Coutinho: Petrobrás é resiliente diante da guerra comercial
Mas o presidente da AEPET faz fortes críticas à atual direção da empresa

Mesmo com a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China e as variações do preço do barril de petróleo, a Petrobrás segue resiliente, mas poderia desempenhar papel ainda mais estratégico na proteção da economia brasileira. Essa é a avaliação do presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), Felipe Coutinho, entrevistado nesta terça-feira (15). pelo site Petronotícias. “O Brasil e a Petrobrás reúnem as condições necessárias para proteger a economia brasileira da instabilidade do mercado internacional do petróleo e combustíveis. No entanto, para que a Petrobrás possa contribuir efetivamente para o desenvolvimento da economia brasileira é necessário que a sua direção altere suas principais políticas”, declarou. Coutinho critica a prioridade da atual diretoria dada à distribuição de dividendos, defende o uso do petróleo brasileiro para abastecimento interno, diz que a empresa ainda vende combustíveis atrelados aos paritários de importação (PPI) e aponta para um baixo volume de investimentos. “A direção da Petrobrás deveria revisar seu portfólio de investimentos, aumentar o montante para projetos que gerem valor e que possam garantir o abastecimento do mercado nacional de combustíveis aos menores custos e preços possíveis”, opinou.
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A guerra comercial entre EUA e China está entrando em um novo nível de ferocidade. Embora o governo americano já tenha recuado nas tarifas impostas a outros países, o mesmo não deve acontecer tão facilmente em relação a China. Qual o principal efeito disso para o setor de óleo e gás do Brasil, especialmente no que diz respeito aos preços dos combustíveis?
A guerra tarifária iniciada pelos EUA traz instabilidade e insegurança para o comércio internacional, desorganização das cadeias produtivas e riscos de inflação e de recessão. Nesse contexto, é provável que se observe maior volatilidade nos preços do petróleo. O Brasil e a Petrobrás reúnem as condições necessárias para proteger a economia brasileira da instabilidade do mercado internacional do petróleo e combustíveis. No entanto, para que a Petrobrás possa contribuir efetivamente para o desenvolvimento da economia brasileira é necessário que a sua direção altere suas principais políticas, notadamente a política de preços, ainda atrelados aos paritários de importação (PPI), as políticas de baixos investimentos para elevada e insustentável distribuição de dividendos e a ausência de política para maximizar o conteúdo nacional.
Caso essa guerra tenha um efeito depreciativo nos preços dos combustíveis, como ficaria a situação financeira da Petrobrás? Há motivo de temor para os acionistas?
A Petrobrás é muito eficiente, tem geração de caixa robusta e resiliente a possível redução do preço do petróleo por sua integração vertical. Apesar de, lamentavelmente, ainda não ter recuperado seu mercado na distribuição de combustíveis, com menores preços do petróleo os seguimentos do Refino, Transporte e Comercialização trazem melhores resultados e compensam a redução das margens da Exploração e Produção do petróleo e gás natural.
Há uma expectativa de recessão global e, com isso, os preços do petróleo estão caindo. Ao seu ver, o atual planejamento da Petrobrás pode ser afetado? Se sim, quais seriam os principais pontos impactados?
O plano de investimentos da atual direção da Petrobrás é tímido, incompatível com seu histórico e potencial. Existem bons projetos e outros questionáveis, como os investimentos para processamento de óleo de soja e etanol para produção de biocombustíveis em suas refinarias. A direção da Petrobrás deveria revisar seu portfólio de investimentos, aumentar o montante para projetos que gerem valor e que possam garantir o abastecimento do mercado nacional de combustíveis aos menores custos e preços possíveis.
O pré-sal se destaca pela alta produtividade, mas a Petrobras estima que seu pico de produção será atingido em cinco ou seis anos, um prazo relativamente curto. Diante disso, o senhor considera que este seria um momento decisivo para viabilizar novas reservas?
O Brasil deveria proibir, ou limitar severamente, a exportação do petróleo cru brasileiro, em especial por multinacionais estrangeiras, mas também pela Petrobrás. A gestão das nossas riquezas naturais deve priorizar o seu uso e agregação de valor no país. Evitar a exportação de recursos estratégicos e finitos, priorizar a garantia da segurança energética brasileira, aos menores custos para trazer aumento da produtividade, da eficiência e crescimento econômico inclusivo.
Contudo, a guerra comercial entre EUA e China tem o potencial de atrapalhar os planos exploratórios da companhia, sobretudo na Margem Equatorial?
Não deveria atrapalhar, é mais uma demonstração que para desenvolver nosso país devemos nos apoiar em nossos recursos naturais e trabalho. O capital estrangeiro não vai desenvolver o Brasil. Nenhum país grande e populoso como o nosso, se desenvolveu exportando matérias primas e petróleo cru, é necessário explorar nossos recursos de acordo com as nossas necessidades e agregar valor a eles.
A transição energética parece um caminho irreversível, mas já vemos grandes petroleiras e países reconsiderando seus investimentos em energia verde. O último plano da Petrobrás mostra uma empresa que continuará focada em O&G, com investimentos em renováveis ainda em fase embrionária. Como a AEPET avalia essa estratégia?
As transições energéticas são lentas, nada nos indica que dessa vez será diferente. Os fósseis, carvão, petróleo e gás natural são as principais fontes primárias de energia e continuarão a ser por décadas. É necessário pesquisar e conhecer as fontes primárias potencialmente renováveis com abordagem científica, sem dogmas e propaganda. Nos casos em que for possível gerar valor e produzir combustíveis com custos competitivos, é preciso adotar modelo de negócios eficientes e integrados verticalmente, para evitar atuação não competitiva que submeta a Petrobrás ao interesse do agronegócio e/ou das grandes corporações da logística.
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