Faria Lima aplaude Plano da Petrobrás, enquanto brasileiro paga caro para ver (e abastecer)
Porta-vozes do capital financeiro comemoram a expectativa da manutenção dos elevadíssimos pagamentos de dividendos.
A Direção da Petrobrás anunciou Plano de Negócios para o quinquênio 2024-2028, onde projeta investimento de US$ 102 bilhões, sendo US$ 91 bilhões de projetos em implantação e US$ 11 bilhões de projetos em avaliação. [1]
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Se o plano for realizado o investimento anual pode variar entre 18,2 e 20,4 bilhões de dólares por ano. Apesar do aumento em relação ao plano anterior de US$ 78 bilhões em cinco anos, ou US$ 15,6 bilhões por ano, o investimento planejado é pequeno em relação ao histórico da Petrobrás. O investimento médio histórico da Petrobrás, desde 1965, foi de cerca de US$ 22 bilhões por ano, em valores atualizados. Entre 2009 e 2014, a estatal investiu US$ 53 bilhões por ano, também em valores atualizados.
Para piorar, a Direção da Petrobrás não tem sido capaz de realizar os investimentos planejados, nos três primeiros trimestres de 2023 o investimento líquido da Petrobrás foi de apenas US$ 4,91 bilhões, o equivalente a apenas US$ 6,5 bilhões em termos anualizados. [2]
Não à toa os agentes do mercado financeiro comemoram, segundo matéria da Infomoney, na visão do Morgan Stanley, o banco projeta um desembolso efetivo de cerca de US$ 80 bilhões em 5 anos, sendo de US$ 14 a US$ 15 bilhões no ano que vem. E acrescenta “Historicamente, a Petrobrás investe consistentemente abaixo do orçamento, o que nos leva à conclusão de que a tese de dividendos continua muito presente”. [1]
Ainda na referida matéria, os porta-vozes do capital financeiro comemoram a expectativa da manutenção dos elevadíssimos pagamentos de dividendos.
“Falando sobre os dividendos, com base em suas premissas macroeconômicas, a empresa espera que os pagamentos nos próximos anos totalizem US$ 40-45 bilhões (em comparação com US$ 65-70 bilhões do plano anterior), o que pode incluir recompra de ações, com potencial para mais US$ 5-10 bilhões de dividendos extraordinários.”
“Os valores implicam em um dividend yield (dividendo sobre o preço da ação) de aproximadamente 8%-9% em relação ao market cap atual e 9%-11% incluindo dividendos extraordinários, em comparação com 13%-14% no mínimo e 15%-17% incluindo dividendos extraordinários do plano anterior.”
“Vemos um risco ascendente para esses números, uma vez que a produção provavelmente ultrapassará o orçamento e, historicamente, a Petrobrás executa menos de 100% do investimento orçamentado”, avalia o Goldman. [1]
Em suma, o plano mudou para tudo seguir igual, alta distribuição de dividendos e relativamente baixo investimento. [3]
Enquanto a Faria Lima aplaude, a Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) estima que o preço do diesel está cerca de 20% mais alto do que o Preço Paritário de Importação (PPI), apesar do retórico “fim do PPI”. A Petrobrás poderia ser o motor para o crescimento do Brasil, mas as principais políticas da sua atual direção fazem com que a estatal seja um freio. [4]
Referências
[1] Infomoney, “Plano da Petrobras (PETR4) não é o “ideal” do mercado, mas elimina grande incerteza e ainda sinaliza bons dividendos” 2023.
[2] Economatica e Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
[3] F. Coutinho, “Direção da Petrobrás segue míope, investe pouco e paga muito dividendo, revelam os resultados do 3T23,” 2023.
[4] F. Coutinho, “Fim do Preço Paritário de Importação (PPI) é uma falácia nomotética,” 2023.
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