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Fábio de Oliveira Ribeiro

Shumpeter e a destruição destrutiva tupiniquim

Segundo o economista Joseph Schumpeter, as inovações tecnológicas surgem com uma força incontrolável para inevitavelmente destruir o que est

Publicado em 14/01/2021
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Segundo o economista Joseph Schumpeter, as inovações tecnológicas surgem com uma força incontrolável para inevitavelmente destruir o que está estabelecido. O telégrafo era extremamente rentável até ser arruinado pelo telefone. A indústria de charretes e carroças foi triturada pela de carros e caminhões. As fábricas de trens elétricos acarretaram a obsolescência das de trens a vapor.

Shumpeter chamou esse fenômeno de destruição criativa. Os prejuízos econômicos temporários causados por causa das inovações (falências, desemprego, queda de arrecadação tributária, etc.) acabavam sendo compensados pelo florescimento dos novos negócios que elas criavam. A cada surto de destruição criativa um país pode, se for bem governado, se tornar mais rico e poderoso.

A teoria de Shumpeter, entretanto, apresenta algumas falhas óbvias. A invenção e a fabricação de isqueiros não substituiu completamente a produção de fósforos convencionais. É possível melhorar a qualidade, a textura e a maciez do papel higiênico, mas dificilmente alguém conseguirá produzir um substituto para essa mercadoria.

O surpreendente aumento do consumo de papel higiênico no início da pandemia foi um fato econômico inesperado. Mas ninguém em sã consciência acreditou que o consumo dessa mercadoria iria cair porque Jair Bolsonaro recomendou às pessoas evacuar uma vez a cada dois dias. A biologia humana não pode ser reformada.

No Brasil a teoria de Shumpeter parece não ter sido muito bem compreendida.

A Lava Jato destruiu totalmente nossa indústria naval e de construção civil. O espaço deixado foi preenchido por empresas internacionais concorrentes das brasileiras.

Michel Temer provocou o colapso da indústria petrolífera até o Brasil voltar a importar óleo diesel e gasolina dos EUA. O bolsonarismo ou boçalismo neoliberal de Paulo Guedes está provocando uma desindustrialização acelerada do nosso país.

Diversas multinacionais grandes e importantes encerraram suas atividades no Brasil. As fábricas brasileiras que vendiam insumos para elas irão inevitavelmente quebrar num futuro próximo. O espaço deixado pelo colapso da indústria nacional será inevitavelmente ocupado por um aumento da importação de produtos industrializados, fenômeno que inibirá nosso ressurgimento industrial.

No início da pandemia, o governo Bolsonaro deu um subsídio trilionário aos banqueiros. Agora ele se recusa a dar alguns tostões à Ford, causando mais desemprego e destruindo os negócios dos fornecedores de autopeças. O dinheiro empossa nos Bancos e o país empobrece.

A vocação brasileira é o agronegócio, cacarejam os seguidores do mito. Todavia, o aumento da produção de alimentos não poderá ser absorvido por um mercado interno em franca contração. O declínio dos preços dos produtos do agronegócio brasileiro será inevitável, pois os EUA não importam alimentos "made in Brasil" e a Europa usará a devastação ecológica para proteger ainda mais sua própria indústria agrícola.

Bolsonaro não quer vender alimentos para a China e desdenha os parceiros africanos conquistados pelos governos Lula e Dilma Rousseff. Ao se aproximar demais de Israel, ele comprometeu as exportações brasileiras de alimentos para os muito mais populosos países árabes.

A destruição promovida pelos heróis lavajateiros e pelos desgovernos Michel Temer e Bolsonaro não é uma destruição criativa. Ela é uma destruição destrutiva.

As empresas de comunicação provavelmente já estão sofrendo uma queda na arrecadação de publicidade privada em virtude de várias multinacionais terem encerrado suas atividades no Brasil. O aumento da disputa pelas verbas de publicidade estatal é um fato e levará à uma guerra fratricida entre os barões da mídia.

Em breve o estrago produzido à economia real começará a comprometer a lucratividade dos Bancos privados. Eles obviamente compensarão isso aumentando a taxa de juros dos empréstimos feitos ao Estado provocando a explosão do endividamento público num período de queda contínua da arrecadação tributária.

O que ocorreu no Rio de Janeiro há alguns anos (interrupção do pagamento de salários de servidores públicos, disputas entre o Judiciário e o Executivo por recursos escassos, aumento da violência, etc...) é uma amostra grátis da hecatombe econômica que a destruição destrutiva produzirá no Brasil. Não será possível interromper a marcha desse fenômeno marchando, pois faltará dinheiro até para pagar o soldo das Forças Armadas.

A ganância das corporações públicas que apoiaram o golpe de estado de 2016 (Judiciário, Ministério Público e Forças Armadas) está na raiz do que ocorreu. Os membros delas conquistaram grande poder e prestígios ao derrubar Dilma Rousseff. Todavia, em pouco tempo a destruição destrutiva irá comprometer o pagamento dos salários acima do teto, das aposentadorias abaixo da moralidade, dos penduricalhos ilícitos e dos privilégios medievais que os juízes, procuradores e generais conquistaram nos últimos anos.

Valeu a pena? Nosso país já caiu para a 13a. posição entre as nações mais ricas. O tombo será ainda maior.

Ninguém deve ficar surpreso se em breve o Brasil for novamente superados pela Argentina, cuja racionalidade econômica implacável é evidente. O novo governo argentino está ocupando todos os espaços diplomáticos deixados pelo Brasil e entesourando os lucros do aumento dos negócios que os brasileiros idiotas deixaram de fazer.

Os economistas dizem que os países desenvolvidos chutaram a escada após chegarem onde estão. A escada para o desenvolvimento brasileiro estava sendo construída pelos governos PT, mas ela foi chutada antes de ser concluída. O resultado aí está. Não restará pedra sobre pedra. E a desgraceira econômica provocada pela destruição destrutiva está apenas começando.

Quando alguém resolver escrever uma história da economia daqui a 100 anos, o Brasil provavelmente será citado como um exemplo daquilo que não deve ser feito pelos países que almejam superar a miséria. Entretanto, os "manos" da CIA – que ajudaram a empurrar nosso país para o abismo aproveitando a desonestidade e as vulnerabilidades de uma elite corrupta, preconceituosa, desnacionalizada e perversa – poderão citar o Brasil como o maior sucesso de todas as sabotagens políticas e econômicas promovidas pelos EUA. Nunca os norte-americanos gastaram tão pouco e tiveram tanto lucro ajudando um país tão grande a cometer Seppuku voluntariamente.

O litoral brasileiro não teria sido conquistado pelos colonos portugueses se eles não tivessem sido auxiliados pelas tribos indígenas que foram seduzidas com quinquilharias. Desde 2016 nosso país está sendo recolonizado. Os novos índios são os jornalistas, juízes, procuradores, professores universitários, advogados, médicos, pastores evangélicos, artistas, empresários, banqueiros, etc que se sentiram ofendidos porque o PT estava conseguindo fazer aquilo que a elite brasileira desejou: acabar com a fome, diminuir a mortalidade infantil, educar a população, valorizar a democracia, fomentar o desenvolvimento econômico e colocar o Brasil entre as nações ricas e civilizadas.

A bestialidade da elite brasileira venceu. O prejuízo dos vitoriosos está apenas começando.

Fonte: GGN

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