Kocher: "Guerra só acaba quando EUA deixarem de subsidiar Israel"
Para historiador da UFF, o caminho é a negociação. "Mas é preciso criar um ambiente para isso".

O professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), Bernardo Kocher, não acha possível que a ofensiva de Israel no Oriente Médio possa ser detida sem o fim do que ele chama de "subsídio" dos Estados Unidos aos sionistas.
Kocher aponta para as raízes históricas do conflito. "Os sionistas foram se instalando numa terra onde eram minoria e que já estava habitada, ao contrário do slogan Uma terra sem povo para um povo sem terra". Segundo ele, a própria partilha da Palestina proposta pela ONU foi injusta, já que os judeus eram minoria, ficaram com 52% do território e com as terras de melhor potencial agrícola. Para ele, a aspiração dos judeus era justa, mas lembra que os primeiros sionistas pensaram em criar um estado na Argentina ou em Uganda.
Além disso, os árabes não foram responsáveis pelo que aconteceu aos judeus. "Os países árabes recusaram a proposta da ONU porque perceberam que o objetivo dos sionistas era a ampliação do território, que ficou evidente com a expulsão de 750 mil palestinos", disse, acrescentando que após a aprovação da partilha da Palestina Israel jamais respeitou as resoluções seguintes da ONU, em especial a que determinava o retorno dos refugiados.
"Num segundo momento, com a aproximação dos EUA, Israel se tornou um verdadeiro porta-aviões, em uma região de grande importância geopolítica", disse.
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Kocher enfatiza a ação nociva do imperialismo na região, a começar pelo período inglês, quando foram criados dois países (Jordânia e Iraque) para premiar "xerifes" aliados do Reino Unido na conquista da região.
"A expansão de Israel continua até hoje e o objetivo da corrente ligada ao atual primeiro-ministro é o chamado 'Grande Israel', território que vai do Egito ao Iraque".
Questionado sobre o papel da Jordânia, país também localizado em terras que eram palestinas e com 70% da população formada por palestinos (a própria rainha da Jordânia é palestina), o historiador afirmou que, embora tenha feito a paz com Israel, este último ainda é odiado na região e até o Egito poderá atacá-lo um dia. "Israel se tornou um estado sub-imperialista", define.
Sobre a aprovação que Israel obteve da União Soviética na ONU e o apoio militar dado ao país quando foi atacado em 1948, o professor da UFF pondera que os soviéticos pensaram que Israel enfrentaria o colonialismo inglês.
Apesar dos sionistas terem expulsado os ingleses, que treinaram combatentes de países vizinhos para atacar Israel após a decisão da ONU, Kocher observa que Israel acabou pendendo para o lado dos Estados Unidos e demais potências colonialistas aliadas, o que teria determinado a mudança de lado por parte da União Soviética. Ele reconhece que, sem os soviéticos, Israel não sobreviveria sem o apoio norte-americano, "mas também obteve benefícios com isso".
Como prova das benesses obtidas com o subsídio dos EUA, o historiador questiona sobre qual o país que, mesmo consumindo 20% do PIB com a guerra, consegue manter o alto padrão de vida de sua população.
"A solução tem que ser negociada, mas antes é preciso criar um ambiente para isso. E ela só virá quando os EUA e seus aliados pararem de subsidiar Israel.
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