÃO JÁ!!!!!
isso é herança maldita do Bolsonaro ainda temos muitos pontos negativos desse governo maldito pra descobrir
Não esqueça do comperj e Abreu e Lima. Parece que são heranças tbm do Bolsonaro
Uma refinaria que nao refina petróleo! Quais os interesses que estao sendo privilegiados ? Vamos dar nomes aos bois !
A iniciativa privada está se lixando para re-industrialização e empregos do Brasil. O que importa é maximizar os lucros. Os preços dos combustíveis estão garantidos por um mercado externo, mesmo que o Brasil produza um… Ler mais »
Todos sabiam q nunca se deve permitir monopólio, a não ser que seja feito pelo próprio governo. Pois capital não tem responsabilidade social nem econômica. Já dizia Adam Smith. Mesmo sofismo de sempre, quem paga… Ler mais »
A privatização a qualquer custo e com cartas marcadas em prejuízo dos consumidores local.. Esse governo que felizmente passou, deixou esses rastros de destruição. A relam, por exemplo, seus preços são 15% superiores aos preços… Ler mais »
Os Amazonenses são”bodes expiatórios”para os pecados de todos os brasileiros…Ninguém viu Abreu e Lima …. ” Que terra calorenta”..kkk .
Sindicato primeiro o empregos deles depois a população.
Estão muito preocupados.
Embro da classe trabalhadora falando mal de trabalhador….aff
Nós que pagamos a falta de patriotismo e a ganância desenfreada dos gestores do dinheiro público brasileiro.
O que esses caras fazem é crime de lesa pátria.
Se eles não querem refinar, peguem de volta.
É Lamentável! Para minimizar substancialmente a Corrupção e maximizar o Espírito Republicano teremos que criar uma Evolução-Revolucionaria para atingirmos um Novo Regime Político. Apresento o SOCIETOCRÁTICO REPUBLICANO – Capitalista Policiado – com um Codigo Penal… Ler mais »
Com uma producao pifia dessas melhor parar mesmo. Qq produtora de leite do interiorzao envaza no minimo 3 x mais em litros de leite doque essa refinaria ai em litros de combustivel. Estatizada So vai… Ler mais »
Já perguntei quem são os sócios das 600 empresas importadoras de combustíveis criadas depous de 2016, e o Sindipetro, apesar dessas empresas negociarem com a Petrobrás e o Governo, diz que não tem como saber.… Ler mais »
É o fim
As refinarias no Brasil dispõe-se em atender áreas de influência. Vendendo uma, o novo fono não tem concorrentes além dos o portadores. Neste caso o dono da Reman é o produtor(zero investimento) e o importador.… Ler mais »
No socialismo acontece estas coisas mesmo é bom ir se acostumando.
Não refina porque a Petrobras está corroendo as margens dos refinadores privados através do custo assimétrico de seu petróleo para revenda no Brasil e mantém os preços para o consumidor abaixo da paridade internacional. Amazonas… Ler mais »
Jose Carlos, “paridade Internacional”… Pare de usar esse sofisma cínico e já mofado, use termos mais honestos e claros: ‘preço ajustado ao importador’ ou ‘preço de reintrodução de derivados refinados no exterior, oriundos de petróleo… Ler mais »
A entrega da refinaria sim que está errada, monopólio do estado não querem, mas privado pode! Hipócritas mentirosos
Muito dos senhores não conhece sobre a Petrobrás ela é a maior empresa do país e sofreu no governo bolsonaro o seu Paulo Guedes fez tudo que podia para desmontar a Petrobrás e suas subsidiárias… Ler mais »
O Brasil é autossuficiente em petróleo, não precisa submeter o povo brasileiro a pagar preços estabelecidos por um cartel formado por 13 países que compõem a OPEP.
Pense assim: “… se você não comprar MEU combustível, eu não compro o alimento produzido no SEU país.”
Entendeu o que é balança comercial?
Vc fala isso só para defender algum outro político corrupto ou vc realmente acredita nisso?
Se eu tivesse o poder de fazer o faria.
Segurava o preço até todas quebrarem e vender de volta para a Petrobrás. Isso é ser patriota. E não ir cantar hino pra pneu.