A razão central do paradoxo é que os industriais brasileiros, diante da lógica de mercado e da ausência de políticas industriais consistentes, priorizaram a sobrevivência e competitividade de suas empresas, mesmo que isso significasse abandonar o nacionalismo produtivo.
Por que os industriais abraçaram o neoliberalismo?
- Sobrevivência empresarial: Desde os anos 1990, com a abertura comercial promovida por Fernando Collor, os empresários passaram a competir com produtos estrangeiros mais baratos e tecnologicamente avançados. A lógica do mercado os empurrou para importar insumos e máquinas, muitas vezes abandonando o desenvolvimento local.
- Ausência de política industrial ativa: O Estado brasileiro, por décadas, deixou de induzir setores estratégicos. Sem incentivos, os industriais buscaram soluções imediatas no mercado global, tornando-se dependentes de cadeias produtivas externas.
- Mudança no perfil do empresariado: Os industriais do passado, como os que participaram do Plano de Metas de JK, tinham forte vínculo com o desenvolvimento nacional. Hoje, muitos empresários operam com lógica financeira globalizada, menos comprometida com o projeto nacional.
O caso da Abimaq e a “maquiagem” industrial
A reação da Abimaq à desvalorização do dólar mostra como parte da indústria brasileira se transformou em maquiadora: empresas que apenas montam produtos com componentes importados, sem agregar valor tecnológico nacional.
Em vez de aproveitar o câmbio favorável para exportar, essas empresas sofreram com o aumento do custo das importações, evidenciando a fragilidade da base produtiva nacional.
Caminhos para uma nova política industrial
- Identificação de oportunidades reais de negócio: Políticas industriais devem partir da lógica empresarial, mapeando setores com potencial competitivo e empresas dispostas a investir.
- Formação de grupos de trabalho com o setor produtivo: Como no Plano de Metas de JK, é essencial envolver empresários desde o início, criando incentivos claros e metas compartilhadas.
- Exemplo promissor: Plano Nacional de Terras Raras (PNTR): Se bem desenhado, pode mobilizar desde grandes grupos até microempresas, articulando capital nacional e estrangeiro em torno de um projeto estratégico.
No Plano de Metas, o grupo de trabalho da indústria automobilística definiu as seguintes regras de entrada para as montadoras estrangeiras:
- Deveriam ter capital nacional na montadora. Com isso, JK conseguiu a adesão dos grandes grupos financeiros nacionais, como Monteiro Aranha.
- Autopeças nacional. Com isso atraiu capitais de vários setores. Abraham Kasinsky, imigrante judeu da Lituânia, montou a maior fabricante de amortecedores da América Latina. José Mindlin, empresário judeu-brasileiro, montou a Metal Leve, empresa de alta engenharia, pioneira em fundição de precisão. Werner Kämpf – Varga S.A. (Freios Varga) tornou-se o maior fabricante brasileiro de sistemas de freio.
