A quem tem servido a Petrobrás, que atingiu valor de mercado de US$ 520 bi?
Saiu na imprensa, neste final de semana, que as ações da Petrobrás dispararam na sexta-feira (21)
e a companhia atingiu o maior valor de mercado da sua história, uma marca que ultrapassa R$ 520 bilhões. A notícia foi alardeada por muitos como um trunfo para a atual gestão e o governo. Mas o que, de fato, isso representa para o Brasil e os brasileiros? Quem é o maior beneficiário dessa “proeza”? E a principal questão: a quem tem servido a Petrobrás?
Em primeiro lugar acho importante esclarecer que o valor de mercado de uma empresa representa o preço das ações. E é um assunto de extremo interesse para os especuladores financeiros, para quem compra e vende ações ou para a empresa que vai fazer nova emissão de ações, o que não é o caso da Petrobrás. Um tema para se tentar equiparar os “interesses nacionais” aos dos especuladores. Também vale destacar que nesta segunda-feira, dia 24, as ações da Petrobrás tiveram uma queda de 9,15% e o valor de mercado da empresa ficou bem abaixo do patamar recorde anunciado. Ou seja, a especulação é o principal motor desse sistema de avaliação.
Mas vamos a um rápido comparativo. O Dieese fez um levantamento entre os anos de 2003 e 2021, que mostra que o maior valor de mercado da Petrobrás nesse período foi registrado em 2007, quando a empresa valia cerca de R$ 430 bilhões. Nesse mesmo ano, os investimentos totais da companhia eram superiores a US$ 23 milhões e chegaram a mais de US$ 48 milhões em 2013, permitindo a descoberta, exploração e desenvolvimento dos campos do pré-sal, responsáveis pelo crescimento da companhia. Em 2021, a soma caiu para US$ 8,7 milhões.
Outro dado muito importante diz respeito à participação da Petrobrás no PIB nacional. Em 2009, o volume de investimentos realizados pela Petrobrás chegou a representar 11% da Formação Bruta de Capital Fixo (investimentos) do país. No ano passado, representou apenas 2,8%. Sem contar os preços do gás de cozinha, do diesel e da gasolina, que subiram absurdamente a partir de 2021.
O fato é que o alto valor de mercado da Petrobrás não significa necessariamente que a estatal está sendo boa para o seu povo e seu país. Nem tampouco significa que é bom para a própria companhia.
Hoje, a composição acionária da Petrobrás mostra que a União não é a acionista majoritária, detém 36,61% do capital da empresa, enquanto a participação dos investidores privados estrangeiros é de 45,18% e dos brasileiros, 18,21%. Esse cenário deixa bem claro que o maior beneficiado com esse aumento no valor de mercado da companhia não é o povo e o país, mas os acionistas da Petrobrás, principalmente os estrangeiros, que têm recebido dividendos recordes.
A Petrobrás tem sido uma máquina de gerar lucros e dividendos. Ser lucrativa e remunerar seus acionistas não é condenável, ao contrário, mas não no volume atualmente praticado. Os lucros e dividendos, produtos do resultado operacional da companhia, são “bombados” por políticas estratégicas questionáveis, tais como os altos preços dos derivados, que elevam a inflação; a busca insana, e muitas vezes inconsequente, de redução de custos, ameaçando a segurança operacional dos trabalhadores, comunidades e da própria empresa, além dos cortes de benefícios e direitos dos trabalhadores; a venda de ativos, que promove a desverticalização e o desmonte da empresa, ameaçando sua sustentabilidade no médio e longo prazos.
Mas o mercado comemora, é claro, afinal de contas, especulação e lucro máximo a qualquer custo é o que importa e privatizar a Petrobrás é o sonho dos neocolonizados de plantão.
Não foi pra isso que a Petrobrás foi criada. Ela nasceu para servir o Brasil e seu povo, para garantir o abastecimento do nosso país com preços justos, e impulsionar o desenvolvimento nacional.
As grandes petrolíferas precisam, mais do que alto valor de mercado, serem integradas e resilientes às constantes mudanças do setor e às demandas globais por sustentabilidade ou não sobreviverão no médio e longo prazos.
É por essa estatal que temos que continuar lutando, porque defender a Petrobrás é defender o Brasil.
Rosangela Buzanelli é a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás
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