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Luciano Chagas

Por que vender parte do petróleo da Cessão Onerosa ou o seu excedente?

Circulam informações dando conta de que o segundo poço do Campo de Búzios, na P74, produziu 60 mil barris de petróleo por dia, com vazão es

Publicado em 10/10/2018
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Circulam informações dando conta de que o segundo poço do Campo de Búzios, na P74, produziu 60 mil barris de petróleo por dia, com vazão estabilizada na casa de 52 mil barris/dia. Procurei a confirmação desses números no site da Petrobrás sem obter quaisquer resultados e assim reporto, para não ser acusado de divulgador de fakes, algo que particularmente acho repugnante.

Entretanto, como estudioso do pré-sal há mais de 12 anos, a possibilidade de se produzir tal volume, na área de Búzios, é perfeitamente plausível, pois os reservatórios e as suas expressões em atributos sísmicos têm algo de excepcional, melhores que os de outras áreas.

Se o número for confirmado teremos aqui, no Brasil, no indomável e endeusado pré-sal, um dos melhores poços do mundo em termos de produtividade, quiçá o maior, e que pertence a área da Cessão Onerosa, com 5 bilhões de barris recuperáveis adquiridos pela Petrobrás e na mesma área onde residem os excedentes, algo em torno de 10 bilhões de barris de óleo recuperável potencial, que o governo do denunciado presidente Temer quer negociar, ainda em 2019, através de leilão da ANP, cujo chefe maior, senhor Décio Oddone, secundado pelos secretários do MME, senhor Marcos Felix, e pelo próprio denunciado ministro das Minas e Energia, o impoluto senhor Moreira Franco, querem a urgente aprovação no Senado do projeto aprovado na Câmara, proposto pelo malsinado deputado Aleluia.

Em outras palavras, eles querem entregar para as companhias internacionais tais reservas, justo onde a Petrobrás e o governo investiram, com risco, e descobriram petróleo que, depois, os ilustres senhores Temer, Décio Oddone, Marcos Felix e Moreira Franco querem que o próximo governo, a ser eleito com o referendo do povo, coloque em leilão como algo excelente para o Brasil. Isso já foi previamente anunciado e com data marcada, sem ao menos terem a aprovação do Senado, que também será eleito, ou com a aprovação do atual, ainda em 2019, para adequar as vendas aos preceitos constitucionais.

Empresas estrangeiras só entram com a receita das descobertas da Petrobrás

Pior, o acerto parece contar com o apoio dos atuais gestores da Petrobrás. Eles fizeram a Empresa exercer papel secundário no último leilão da ANP ao não participarem com, pelo menos os 30%, e a operação garantidos por lei, nas compras de áreas das novas fronteiras exploratórias na Bacia de Santos: Saturno, Titã e Pau-Brasil, ficando apenas com participação de 100% na área sudeste de Tartaruga Verde, adjacente as outras áreas já de sua propriedade e de importância secundária, vis-à-vis aos volumes potenciais negociados.

Aos poucos, quase todas as áreas exploratórias com boas perspectivas do pré-sal foram vendidas para empresas estrangeiras, com a Petrobrás perdendo, paulatinamente, o protagonismo que tinha como a principal e altiva empresa brasileira, cujas atividades integradas e implantadas, do poço ao posto, vêm sendo vendidas, desmilinguidas mesmo, a preço de banana, apesar dos enormes custos e esforços bancados pelos brasileiros, os verdadeiros proprietários da Petrobrás, que logo serão ex-donos, pois os fundos de investimentos, tipo Black Rock, Vanguard Group, etc., já proprietários das multinacionais do petróleo, aos poucos estarão com mais uma, via compras de participações acionárias, cada vez maiores, da Petrobrás, principalmente nas épocas de queda dos preços das ações, sempre ajudados por maus brasileiros, que são incansáveis em destratar a nossa maior empresa com seus discursos da necessidade de privatizá-la em benefício do Brasil. Do Brasil de quem?

A título de exercício, o petróleo da área da Cessão Onerosa, só na de Búzios, com seus 852.2 km², com poços ocupando cada km², cabem 852 poços que custarão US$ 85,2 bilhões para serem perfurados, e cada quatro poços exigirão uma FPSO, no total de 230, que custarão, replicantes, a razão de US$ 2 bilhões cada, o total de US$ 460 bilhões, mais linhas, navios etc, no custo total de mais US$ 200 bilhões, perfazendo US$ 0,7 trilhões em investimentos, parcelados no tempo razoável de 10 anos, para plena consecução do projeto, ou US$ 70 bilhões anuais de investimentos, alguns já em fase final de produção, ou seja já em 2019 apresentarão receitas.

Do lado das receitas, o cenário poderá ser o seguinte. Ao invés de usarmos os 52 mil barris diários e apenas 35 mil barris, por poço, com vazões diárias constantes por dois anos (fase platô de produção), em 300 dias por ano (65 dias para manutenção) de produção, a receita será, a U$ 60/barril, algo como US$ 53,5 bilhões/ano, com 85 poços produtores. Isto significa que nos anos seguintes, os U$ 70 bilhões/ano de investimentos anuais necessários serão reduzidos a apenas US$ 16,5 bilhões, se usarmos os valores adicionados apenas para diminuir os investimentos.

Após o segundo ano, com a receita adicional de mais 85 poços, os valores serão de US$ 107 bilhões/ano de receitas (53,5 x 2) contra os mesmos US$ 70 bilhões/ano de investimento, sobrando assim, já no segundo ano, US$ 37 bilhões de receita (107-70). Como se vê, não adicionamos às contas quaisquer valores de receitas relativos a produção já instalada da Petrobrás, de 2,62 milhões de barris por dia, ou receitas anuais de US$ 47,1 bilhões, com base nas mesmas premissas de valor do barril e tempo de produção.

Do lado dos equipamentos, para se ter 85 novos poços por ano, é necessário que se perfurem 4 deles por equipamento, ou sejam 21 equipamentos em constante atividade, em pelo menos 5 anos, até que as reservas recuperáveis e potencias de Búzios, de 15 bilhões de barris (5 bilhões da Petrobrás e 10 bilhões da União), estejam completamente esgotadas.

Finalizando, estamos falando de produções incrementais na casa de 3 milhões de barris por dia que, no segundo ano, serão 6 milhões e, no seguinte, 8,7 milhões (taxa de declínio de 10% ano), ou de produções anuais da ordem de 0,9 bilhões de barris no primeiro ano, 1,8 bilhões no segundo, 2,7 no terceiro, 3,6 no quarto e 4,5 bilhões no quinto ano e, assim, em 5,5 anos esgotaríamos toda a reserva provada potencial disponível em petróleo da cessão onerosa, apenas de Búzios. Isto com produção diária final superior a 8,7 milhões de barris e faturamento de US$ 600 milhões, por dia, e, anual, da ordem de US$ 180 bilhões, apenas com o óleo incremental, sem falar dos volumes advindos dos aumentos do fator de recuperação, como é comum antes do esgotamento das reservas.

Comparando os gastos relativos aos 5,5 anos de duração do projeto gastando US$ 70 bilhões por ano, os gastos totais seriam US$ 385 bilhões (70 x 5,5) que gerariam receitas de acumuladas de US$ 0,95 trilhão.

Como já disse previamente a conta é de padeiro, um mero exercício para um projeto pronto, com o petróleo já descoberto, onde, com certeza, não faltarão parceiros para divisão de custos e lucros, desde que sejam liderados pela Petrobrás em benefício do País e dela própria.

Imaginem quanto cresceria a atividade; algo, calculo, em torno de 20% a 25% do PIB brasileiro por ano, minorando o estado esquelético que se encontra o Brasil por usar hoje um modelo econômico recessivo, o mesmo que afunda a Argentina. Temos convicção, para que não nos chamem de malucos, que mostramos números de produção superlativos, prazos exíguos e elevado número de equipamentos, com exageros propositais para mostrar a todos que as possibilidades brasileiras são imensas e quão desnecessárias são a venda do petróleo da cessão onerosa e dos ativos já descobertos, além da não compra de ativos exploratórios ou compra em montantes pífios, que impactarão negativamente as atividades futuras.

Nossos dirigentes coniventes vendem irresponsavelmente os melhores patrimônios do Brasil mostrando para o brasileiros contas absurdas de dívidas, bem ao gosto do discurso da privatização sempre aliados às suas conveniências econômicas, políticas, ou ambas, sempre intestinas, pessoais mesmo.

Que vantagens teve o Brasil com a quebra do monopólio?

Assim algumas perguntas se fazem necessárias.  Após um enorme período da quebra do monopólio, quais os ganhos substanciais para a população propiciados pelas as multinacionais do petróleo para a nação chamada Brasil?

Além das ofertas em óleo excedente ao Brasil nos leilões exploratórios, forçadas pela lei de Partilha ora implantada, e que todos os entreguistas o lobistas querem revogar, quais os investimentos que as empresas alhures fizeram no Brasil, além da compra, por preço de banana podre, de ativos tipo, NTS, acumulação de Carcará etc. ( cujos poços serão de alta produtividade afirmo, face a elevada pressão dos seus reservatórios) e as estranhas “parcerias" nos Campos de Roncador e Marlim, para que empresas especialistas aumentem o fator de recuperação de seus reservatórios bem simples, arenosos, descomplicados, onde a Petrobrás já tem excelência e elevado expertise?

Quais os novos investimentos feitos nos mid e downstream pelas estrangeiras no refino, na produção de fertilizantes, etc., além da promessa de compra de participações nas nossas refinarias e fábricas já instaladas por preços que vaticino, aviltados, face aos empreendimentos adquiridos no passado?

Qual a razão de não fazerem novos investimentos quando reconhecem enorme potencial do nosso pré-sal, segundo os dirigentes brasileiros das mesmas empresas nos diversos encontros, simpósios e congressos que fazem ou participam no Brasil e mundo afora?

Pergunto ainda: Quando os nossos amigos investiram em P&DI no nosso País além de parcos recursos em atividades subsidiárias?

Aos incautos ou defensores do modelo pergunto também: Por que a atividade econômica decorrente permanece em baixa, com elevadas taxas e desempregos nas áreas de G&G, P&D, P&DI etc., principalmente nas atividades especialistas tipo engenharia, geofísica, geologia, elevação, naval, processamento etc.?

Fora alguns que já estão com emprego assegurado é assustador o número de currículos que recebo todo dia de técnicos preparados, todos em busca de colocação, mesmo com baixos salários, sem que tenham sequer uma resposta positiva face ao marasmo dominante no setor, apesar da euforia utópica dos dirigentes da ANP, MME, Petrobrás etc., que enxergam incrementos fictícios nas atividades nos seus próprios mundos autistas, o da entrega de ativos para os de fora, que divergem completamente do mundo real, o dos marginalizados.

A utopia deles pode ser verdadeira apenas nos países de residência dos compradores de ativos, ou dos partícipes dos fundos de investimento, que devem estar exultantes com as aquisições baratas, com o petróleo agora na casa US$ 84/bbl, pois além de não investirem, pagaram excessivos dividendos para os seus acionistas e ainda têm os ativos e portfólios recompostos, a custa da nossa elite econômica “ diligente"e dirigente, que vende os ativos do Brasil como se fôssemos uma republiqueta de quinta categoria.

Gostaria muito que os defensores do modelo adotado pelos hipócritas que mandam no País respondessem às perguntas que faço com bons números destruidores dos meus argumentos?

Quanto o Brasil e o povo ganharam com a política de venda adotada? Quão de substantivo a Petrobrás ganhou com as vendas realizadas e quanto da sua dívida ou a sua amortização são consequentes dos valores recebidos pelas vendas? Qual a razão da perda de market share da Petrobrás por praticar preços superiores aos internacionais quando equilibra seus custos de produção de petróleo em US$ 25 a US$ 30 e o vende para os brasileiros, hoje, entre US$ 75 a US$ 85/barris embutidos nos preços de diesel, querosene e gasolina? A quem interessa termos diesel e gasolina a preços exorbitantes num Brasil de hoje movido a recessão?

Duvido que respondam!

Quanto ao futuro com as promessas de alguns postulantes a presidência do Brasil por mais vendas, pela necessidade de concorrência (não por novos investimentos aqui, mas por compra de ativos por preços de liquidação) não sei sinceramente o que ocorrerá.

Prevejo um caos ainda maior que o atual e muros mais altos pois os de hoje serão ainda mais ineficientes para separar os ricos dos pobres, dos pretos e mulatos, frequentemente e permanentemente confundidos com os ladrões e assassinos que pululam no nosso Brasil. Os abundantes dos andares de baixo como os pouquíssimos ricos do andar de cima O mundo da fantasia e desigualdade como assim pensa e funciona os do andar de cima, falo dos sérios, exceto alguns poucos, clarividentes, como Ricardo Semler, bem como outros eus, os da maioria dos que lerão compreensivelmente este desabafo, e que têm o bom senso de expor o que nos espera, se continuarmos com tais políticas deletérias.

Um eminente geólogo brilhante, pretérito, também advogado, o inglês Carlos Lyell, e também tutor e predecessor do evolucionista Charles Darwin, ao propor os estatutos da teoria uniformitarista geológica , formulou o seguinte aforisma,. “ O presente é a chave do passado ”. Eu formulo um outro: “Oxalá o futuro não seja a chave do presente”. Se for a continuidade do mesmo que vivemos certamente será e estaremos literalmente ferrados.

Aguardo, assim, respostas substanciadas capazes de contradizer o que agora relato.

Luciano Seixas Chagas, geólogo

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