Nota sobre o resultado da Petrobrás no 2º trimestre de 2018
Talvez a maior denúncia tenha sido no editorial “Política de preços de Temer e Parente é America first” de 12 de dezembro de 2017: Leia aqui.
O resultado alcançado pela empresa no 2º trimestre de 2018 confirma o que denunciamos.
Em relação ao 1º trimestre a receita liquida cresceu 13% (de R$ 74,5 bilhões para R$ 84,4 bilhões). O lucro bruto cresceu 18% (de R$ 26,8 bilhões para R$ 31,6 bilhões).
Conforme explicação da própria empresa “O lucro líquido de R$ 10.072 milhões comparado ao lucro líquido de R$ 6.961 milhões no 1T-2018, refletiu o aumento do market share (participação no mercado) do diesel e gasolina, devido à redução de importação por terceiros, resultando em crescimento de 6% das vendas no mercado interno com destaque para o diesel que cresceu 15%” (sic)
A recuperação do market share foi obtida após a implantação da política de subvenções do governo ao diesel, motivada pela greve dos caminhoneiros. Esta política de subvenções aumentou o risco dos comerciantes multinacionais estrangeiros (traders) que se retiraram, pelo menos no momento, do mercado brasileiro.
O mesmo efeito poderia ser obtido se a Petrobrás reduzisse seus preços e não mantivesse os preços no mercado interno acima dos internacionais, como vem fazendo. Trata-se de uma política que prejudica tanto a Petrobrás, com a perda de mercado, quanto o consumidor brasileiro, com preços desnecessariamente altos.
A Agência Estado publicou “diante da menor competição com produtos importados, o fator de utilização do parque de refino da Petrobrás no Brasil atingiu 81% no segundo trimestre deste ano, o que representa um avanço de 9 pontos percentuais na comparação com os primeiros três meses do ano e de três pontos em relação a igual período de 2017. Por outro lado, o aumento da carga processada nas refinarias pressionou a exportação de petróleo que diminuiu “ (sic)
Estranhamente, o presidente da Petrobrás Ivan Monteiro, disse que o programa de subvenção aos preços do diesel não traz impactos financeiros para a companhia, porque a companhia será ressarcida pela subvenção reporta o Valor Pro “O subsidio é uma condição de mercado que foi dada pelo governo para o óleo diesel”. Questionado se a companhia foi beneficiada pelos subsídios, devido à queda das importações pelos concorrentes, ele disse que a retração das importações foi uma “primeira reação”, mas que acredita na recuperação da participação de terceiros.
Ora, a recuperação da participação por terceiros só pode ocorrer se ele mantiver a equivocada política de preços estabelecida por Pedro Parente, onde os preços no mercado interno são superiores aos internacionais. Será que Ivan Monteiro vai manter esta política danosa para a empresa e a sociedade?
Isto nós saberemos logo, caso os traders internacionais voltem ao mercado brasileiro.
É preciso lembrar ainda que, apesar dos resultados positivos na receita liquida e no lucro bruto, o lucro operacional caiu de R$ 17,8 bilhões para R$ 16,7 bilhões, pelo efeito das varrições cambiais.
A empresa informou também que o lucro no 1º semestre de 2018 (R$ 17 bilhões) foi o melhor desde 2011.
Este tipo de afirmação é inadequado, pois fazer comparações sem verificar a existência de fatores não operacionais, e não recorrentes, na sua formação leva o leitor a conclusões erradas. É argumento falacioso.
Já na análise do resultado do primeiro trimestre de 2018, verifica-se uma forte influência positiva pela venda das acumulações de Carcara, Lapa e Iara, no montante de R$ 3,2 bilhões.
No segundo trimestre o resultado foi impactado positivamente pela renegociação da dívida da Eletrobrás, R$ 2,1 bilhões, e pelo estorno ilegal da provisão para pagamento da remuneração aos petroleiros RMNR (R$ 3 bilhões).
Para fazer comparação consistente, sem considerar eventos não recorrentes, o lucro líquido do 1º semestre de 2018 deveria ser de R$ 8,7 bilhões (17-(3,2+2.1+3.0)), inferior ao resultado do 1º semestre de 2014 de R$ 10,4 bilhões.
Mas é bom que a comparação seja feita com 2011, ano em que o subsidio da Petrobrás aos consumidores, que muitos dizem que quebrou a empresa, estava a pleno vapor. No 1º semestre de 2011 o lucro líquido foi de R$ 21 bilhões. Ocorre que as refinarias operavam com 98% da capacidade e a Petrobrás tinha quase 100% da participação no mercado.
* Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
http://www.aepet.org.br/