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Luciano Chagas

Socorro, estou sendo roubado !

Está no Fatos&Dados da Petrobrás a seguinte notícia sobre o poço no Campo de LIBRA: "Durante os testes, o poço produtor interlig

Publicado em 19/10/2018
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Está no Fatos&Dados da Petrobrás a seguinte notícia sobre o poço no Campo de LIBRA:

"Durante os testes, o poço produtor interligado à plataforma atingiu a produção de 58 mil barris de óleo equivalente por dia (boed), um grande resultado em águas ultraprofundas.”

Não é só um bom resultado, como publicado. A Petrobrás ainda não confirmou os resultados do teste do poço de Búzios, na P-74, contíguo ao Campo de Libra, à leste, com a produção diária de 52 mil barris. Como são duas áreas contíguas, de leste para oeste, concluímos que temos a maior província do mundo em termos de produtividade por poço, apesar da presença do contaminante CO2 presente no petróleo (12%), que está sendo sequestrado via reinjeção nos reservatórios, o que torna especial a tecnologia para a sua produção, mas que, por outro lado, ao ser reinjetado, manterá precocemente a energia do reservatório por muito mais tempo, aumentando assim o volume final a ser recuperado ou o seu Fator de Recuperação incremental, ou seja, recuperaremos muito mais petróleo que inicialmente previsto.

É muito estranho a Petrobrás não divulgar as produtividades dos poços do Campo de Búzios. Qual é a razão?

Leilões de ANP e entrega de áreas estratégicas

A área de Libra foi objeto de Leilão da ANP no passado, com a Petrobrás exercendo o direito de ter os 30% da área, mais a operação. A Companhia também adquiriu mais 10%, ficando com 40% do negócio. Com base nos resultados de produção antes já vaticinados, resta a pergunta: valeu a pena termos parceiros em empreendimentos de tal porte?

Os atuais dirigentes da Petrobrás e do governo Temer querem vender, na área de Búzios, parte dos 5 bilhões de barris que a Petrobrás detém, além de seu volume excedente, o pertencente a União, ou seja, os 10 bilhões de barris já descobertos. Tudo isso após a venda feita pela Petrobrás dos 66% que detinha da acumulação Carcará, cujos compradores, espertos, adquiriram também a área vizinha, Carcará Norte, conforme vaticínios que fizemos muito antes da realização do leilão.

Estamos falando de pelo menos 4 bilhões de barris de óleo recuperáveis e já descobertos das áreas de Carcará e Carcará Norte. Tudo isso fora a área da descoberta de Guanxuma, incluída no mesmo negócio, de graça, com pelo menos 0,6 bilhão de barris já encontrados pela Equinor e parceiros no Bloco exploratório BM-S-8, em prospecto previamente mapeado e vendido pela Petrobrás, a preço de banana, sem falar dos volumes potenciais do prospecto ou recurso prospectivo denominado Uirapuru. Nesta área, que a Petrobrás perdeu no último leilão da ANP, mas que, acertadamente, exerceu o seu direito de comprar 30% e de também ser também operadora, os volumes potenciais são da ordem de 4 bilhões de barris de petróleo recuperáveis.

É também estranho a Equinor e parceiros não publicarem a potencialidade da área de Guanxuma, cujo poço perfurado já deve ter sido avaliado, pois hoje a avaliação preliminar de boa qualidade é feita praticamente durante a perfuração dos poços. O que diz a ANP sobre este assunto específico?

Pretensões dos candidatos a Presidência do Brasil e perda do Pré-sal

Consta em declarações à imprensa que o senhor Paulo Guedes, potencial ministro da economia do governo Bolsonaro, se este for o escolhido pela população, venderá por R$ 90 bilhões o petróleo do excedente da cessão onerosa, ou seja, 10 bilhões de barris, ao preço de R$ 9/barril ou US$ 2.42/barril ao cambio atual de US$ 2.72. Se for verdade, isso será uma continuidade, para pior, da política atual da Petrobrás e do atual Governo Temer, de vender o petróleo do Pré-Sal a preço de banana podre ou a continuidade dos mesmos crimes de Lesa-Pátria, cujas receitas a serem obtidas serão exclusivas para diminuir parte do déficit público incontrolável e previsto para o ano 2019. Oxalá tais ditos sejam fakes news, apesar de não se ter quaisquer desmentidos do candidato Bolsanaro.

Do lado da candidatura Haddad, está claro que isso não ocorrerá, segundo as próprias assertivas do candidato. Oxalá isso seja mantido se ele for o ungido ou consagrado pelo voto popular.

Um ou outro, quem vender tal patrimônio com as características já descritas, estará cometendo um ato criminoso contra o patrimônio nacional e assim será objeto de cobrança.
Receberá meu voto quem explicitamente preservar a riqueza nacional para ser desfrutada pelo nosso povo sofrido.

Parcerias nos campos do Pós-Sal

Também são lamentáveis as vendas dos campos do Pós-Sal. No Campo de Roncador, formado por arenitos de fácil manuseio em termos de geologia e engenharia de reservatórios, é feita uma parceria com a Equinor, sob a alegação que esta tem expertise exclusivo em recuperação secundária. Causa esgar, carranca mesmo, após Petrobrás trabalhar com os complexos reservatórios do Campo de Carmópolis, em Sergipe, com múltiplos reservatórios e múltiplos projetos de recuperação, sequer a insinuação de que ela não tem experiencia suficiente para melhorar o Fator de Recuperação de reservatórios tão simples, como o faz em diversos e variados campos petrolíferos brasileiros com maiores complexidades.

É algo como chamar de incompetentes os engenheiros, geólogos e geofísicos da Petrobrás, sempre competentes para todos os concorrentes que os disputam no mercado, via melhores salários nos bons tempos, enquanto os nossos dirigentes, para justificar seus intentos entreguistas, os depreciam.

Já com o Campo de Marlim, como hoje anunciado no negócio COMPERJ, os chineses também se tornaram técnicos de elevada expertise, apesar de não terem seus valores tão propagados na indústria como os da Equinor.

Neste comentário não quero depreciar os profissionais de quaisquer nacionalidades, pois já trabalhei com bons técnicos, excelentes mesmo, de diferentes países e matizes. O inaceitável é, tão somente, desmerecer os nossos profissionais para fazerem valer, como bons argumentos, uma política absolutamente desnecessária e entreguista, que gera pouquíssimos empregos, renda e riquezas para os brasileiros que tanto investiram para descobrir o patrimônio que está sendo literalmente doado. Um absurdo!

Tudo isso sem falar da entrega dos recursos prospectivos do Pré-Sal, que jazem inexplorados abaixo dos reservatórios do Pós-Sal superiores, que estão sendo doados sob o eufemismo de boas parcerias. Boas para quem caras pálidas? Com certeza não são boas para os mulatos pouco inzoneiros (se usado no sentido pejorativo), entre os quais me incluo absolutamente, todos nós subtraídos de um patrimônio que criamos às custas dos impostos que pagamos durante a nossa existência. É algo como gritar: socorro, estou sendo roubado!

Quem ganha com a venda da atividade de refino no Brasil?

Atualmente, faz parte da discussão política a venda de refinarias da Petrobrás para a iniciativa privada. Na verdade, não se trata apenas da venda de refinarias mas sim da venda de todo um pacote regional, que inclui refinaria e dutos e terminais que compõem a logística de escoamento dos produtos refinados.

Esse tema merece uma discussão profunda por parte dos brasileiros e, por isso, entendo que cabem alguns esclarecimentos balizadores, de modo que qualquer tomada de posição sobre o assunto seja apoiada em um mínimo de entendimento sobre a situação atual do abastecimento nacional de combustíveis e suas reais necessidades.

O Brasil possui um parque de refino cuja capacidade total gira em torno de 2.350.000 de barris de petróleo processados por dia. Desse total, cerca de 97% refere-se a refinarias da Petrobrás. Tais refinarias estão espalhadas pelo país, de maneira a disporem de mercados regionais cativos e sem serem contestados.

É importante deixar claro que o petróleo bruto não move automóveis, aviões, trens, navios, não aquece residências, não serve para cocção de alimentos. Ou seja, o petróleo, para ser útil à sociedade, deve ser processado em refinarias, de modo a ser transformado em derivados como o gás de cozinha, a gasolina, o diesel, o querosene e o óleo combustível.

Pelo lado da demanda, o Brasil necessita - em grandes números - dos mesmos 2.350.000 barris por dia de derivados de petróleo para atender ao seu mercado interno. Só que essa coincidência de números não significa total atendimento da demanda por nossas refinarias. Isso porque a demanda é diferenciada para cada tipo de combustível. As nossas refinarias não produzem exatamente a quantidade de gasolina e de diesel com baixos teores de enxofre que o mercado demanda. Pelo contrário: a produção diária de combustíveis do parque nacional de refino apresenta percentuais de derivados não coincidentes com nossas necessidades diárias. Dessa forma, constata-se que há a necessidade de importação de derivados, mais fortemente a gasolina e diesel, para o complemento da demanda nacional.

Cabe esclarecer que, com o Pré-Sal, o Brasil passou a ser um grande produtor de petróleo. A produção nacional já passa dos 2.700.000 barris por dia e tende a crescer muito mais. Com isso, o país apresenta-se como um produtor abundante de petróleo - muito mais do que pode processar em suas refinarias - e, ao mesmo tempo, um consumidor que necessita cada vez mais de importações de derivados menos poluentes, não produzidos em volumes necessários às nossas necessidades internas. Esta sobra petróleo e falta combustíveis implica na necessidade de mais refinarias no país.

Entretanto, desde o advento da crise na Petrobrás, a empresa (por meio de sua direção) vem anunciando que não é sua prioridade a construção de novas refinarias, a menos que surjam parceiros que viabilizem novos negócios.

Daí, vem à tona uma constatação clara: o que o Brasil está necessitando com urgência é de agentes econômicos privados que invistam na ampliação do parque nacional de refino, de modo a aumentar a oferta, além de contribuir para o aumento da concorrência, uma vez que novas refinarias privadas poderão disputar mercado com as refinarias da Petrobrás em uma mesma região, com benefícios à população.

E é nesse panorama que surge, agora, no calor de uma disputa eleitoral, a discussão sobre a venda de refinarias, dutos e terminais da Petrobrás para a iniciativa privada. Ora, uma simples análise sobre o mercado e suas necessidades é o suficiente para se constatar que vender refinarias já prontas e operando não vem ao encontro das necessidades do país: não contribui para o necessário aumento da capacidade nacional de refino nem para o saudável aumento da competição.

Em outras palavras, a venda de refinarias já em operação não contribui para aumentar nem uma gota de petróleo a ser processado no parque nacional de refino. O que se faz necessário é que novas refinarias sejam construídas, novos agentes sejam precursores de investimentos e outras alternativas ao consumidor sejam disponibilizadas.

Com isso, a Petrobrás continuará a refinar seu petróleo em todo o país e a ser uma empresa verticalizada, com maior e melhor gerenciamento de seu lucro, o Brasil receberá mais refinarias de outros refinadores, a cadeia de suprimento à jusante do refino terá mais opões de compra de combustíveis e a população disporá de preços mais competitivos.

De novo pergunto aos candidatos Haddad e Bolsonaro. É certo vender parte do nosso parque de refino? Por que os estrangeiros não investem nos seus próprios parques? A equipe de Bolsonaro propaga que venderá. A de Haddad não abordou especificamente sobre o tema e precisa se posicionar!

Luciano Seixas Chagas é geólogo

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