Vários autores; Autor sem foto
J. Carlos de Assis

Haddad e o crescimento econômico

País não terá crescimento sustentável se for mantida a estúpida política de metas fiscais

Publicado em 07/03/2025
Compartilhe:

O ministro Fernando Haddad acordou, finalmente, para o fato de que o Brasil não terá estabilidade fiscal se não houver crescimento econômico. Não acordou, porém, para o fato de que o País não terá crescimento sustentável se for mantida a estúpida política de metas fiscais contida no “arcabouço” de 2023, que restringe drasticamente investimentos e despesas públicas para equilibrar o orçamento primário.

Receba os destaques do dia por e-mail

Cadastre-se no AEPET Direto para receber os principais conteúdos publicados em nosso site.
Ao clicar em “Cadastrar” você aceita receber nossos e-mails e concorda com a nossa política de privacidade.

Tenho insistido recorrentemente nesse ponto. Crescimento da economia vem do aumento da produção. Contudo, não há aumento da atividade produtiva sem, antes, haver aumento da demanda agregada. É que os empresários não aumentarão a produção simplesmente para guardar nas prateleiras os bens produzidos. Produzem para vender. Para isso, tem que haver demanda suficiente na economia ou exportações.

Portanto, numa economia saudável, a demanda deve crescer a um ritmo ligeiramente acima da oferta, para induzir o aumento do investimento, da produção e do PIB. Entretanto, o principal fator sob controle do governo que leva a um aumento da demanda acima da oferta é o aumento do déficit público. Defendo um aumento do déficit da ordem de 3% do PIB, o teto praticado pelo BCE (Banco Central Europeu).
Não me venham dizer que o BCE é um banco irresponsável. É o mais novo banco central do mundo, conduzido por profissionais e especialistas europeus em política monetária do mais alto nível. Já nossa meta de equilíbrio orçamentário ou de déficit fiscal máximo de 0,25% é um anacronismo, herdado da Lei de Responsabilidade Fiscal de Fernando Henrique Cardoso do ano 2000, adaptada no “arcabouço fiscal” de Haddad, respaldado por Lula.

O presidente sintetiza seus conhecimentos de economia no conselho de sua amada mãe, dona Lindu, que lhe ensinou que o país, como uma família, “não pode gastar mais do que arrecada”. Naturalmente dona Lindu não sabia que, diferente de uma família, o estado pode emitir moeda e dívida pública para reforçar sua capacidade de pagamentos de despesas e investimentos quando surge um déficit orçamentário.

Isso não gera necessariamente inflação, se são gastos produtivos responsáveis e a demanda e a oferta de bens e serviços no mercado estiverem aproximadamente equilibradas. É que, se a um aumento da demanda gerado pelo déficit público corresponder a um aumento da oferta por conta do aumento da produção, terá havido na economia equilíbrio dinâmico.

Fetiches neoliberais relacionados com política fiscal e monetária são apropriados pelos especuladores, apoiados pela grande mídia, a fim de se apossarem de grande parte da renda nacional contra o interesse público. Referem-se à estabilização e controle da inflação. No caso fiscal, presume-se que a inflação é provocada por aumento do déficit público; no caso monetário, pela alta liquidez do mercado financeiro, que deve ser “enxugada” por uma alta taxa de juros (Selic).

Ambos são conceitos falsos. Como mostrei acima, inflação é um fenômeno especificamente de mercado, confrontando oferta e demanda de bens e serviços reais. Geralmente não está associada a questões monetárias ou financeiras. Pode se dever a quebras de safras, escassez de determinados insumos industriais (como os chips durante a pandemia), bloqueios políticos, embargos comerciais ou outros fatores.
Portanto, o controle da inflação é perfeitamente possível, diante de um aumento da demanda, se o governo atuar ativamente do lado da oferta. Para isso, o setor privado tem que ter acesso a condições favoráveis de financiamento para aumentar o investimento e a produção. É aqui que nossa política monetária representa um efetivo empecilho ao crescimento brasileiro: a taxa básica de juros (Selic) é extremamente elevada, e em lugar de estimular a produção, estimula o rentismo.

A base do rentismo é a Dívida Pública, cujo nível atual representa um passivo sem o ativo correspondente com a maior parte girando no mercado financeiro na forma de “operações compromissadas” do Banco Central, que rendem juros diários proporcionais à Selic. Enquanto existir a Selic, conforme tenho insistido, a economia brasileira não tem como crescer a altas taxas, pois os empresários continuarão preferindo ganhar bilhões de reais no rentismo em lugar de investirem no mercado produtivo real.

guest
0 Comentários
Mais votado
Mais recente Mais antigo
Feedbacks Inline
Ver todos os comentários

Gostou do conteúdo?

Clique aqui para receber matérias e artigos da AEPET em primeira mão pelo Telegram.

Mais artigos de J. Carlos de Assis

Receba os destaques do dia por e-mail

Cadastre-se no AEPET Direto para receber os principais conteúdos publicados em nosso site.

Ao clicar em “Cadastrar” você aceita receber nossos e-mails e concorda com a nossa política de privacidade.

0
Gostaríamos de saber a sua opinião... Comente!x