Nota sobre a subvenção aos produtores e importadores de diesel
Arbitrou preços altos e variação diária, em função dos preços do petróleo e da cotação do real em relação ao dólar. Essa política de Parente levou ao aumento das importações de derivados, notadamente do diesel. A Petrobrás, ao perder seu mercado doméstico de combustíveis, passou a exportar cada vez mais petróleo cru, ao invés de processá-lo em seu parque de refino, impondo elevada ociosidade das refinarias, cuja taxa de utilização caiu para 72% no primeiro trimestre de 2018 (1T18). Em 2015, a taxa de utilização foi de 87%, com alta lucratividade do segmento de refino.
Fonte: ANP, 2018
A política de preços prejudicou não só a Petrobrás, através da ociosidade do parque de refino nacional, mas principalmente os consumidores brasileiros, que passaram a pagar pelos combustíveis preços acima da sua referência do mercado internacional, na Costa do Golfo do México dos EUA (USGC), de onde se origina grande parte das exportações de diesel e gasolina para o Brasil. Por outro lado, ganharam as refinarias de petróleo dos EUA, as multinacionais estrangeiras de comercialização e as distribuidoras concorrentes.
Fonte: EIA-DOE, 2018
Após a greve dos caminhoneiros, com preços mais baixos para os combustíveis, a Petrobrás retomou o mercado doméstico brasileiro de derivados, propiciando custos menores para a população e aumento da lucratividade para Companhia. O lucro operacional do segmento de refino aumentou de US$ 3,8 Bi no 1T18, para US$ 7,2 Bi no 2T18, um aumento acima de 90% na lucratividade, através de preços menores na refinaria.
Diante da menor competição com produtos importados, o fator de utilização do parque de refino da Petrobrás no Brasil atingiu 81% no segundo trimestre deste ano, o que representa um avanço de 9 pontos porcentuais na comparação com os primeiros três meses do ano e de três pontos em relação a igual período de 2017. Por outro lado, o aumento da carga processada nas refinarias reduziu a exportação de petróleo cru. (Agência Estado, 2018)
Somente a Petrobrás consegue suprir o mercado doméstico de derivados com preços abaixo do mercado internacional e, ainda assim, obter níveis de lucro compatíveis com a indústria, para sustentar uma elevada curva de investimentos, que contribuem diretamente com aumento da renda e dos empregos no país.
Nossa Associação denunciou os prejuízos da política de preços de Parente desde 2017, por exemplo aqui e aqui.
Dos preços altos do diesel resultou a greve dos caminhoneiros. O Ministério da Fazenda estimou em R$ 15 bilhões o prejuízo causado à economia do país pela greve dos caminhoneiros que parou o país por 11 dias, em maio. (Agência Brasil, 2018)
Da greve dos caminhoneiros resultou a redução de tributos e a subvenção da União aos produtores e importadores de diesel, programa de R$ 13,5 bilhões cujo objetivo é reduzir em R$ 0,46 por litro no diesel ao consumidor até o fim do ano. (Agência Brasil, 2018)
Da intervenção do governo e controle do preço do diesel resultou a redução das importações e a melhora no desempenho operacional da Petrobrás, com recuperação de mercado, aumento de vendas e da utilização das refinarias. O mesmo resultado seria obtido caso a Petrobrás tivesse alterado sua política de preços, com a redução do preço do diesel, para recuperar o mercado perdido para a cadeia dos importadores.
Mas não é necessário conceder subsídios e utilizar recursos da União para subvencionar a Petrobrás e os importadores, basta que a estatal se livre da política de preços de Parente.
Apesar de todos os prejuízos, a ideologia de Parente é até hoje propalada pela mídia e seus “prediletos especialistas”. Em artigo para o Correio Braziliense, Simone Kafruni cita Adriano Pires, e afirma que o diesel estaria mais barato nas bombas sem a intervenção do Executivo. (Correio Braziliense, 2018)
O argumento é falso. Caso a política de preços da Petrobrás fosse mantida e também não houvesse intervenção da União, com isenção de impostos de R$ 0,16 e subvenção de R$ 0,30 por litro, os preços nas refinarias seriam maiores que os preços congelados desde o início de junho até hoje.
Mas os prediletos da mídia não precisam demonstrar a veracidade das suas conclusões. Fake News é o pão de cada dia do oligopólio midiático a serviço de interesses antinacionais.
Com os dados da ANP, apresentamos a variação dos preços do diesel, aos produtores e importadores, para as regiões Centro Oeste e Sudeste. (ANP)
O preço de referência do dia “d” é a melhor estimativa para qual seria o preço (acima do PPI) do Parente, sua fórmula de cálculo foi apresentada no programa de subvenção a partir da variação dos preços do petróleo e da cotação cambial, considerando o preço de referência da data base de R$ 2,4055 por litro, em 21/5/18. (ANP)
No gráfico se apresenta o preço congelado de R$ 2,1055 por litro e o limite do preço que o governo assumiu subvencionar, de até R$ 0,30 por litro sobre o preço controlado e congelado no período.
O gráfico evidencia que o preço de referência do dia “d” sempre ficou acima do preço congelado, fato que resulta no pagamento da subvenção da União à Petrobrás e aos importadores. Na maior parte do tempo o preço de referência do dia “d”, referência para a política de preços adotada pela Petrobrás desde Parente, fica abaixo do limite da subvenção, mas houve poucos dias nos quais o preço de referência no dia “d” superou o limite de subvenção.
O gráfico seguinte apresenta as subvenções da União aos produtores e importadores para os preços de referência das regiões Centro Oeste e Sudeste.
De 8 de junho a 31 de julho de 2018, a União concedeu subvenções aos produtores e importadores. Caso a Petrobrás mantivesse sua política de preços, e se a política de isenção fiscal e subvenções não tivesse sido adotada pela União, os custos recairiam, direta e indiretamente, sobre os consumidores do diesel.
Com a manutenção da política de preços inaugurada por Parente, e o programa de isenção fiscal e subvenção aos produtores e importadores, os custos recaem sobre toda a sociedade, de maneira ponderada com a carga tributária que é regressiva, carga na qual os assalariados de menor renda pagam mais em termos proporcionais.
Os resultados para as demais regiões seguem a mesma tendência da verificada para as regiões Centro Oeste e Sudeste.
Importa ressaltar que a política de preços acima da paridade internacional, praticada por Parente, não significou maximização de lucros, nem muito menos uma prática monopolista.
O mercado de derivados no Brasil está inserido no mercado global, onde a competição ocorre principalmente entre as refinarias situadas na Bacia do Atlântico. Dessa forma, aquela empresa que pratica preços de monopólio – acima da paridade de preços internacional (PPI) – acaba por perder participação no mercado, exatamente o que aconteceu com a Petrobrás no Brasil, a partir da política de preços altos de Parente, iniciada em 2016.
Destaca-se que a Petrobrás deve atentar para os resultados da política de preços na gestão Parente e não voltar a praticar preços acima daqueles praticados no Golfo dos EUA. Por outro lado, uma empresa integrada, capaz de otimizar sua produção em todo território nacional, como a Petrobrás, consegue ter custos de produção mais baixos do que empresas não verticalizadas. Dessa forma, em tempos de alta volatilidade do preço do petróleo e do câmbio, somente a Petrobrás tem condições de sustentar preços estáveis e moderados para população. Leia mais, aqui.
A criatura Parente se foi, mas a sua política maldita só poderá ser inteiramente extirpada depois que seu criador, Temer, deixar a presidência que ocupou. A partir de então, o presidente da Petrobrás poderá dizer, em alto e bom som, que a política de preços mudou, em benefício dos brasileiros e da própria companhia e por isso podemos acabar com a insustentável subvenção aos produtores e importadores de diesel.
Falta pouco, mas demora tanto a passar… será por coisas deste tipo que Einstein intuiu que o tempo é relativo?
*Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
Referências
AEPET. (2017). Política de preços de Temer e Parente é “America First! ”. Fonte: https://felipecoutinho21.wordpress.com/2017/12/15/politica-de-precos-de-temer-e-parente-e-america-first/
AEPET. (2018). AEPET contesta as falácias de Décio Oddone (ANP) sobre o refino e a política de preços da Petrobrás . Fonte: http://aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/2011-aepet-contesta-as-falacias-de-decio-oddone-anp-sobre-o-refino-e-a-politica-de-precos-da-Petrobrás
AEPET. (23 de Maio de 2018). Nota sobre a política de preços da Petrobrás. Fonte: http://www.aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/1749-nota-sobre-a-politica-de-precos-da-Petrobrás
Agência Brasil. (31 de maio de 2018). Governo cria programa de R$ 13,5 bilhões para subsidiar diesel. Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-05/governo-cria-programa-de-r-135-bilhoes-para-subsidiar-diesel
Agência Brasil. (13 de junho de 2018). Ministério da Fazenda faz estimativa do prejuízo causado à economia pela greve dos caminhoneiros. Fonte: https://jb.fm/noticia/ministerio-da-fazenda-faz-estimativa-do-preju
Agência Estado. (3 de 8 de 2018). Petrobrás: utilização das refinarias chega a 81%; Cia reduz exportações e amplia importações.
ANP. (s.d.). Subvenção à comercialização de óleo diesel. Fonte: http://www.anp.gov.br/component/content/article/2-uncategorised/4536-subvencao-a-comercializacao-de-oleo-diesel
Correio Braziliense. (2 de Agosto de 2018). Polêmica no diesel.
Munhoz, M. (2017). Quem ganha com a política de preços da Petrobrás? (2) A origem das importações brasileiras de diesel em 2017 . Fonte: http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/noticias-em-destaque/item/1859-quem-ganha-com-a-politica-de-precos-da-Petrobrás-2-a-origem-das-importacoes-brasileiras-de-diesel-em-2017
Oliveira, C. (2018). Política de preços da Petrobrás fez muito bem para a Raizen. Fonte: http://www.aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/2028-politica-de-precos-da-Petrobrás-fez-muito-bem-para-a-raizen
Reuters. (2018). Quem ganha com a política de preços da Petrobrás? Cresce a exportação de diesel e óleo de aquecimento pelas refinarias da Costa Leste dos EUA . Fonte: http://www.aepet.org.br/w3/index.php/artigos/noticias-em-destaque/item/1853-quem-ganha-com-a-politica-de-precos-da-Petrobrás-cresce-a-exportacao-de-diesel-e-oleo-de-aquecimento-pelas-refinarias-da-costa-leste-dos-eua