Bolsonaro perde popularidade, mas vence eleições no Congresso, entregando-se ao Centrão
A eleição dos candidatos bolsonaristas para a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal foi resultado de um despudorado balcão
A eleição dos candidatos bolsonaristas para a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal foi resultado de um despudorado balcão de negócios, à luz do dia, em que o governo Bolsonaro, distribuindo mais de R$ 3 bilhões em verbas parlamentares e promessas de cargos, neutralizou a "rebeldia" do deputado Rodrigo Maia, atraindo até mesmo o apoio do DEM, partido do ex-presidente da Câmara, que, ao despedir-se do cargo, com duvidosas lágrimas, revelou ser apenas um blefe a ameaça de que abriria processos de impeachment contra o Presidente da República. Ele é um eterno servidor da tirania financeira, e o rentismo barra um impeachment de Bolsonaro, no momento.
A vitória parlamentar bolsonarista tem pelo menos dois resultados imediatos: haverá radicalização na agenda das reformas neoliberais privatizantes, mas também maior dependência de Bolsonaro dos apetites fisiológicos do Centrão, o que poderá representar, também, uma pressão contra o Teto de Gastos do Ministro Paulo Guedes, e, até mesmo, a retomada de algum tipo de Auxílio Emergencial e dê mais prioridade ao combate à pandemia do novo coronavírus. Em seu discurso de posse, Arthur Lira (PP-AL) foi enfático em pronunciar "vacinar, vacinar e vacinar", indicando que Bolsonaro poderá ser ainda mais refém dos setores que priorizam o combate ao Covid-19, e, por consequência, ampliação da relação Brasil–China, como já se observa pela retirada das barreiras contra a participação da tecnologia 5G, da China, na telefonia celular brasileira. Ou seja, a eleição no Congresso foi uma vitória conservadora, mas não, exatamente, uma vitória completa de Jair Bolsonaro, que será ainda mais condicionado pelo jogo político parlamentar, incluindo a pressão pela liberação de verbas para a retomada de obras paradas, várias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da ex-presidente Dilma Rousseff.
Para a esquerda, obrigatório será avaliar se houve impressionismo em fixar prioridade na aliança com Rodrigo Maia, reconhecidamente vinculado ao rentismo, aliança embalada por uma linha editorial favorável da Rede Globo, quando era possível constatar que os banqueiros estão em aliança muito bem gratificante com o governo Bolsonaro, não apostam no impeachment, pois estão conseguindo as mais robustas transferências de recursos públicos para os bancos, a título de combate à pandemia, o que deverá ser acrescido, substancialmente, com a aprovação dos Projetos de Lei de Remuneração dos Depósitos Bancários e da independência do Banco Central. Isso indicaria que a aposta de todas as fichas numa aliança com Rodrigo Maia, abrindo mão de lançar candidatura própria no primeiro turno, para negociar no segundo, (a retomada das obras paradas, por exemplo) teria sido o resultado de um cálculo ilusório.
A partir de agora, tanto Bolsonaro tem uma dependência do Centrão para se proteger do impeachment, que ficou mais remoto, como também a esquerda, tendo a maior bancada individualmente, deverá fazer ajuste de tática, para, com Arthur Lira, buscar fortalecer o combate à Covid-19, recuperando o Auxílio Emergencial, e "vacinar, vacinar, vacinar", além de forçar para quebrar limites do Teto de Gastos e pôr em pauta a recuperação de obras paradas, que tem apoio do Centrão e da ala militar do governo, em conflito com Paulo Guedes.
O jogo político fundamental para as esquerdas será nas ruas, cenário difícil nesta pandemia letal, mas o aumento do desemprego e da crise social turbinada pela expansão da pobreza, cria condições para a apresentação de uma plataforma programática de defesa das empresas estatais, da soberania nacional, etc., muito embora, as esquerdas ainda não se tenham decidido a criar uma mídia própria, popular e independente, para conseguir que estas mensagens cheguem às grandes massas, como chegam as mensagens conservadoras das TVs, rádios e jornais, como a Folha Universal do Reino de Deus, com tiragem superior a 3 milhões de exemplares, impactando, decisivamente, as comunidades mais empobrecidas.
Beto Almeida é jornalista
Fonte: Brasil Popular
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