
Para entender a campanha contra a Previ
Manutenção de Rui Costa na Casa Civil e Alexandre Silveira, em Minas e Energia, ainda irá custar muito caro ao governo Lula
Não conheço o presidente da Previ (Caixa da Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil) João Fukunaga, nem estou apto a analisar sua gestão.
Mas é evidente que a campanha do qual é alvo tem interesses políticos, embora não muito claros ainda.
Tudo começou com o suspeito Tribunal de Contas da União (TCU) abrindo um procedimento em vista do déficit da Previ em um período de 10 meses do ano passado. Nunca vi um critério desses – de definir um período específico – para análise de desempenho de fundos de pensão. O relator do caso foi o Ministro Walton Alencar Rodrigues
Na privatização da Vale do Rio Doce, a Previ adquiriu uma participação expressiva, por determinação do então governo Fernando Henrique Cardoso. Pelo peso da Vale em sua carteira, sofre oscilações dependendo das cotações internacionais do minério. No ano passado, as cotações despencaram, caiu o preço da Vale e caíram os valores da carteira da Previ. Mas no ano anterior houve lucro. Este ano, possivelmente, retornará o lucro.
O que chamou a atenção foi a campanha explícita da CNN contra Fukunaga. Mas tão explícita que deixou no ar a interrogação: o que está por trás dela?
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A emissora é dirigida por João Carlos Camargo, presidente do Esfera Brasil, um dos principais centros de lobby do país – competidor direto da LIDE, de João Dória Júnior. O controlador é Rubens Menin, empresário mineiro que enriqueceu com o programa “Minha Casa, Minha Vida” e, depois, enveredou pelo sistema financeiro, montando um banco.
Uma das razões poderia ser derrubar um aliado de Lula, e entregar a gestão do fundo a gestores privados. As fontes não acreditam nisso. O mais provável seria uma suposta má vontade da CNN com o Banco do Brasil, por ter suspendido campanhas por lá. Seria, portanto, uma maneira indireta de atingir a diretoria do BB.
A história, na verdade, é mais simples.
Quando começou a discussão sobre o novo CEO da Companhia Vale do Rio Doce, apareceram diversos candidatos. Em determinado momento, apareceu o nome de Bruno Dantas, Ministro do TCU. Alexandre Silveira, o controvertido Ministro das Minas e Energia, procurou o representante da Previ, João Fukunaga, para que apoiasse Dantas. Mas a governança do fundo exige seleção através de headhunters, entre pessoas de experiência comprovada. Por isso, o nome de Dantas perdeu força.
O interesse de Silveira – juntamente com o Ministro-Chefe da Casa Civil, Rui Costa – é uma empresa de mineração da Bahia, a Bamin (Bahia Mineração), que explora um minério de má qualidade. Há interesse de que a Vale entre na empresa, para valorizá-la.
Com a recusa da Previ, Silveira procurou João Carlos Camargo, da CNN, sogro de Bruno Dantas. Camargo começou a pressionar. Tentou ampliar as verbas do BB para a emissora, além de recuperar o patrocínio que o banco fazia à Esfera Brasil. Não conseguiu, barrado pela governança do banco.
A partir daí, instaurou-se a guerra. E comprovou-se que a maior defesa contra interferência política são os modelos de governança.
A manutenção de Rui Costa e Alexandre Silveira ainda irá custar muito caro ao governo Lula.
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