Por uma política industrial consistente
Em 2014, no início de um novo mandato presidencial, a indústria naval brasileira vivia um momento de ápice e conseguiu ficar de pé após déc
Em 2014, no início de um novo mandato presidencial, a indústria naval brasileira vivia um momento de ápice e conseguiu ficar de pé após décadas de esquecimento. A política de conteúdo local, as novas encomendas da Petrobras e o aumento da produção offshore fizeram com que o setor avançasse, em média, 19,5% ao ano entre 2000 e 2013, segundo dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).
Esse crescimento resultou na construção de 605 embarcações até 2016 e na criação de mais de 80 mil empregos diretos e 400 mil indiretos, além da qualificação da mão de obra da cadeia produtiva de óleo e gás e do desenvolvimento da economia dos municípios, onde os estaleiros estão localizados.
Passados oito anos, às vésperas da escolha dos novos dirigentes do País, continuamos vivendo em um cenário de grandes números. Mas, desta vez, infelizmente, negativos. Tudo o que foi conquistado em uma década de muito investimento e trabalho hoje se resume a uma tentativa de sobrevivência.
Perdemos mais de 60 mil postos de trabalho. Dos 28 estaleiros associados no final de 2014, muitos não estão operando. E os que restaram encontram-se na UTI, agarrando-se aos seus últimos contratos para não fecharem as portas.
A Petrobras, principal demandante de navios e plataformas no País, foi afetada pela crise política e econômica, interrompeu projetos, engavetou novas iniciativas e pressionou por uma política de baixo conteúdo local, passando a encomendar suas plataformas de produção em estaleiros asiáticos. E não se trata apenas da Petrobras. A "tese" de que a indústria naval é cara e ineficiente fez escola, mas não é verdadeira.
Nas longas negociações que envolveram a Petrobras, o Governo, a ANP e várias instituições e empresas, o Sinaval sempre insistiu em mostrar que não podemos jogar no lixo tudo que construímos. O setor naval é estratégico e tem que ser defendido por uma política de Estado. Não queremos privilégios, não temos partido político. Queremos o que toda nação desenvolvida já possui: uma indústria naval saudável.
Provamos ser capazes de produzir navios e plataformas com qualidade e eficiência e, ainda, contribuir para o crescimento do País. Como exemplo, o FPSO P-74 foi entregue à Petrobras e colocado em produção com 86 dias de antecipação em relação ao prazo contratual, do que resultou uma antecipação de caixa de cerca de US$ 900 milhões para a empresa, se for considerado o barril de petróleo ao preço de US$ 71 na época. Há inúmeros casos de entregas antecipadas pela indústria naval brasileira ao longo de sua história.
Ver tudo isso afundando, além de incompreensível, é desastroso. Cerca de R$ 10 bilhões do Fundo da Marinha Mercante – ou seja, dinheiro público – foram investidos e agora estão sendo desperdiçados.
O documento "Propostas da Indústria Naval para as Eleições de 2022" oferece informações detalhadas sobre o setor e reúne as propostas do Sinaval para o Brasil para o desenvolvimento de uma política industrial forte e sustentável no futuro. Nosso objetivo é fornecer um arcabouço de como recuperar e manter o setor naval forte, competitivo e eficiente.
Como disse antes, nosso projeto não é político. O Sinaval está aberto ao diálogo e pretende oferecer suas visões e propostas a todos os candidatos.
Ariovaldo Rocha é presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval).
Fonte: Monitor Mercantil
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